GREVE EM ANGOLA REFLECTE DESPREZO FACE AOS TRABALHADORES DIZ MARCOLINO MOCO

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O constitucionalista e ex-primeiro-ministro angolano Marcolino Moco disse hoje que a greve geral reflecte o “desprezo” a que têm sido votados os trabalhadores, face à evolução negativa da situação económica e social em Angola.

Segundo a fonte da Lusa, Marcolino Moco falava à Lusa à margem da apresentação do livro “Compreender a Angola de amanhã… hoje”, do economista Manuel Alves da Rocha, que decorreu em Luanda.

“Acho que isso é um problema africano, de todos os países de matriz ditatorial que não querem ouvir o que se passa”, salientou o jurista, agora retirado da vida política, criticando a forma como a comunicação pública angolana tem evitado as notícias sobre a greve e defendido a posição dos governos.

Marcolino Moco sublinhou que o sistema eleitoral em Angola não viabiliza a alternância “o que faz com que quem está no poder não se preocupe com as coisas” que se têm vindo a deteriorar, alertando que os trabalhadores e a população em geral “têm limites”.

Questionado sobre se o executivo tem condições para atender às reivindicações dos sindicatos, admitiu que será difícil, “não por culpa dos trabalhadores, mas porque “criou um sistema que não permite ao país crescer e desenvolver-se” e em que todo o poder está entregue a uma só pessoa, lembrando que esse foi o motivo do seu afastamento do MPLA (partido do poder), por discordar da Constituição aprovada em 2010.

“As dificuldades são enormes, não há como responder às propostas que são feitas, mas os trabalhadores têm de pressionar”, considerou o antigo governante, recomendando ao executivo que “reforce o diálogo” e o faça de forma os trabalhadores acreditarem no Governo.

“É uma questão de credibilidade”, destacou, notando que é necessário um “plano amplo para resolver de vez o problema de Angola”, com mecanismos de fiscalização e de controlo das acções do executivo e um sistema eleitoral que permita a alternância para “viabilizar o avanço do país”.

Angola iniciou na quarta-feira a sua segunda greve geral desde 1998, e a primeira com a participação das três centrais sindicais.

Sindicatos e Governo não se entendem sobre questões relacionadas com o aumento do salário mínimo e dos salários da função pública, mas ambas as partes se manifestam disponíveis para continuar a negociar.

Segundo os sindicatos, o primeiro dia desta greve interpolada contou com 95% de adesão e ficou também marcado pela detenção de grevistas e queixas de ameaças e coação.

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