“ANGOLA PRECISA DE AGIR COM EQUILÍBRIO E DIPLOMACIA” – MARIA LUÍSA ABRANTES
A jurista Maria Luísa Abrantes, co-fundadora do US/Africa Business Center da US Chamber of Commerce, falou ao Novo Jornal sobre as expectativas para o encontro entre os Presidentes Joe Biden e João Lourenço, que decorre esta quinta-feira, 30, na Casa Branca.
NJ – Quais são as expectativas em relação ao encontro desta quinta-feira, 30, na Casa Branca, entre os Presidentes Joe Biden e João Lourenço?
MLA – Os principais tópicos do encontro entre aos os Presidentes Joe Biden e João Lourenço já foram anunciados .
– Angola para além de uma situação geográfica em África privilegiada , é o 3o. parceiro comercial na África Subsaariana dos Estados Unidos , para onde exporta petróleo e fez excelentes encomendas aos EUA por ajuste directo, que serão garantidos pelo Estado . Não foi por acaso que o Presidente José.Eduardo dos Santos, foi recebido na Casa Branca , por todos os Presidentes americanos durante os seus mandatos e que conseguiu estabelecer relações bilaterais diplomáticas com os EUA há 30 anos .
O Presidente João Lourenço já não conseguiu encontrar-se com o Presidente Trump. O encontro tardio entre os Presidentes João Lourenço e Joe Biden , após o aperto de mão durante a recepção oferecida pelo último , aos Chefes de Estado Africanos Dezembro de 2023; já há muito se fazia esperar . Só não aconteceu antes, apesar de todos os esforços envidados ,sobretudo pela aproximação iniciada pela US/Africa Business Center da US Chamber of Commence, de que sou co-fundadora , desde a tomada de posse do Presidente João Lourenço em 2017, possivelmente pelas dúvidas sobre o interesse das empresas americanas , devido à situação econômica .
Essa situação foi agravada pela sansao imposta pelo Senado Americano, não permitindo vender dólares a Angola .
A situação poder-se-ia ter adensando , com o resultado das eleições angolanas pouco transparentes , não sendo todavia esse o factor de maior importância para os americanos.
A política externa dos Estados Unidos de América é voltada em primeiro lugar, para a segurança do seu território e dos seus contribuintes, ( poderão ser apenas residentes ) , mas em especial dos cidadãos americanos ” Americans first “‘, em qualquer parte do mudo .
Em segundo lugar , defendem os seus interesses econômicos , privilegiando o aumento do número de postos de trabalho para os americanos , ” jobs for Americains “, protegendo o sector privado , o retorno pela cobrança dos impostos e o crescimento do seu produto interno bruto . O Presidente Biden está a menos de um ano das eleições Presidenciais e precisa de aumentar o número de empregos , com as encomendas por ajuste directo . Por outro lado , se já recebeu 68 vezes o Presidente chinês Xi Jinping , a que chamou de “ditador” minutos depois do o ter recebido cordialmente , porque não receber o Presidente João Lourenço no final do seu Mandato?
NJ – A Administração Biden tem feito vários investimentos no nosso país em sectores como o transporte (Corredor do Lobito) e energias renováveis, tornando Angola numa peça de relevo da estratégia dos EUA para África. Qual é a sua opinião sobre esta estratégia?
MLA – É preciso distinguir investimentos de financiamentos . Os EUA através do EXIMBANK financiará investimentos angolanos , não constituindo investimento que pressupõe risco . Isto é; emprestará dinheiro , para que Angola adquira e pague os equipamentos e a prestação de serviços americanos , cujas garantias por norma são assegurados pelo Estado angolano . Aconteceu o mesmo no passado com financiamentos similares . No caso da segunda aquisição de aviões Boing , o EXIM BANK por sua vez , fez uma parceria com o Barclays Bank no Reino Unido , com garanta bancária oferecida pela representação da SONANGOL em Londres e num posterior financiamento, o EXIM BANK negociou uma parceria ( engenharia financeira) com um banco no Canadá ,
NJ – Há também a questão do posicionamento estratégico dos EUA em Angola para travar a influência da China e da Rússia em África. Concorda ?
Concordo que haja um possível interesse dos EUA relativamente as relações comerciais com a China e as relações militares com a Rússia. No passado , no tempo do Presidente José Eduardo dos Santos, houve sugestões, de que o Governo angolano poderia solicitar ao Governo chinês , a utilização de parte do financiamento bilateral , para a aquisição de equipamento e serviços de empresas americanas , o que foi rejeitado .
NJ – Esta estratégia de João Lourenço de aproximação aos EUA significa necessariamente um afastamento em termos políticos e diplomáticos da Rússia e da China?
4. Não creio que o Presidente João Lourenço se queira afastar da Rússia , ou da China . Isto porque, até o Presidente Biden , tudo tem feito para manter uma cooperação bilateral saudável com a China , um dos seus principais credores e o melhor equilíbrio político com a Rússia .
Todavia , Angola para além do petróleo que começa a escassear , por falta de investimento no sector, não é um grande mercado em número de consumidores , que faça concorrência a qualquer um desses países . Assim , o Presidente João Lourenço se não actuar com equilíbrio e diplomacia , não terá a mesma margem de manobra que qualquer um dos três países mencionados . Se ficar ” em cima do muro ” , corre risco de poder ter uma ” queda” e “lesionar-se “.
NJ – O combate à corrupção, a diversificação da economia e a atracção de investimentos são algumas das bandeiras do Executivo angolano. Terá João Lourenço resultados práticos para convencer Joe Biden ?
5. Tal como todos os angolanos, o Presidente Biden , assim como o Presidente Trump tiverem conhecimento dos pronunciamentos do Presidente João Lourenço, relativos à luta contra a corrupção , copiando o slogan Partidário do Presidente José Eduardo dos Santos . Estávamos esperançados , de que não haveria apenas prisões. arbitrárias selectivas e que o combate à corrupção seria sério.
Não acredito que o Presidente Joe Biden não saiba , que a corrupção em Angola existe e não diminuiu.
Quanto à diversificação da economia e a atratividade ao investimento americano , só depende da melhoria de gestão da economia, o que só se lograria com a remodelação completa do Executivo . Tenho sérias dúvidas que aconteça , porque não há ambiente propício para o investidor privado arriscar o seu próprio dinheiro e muito menos endividar-se sem garantia de retorno . O Presidente João Lourenço terá que convencer os empresários privados estrangeiros, entre os quais os americanos , com factos que não existem. Seria necessário que começasse por viajar por via terrestre , em vez de utilizar só o transporte aéreo.