OS 26 BURACOS DA ESTRADA – CATETE – LUANDA – FERNANDO PAIVA

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Para concluir a minha viagem que começou na vila do Golungo Alto (eu continuo a preferir chamar-lhe vila apesar de hoje ser uma cidade, sede de um município), contei os buracos da terceira e última etapa da estrada Golungo Alto – Luanda, com início na vila (cidade) de Catete e término no morro da Maianga, esse mesmo “das noites de luar lá no morro da Maianga”, do poeta Mário António Fernandes de Oliveira, um dos poetas mais talentosos e mais injustiçados de Angola. Felizmente tivemos o músico e trovador Rui Mingas que apesar de ter sido toda a vida do MPLA, no que toca a cantar e a musicar os poemas dos seus contemporâneos não era de discriminações.

Como sabem este troço de estrada, que brevemente se tornará um pesadelo, quando o Aeroporto Internacional de Luanda começar a funcionar (eu prefiro chamar-lhe AIL, apesar do nome mais que repetido que lhe impuseram, uma vez que eu sou da velha escola e como tal aprendi com os meus mais velhos, que “tudo o que é demais cheira a alhos”.

Bem, como dizia, este troço de estrada, que sai do meu Ngulungu e acaba na minha Maianga, integra a famosa estrada de Catete, uma estrada nobre que sofre muitas intervenções, mas nenhuma manutenção.

Verdade seja dita que nas minhas viagens deveria ser o meu paraíso, o troço de estrada que eu não tenho problemas em fazer de noite, apesar da falta de iluminação, e da falta de fiscalização por parte de quem de direito. A questão é que quando saio do Ngulungu já depois das 16 horas, eu sei que preciso de vencer rapidamente os 977 buracos que me separam de Kambondo (primeira etapa) e os 1870 buracos de Kambondo a Catete (segunda etapa), e a partir daí poder gozar de uma certa tranquilidade porque a estrada já é boa (é melhor dizer, aceitável).

A estrada de Catete a Luanda já foi reabilitada, reconstruída, refeita ou o que seja, há alguns anos e até muito recentemente era uma pista. Só que, como não há bela sem senão, ela também começou a mostrar algumas fracturas e a ter uns buracos. Os primeiros são logo a saída de Catete no local onde era a FertiAngola, que infelizmente fechou alguns meses depois de ter aberto. Mais adiante em frente à Cerâmica que fica antes da subida para a John Deere há mais algumas crateras que ninguém se preocupa em tapar. E por aí fora…

Muceque Baia, Km 38, o novo desvio para o AIL, Km 35, Km 30, Viana, Km 25 (cruzamento com a circular de Luanda a que alguém, em sinal de reconhecimento,  resolveu chamar Fidel Castro apesar do barbudo nunca ter permitido que na sua Cuba natal, o seu nome fosse usado para baptizar qualquer monumento (não sei como é agora que o homem se finou e toda a gente lhe perdeu o medo).

Como toda a gente sabe, este troço que tem apenas 56 Km apesar de ser o que tem menos buracos, acaba por ser o mais perigoso, devido aos inúmeros pedestres que atravessam a estrada sem usar as pedonais, algumas vezes mesmo por baixo delas, e por mais barreiras que o estado construa, eles continuam a atravessar a estrada à frente dos milhares de carros que usam essa via e a saltar a barreira central.

Só para vossa informação, há dias vi algumas pessoas a saltarem a nova barreira, construída mais alta do que o habitual,  já com o objectivo de impedir a sua travessia, uma mulher com um kandengue nas costas a pular a vedação (embora nós angolanos sejamos atletas naturais, devíamos ter um bocado mais de respeito pela vida dos nossos filhos, já que não temos  nenhum respeito pela nossa).

Como dizia o número de acidentes com peões nessa via é enorme e são raras as ocasiões que eu passe por lá que o trânsito não esteja parado ou seja dificultado pelos atropelamentos que se verificam devido à indisciplina dos nossos compatriotas. Enfim, os 56 Km de boa estrada com apenas 26 buracos, acabam por ser os mais lentos da jornada devido aos engarrafamentos e as travessias de peõe e esse troço que em circunstâncias normais deveria ser feito em 30 minutos, acaba por se fazer em mais de 60 minutos.

Concluída a nossa jornada e para sumarizar temos 977 buracos do Ngulungu a Kambondo, 1870 de Cambondo a Catete e 26 de Catete a Luanda, o que perfaz a módica quantia de 2873 buracos para um trajecto de 188 Km, o que nos dá uma média de 15 buracos por Km, e um trajecto que poderia ser feito em 2H30;, acaba por durar quase o dobro do tempo, 4H30M para ser mais preciso.

Só mesmo um cidadão que não tenha outra alternativa é que se mete nesses trabalhos, quanto mais um turista que até goste de “poeira e lama”.   Falei e disse o que me vai na alma, puz o chapéu e bazei…

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