“MORRERAM NA ESQUADRA ESPANCADOS POR AGENTES DA PN E FALSIFICARAM A AUTOPSIA” ACUSAM FAMILIARES

Dois cidadãos, identificados como Hilário Jorge, de 27 anos, e Adriano Capingano, de 37, perderam a vida após alegado espancamento por agentes da Polícia Nacional, enquanto se encontravam detidos na Esquadra 37 do Comando Municipal de Cacuaco, em Luanda. Ambos os homens foram detidos sob acusação de roubo de um telemóvel, uma acusação que os parentes classificam como infundada.
ANNA COSTA
Segundo a esposa de Hilário Jorge, o telemóvel em causa acabou por ser encontrado com outra pessoa, mas, ainda assim, os detidos continuaram sob custódia e foram severamente agredidos.
“Fui informada por volta das 12 horas de quarta-feira que o meu marido estava detido. Quando cheguei lá, ele disse-me que era inocente e que o telemóvel já tinha sido encontrado com outra pessoa. Mas já tinham lhe espancado muito”, contou, entre lágrimas.
A mulher afirma que tentou diversas vezes solicitar junto da polícia para que libertassem o marido, que já apresentava sinais de febre e inflamação, mas só após a morte de um dos detidos é que as autoridades deram a liberdade aos jovens.
“Levaram o outro jovem morto para a morgue. O meu marido, lhe meteram um saco preto na cabeça e lhe deixaram na autoestrada. Meu marido é que pagava a renda de casa, é que dá sustento na casa, temos dois filhos, eu não trabalho. Minha mãe já é falecida não deixou nada para nós, eu quero justiça”, disse ao gritos.
VERSÃO FAMILIAR APONTA PARA NEGLIGÊNCIA POLICIAL
Segundo os familiares, tanto Hilário como Adriano nunca tiveram antecedentes criminais e sempre foram cidadãos pacíficos. No entanto, teriam sido tratados como altamente criminosos, com fortes torturas, com as pernas e as mãos amarradas.

A denúncia inclui ainda que agentes da esquadra 37 terão recusado ouvir os familiares, alegadamente por ligação da amizade entre o queixoso (dono do telemóvel) e elementos da polícia.
Os parentes também alegam que os agentes teriam pedido 50 mil kwanzas para libertar os detidos, quantia que as famílias tentavam reunir no momento em que um dos jovens acabou por falecer, dentro da esquadra.
“Quando o meu irmão adoeceu, a polícia lhe fazia automedicação dentro da cela, sem lhe levar ao hospital. Depois que ele morreu, nos informaram que ele morreu a caminho do hospital, mas não é verdade, ele já chegou morto.
De acordo com os familiares de Adriano, para completar na mentira o atestado de óbito indica que seu ente querido morreu em casa, porém a autópsia apontou morte por traumatismo com objecto contundente”, explicou o irmão de uma das vítimas.

Uma das testemunha do incidente contou que , após o telemóvel ser encontrado, os amigos do malogrados entraram em pancadaria com os amigos do acusador o que originou na detenção dos dois primeiros acusados, após uma ligação do dono do telemóvel identificado por Calili, alegadamente amigo da polícia.
Hilário, visivelmente desfigurado pelas pancada, morreu quatro dias após a morte de Adriano numa unidade hospitalar.

Diante do sucedido, os familiares apelam à intervenção da Procuradoria-Geral da República, do Ministério do Interior e de organizações de defesa dos direitos humanos, exigindo justiça pela morte dos dois jovens.
Em observância ao princípio do contraditório, o Jornal Hora H contactou o comandante municipal de Cacuaco, que se recusou a prestar declarações, tendo indicado, por mensagem, que o porta-voz da Polícia Nacional, Nestor Goubel, poderia pronunciar-se sobre o assunto. No entanto, até ao fecho desta edição, Goubel não atendeu às chamadas nem respondeu à mensagem enviada.