SELECÇÃO ANGOLANA ENTRE A URGÊNCIA DO RESULTADO E AS DÚVIDAS DO PROJECTO

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Há perguntas que insistem em regressar sempre que Angola entra numa grande competição africana. E, curiosamente, quase nunca têm a ver apenas com resultados. Têm a ver com escolhas, com decisões e, sobretudo, com a incapacidade crónica de respeitar a continuidade.

Alguns críticos dizem e não sem razão  que Angola estava numa fase avançada de construção de uma selecção. Já não era um conjunto improvisado. Havia jogadores que se entendiam “de olhos fechados”, rotinas consolidadas, ideias de jogo assimiladas e um grupo que, sob a liderança de Pedro Gonçalves, começava a apresentar identidade própria. Não era uma selecção perfeita, mas era uma selecção em crescimento.

Era precisamente nessa altura, quando se esperava que este CAN de Marrocos fosse o palco da afirmação, que alguns dizem que a Federação Angolana de Futebol “decidiu interromper” o projecto e iniciar outro. Um novo ciclo, novas ideias, novos discursos. Para os mais cépticos, o desfecho era previsível. Apostar num recomeço às vésperas de uma grande prova quase sempre é apostar no fracasso.

O CAN veio confirmar os receios. Angola perdeu na jornada inaugural diante da África do Sul, por 2-1, num jogo em que voltou a mostrar fragilidades defensivas e pouca maturidade nos momentos decisivos. Na segunda jornada, empatou 1-1 frente ao Zimbabwe, resultado que deixou a selecção a fazer contas difíceis e com margem de erro praticamente inexistente.

Esta segunda-feira, 29, os Palancas Negras enfrentam o Egipto, líder do grupo B com seis pontos. Uma missão inglória, diante de uma selecção experiente, pragmática e que raramente perdoa. As hipóteses de apuramento de Angola são diminutas e o cenário de um regresso precoce a casa é cada vez mais real.

E a pergunta impõe-se: o que se passa com os Palancas Negras? A resposta não está apenas no relvado. Está fora dele. Está na incapacidade de aprender com o passado recente. Na edição anterior do CAN, Angola foi mais longe. Na campanha de apuramento para esta fase final, o percurso foi sólido, convincente, até elogiado. Havia sinais claros de evolução.

Mas, em Angola, a política da continuidade continua a ser tratada como um risco, quando deveria ser vista como uma virtude. Preferimos destruir para reconstruir, mesmo quando a casa ainda não estava pronta, mas já tinha alicerces firmes.

A selecção entra amanhã em campo mais uma vez, carregando não apenas o peso de um jogo decisivo, mas também o fardo de decisões que não foram tomadas no tempo certo. Ganhar ou perder diante do Egipto será apenas o capítulo final de uma história maior.

A verdadeira questão permanece: até quando vamos continuar a estragar a política da continuidade?

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