ANGOLA NO COMANDO DA UNIÃO AFRICANA… UNIÃO OU APENAS CARGO? – JONAS “MUATA DA PAZ” MULATO

O Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro em Luanda foi palco de um grave incidente diplomático causado unicamente pelo senhor “Ordens Superiores”, que, na violação sistemática de liberdades, infringiu tudo o que é possível, usando as instituições do Estado — que devem defender e atender os interesses de todos os angolanos — para barrar ilegalmente várias figuras políticas mundiais, nomeadamente: o antigo presidente da República do Botsuana, Ian Khama, o antigo Presidente da Colômbia, Andrés Pastrana, o antigo primeiro-ministro do Lesotho, Moeketsi Majoro o Vice-presidente do Zanzibar, Othman Massoud, dentre outras figuras de destaque e renome político, como Venâncio Mondlane.
O Presidente da República de Angola, João Lourenço, assumiu a presidência rotativa da União Africana a 15 de fevereiro de 2025 e, volvidos menos de um mês, a 13 de março de 2025, aproveitou para presentear África com um acto que evidencia como o continente estará dividido durante o seu mandato. Para nós, angolanos, não foi uma novidade, porque nos últimos oito anos, desde 2017, temos vivido num país de exclusão, divisão e recessão social.
Na data do 59º aniversário da fundação da UNITA, o partido no poder decidiu, mais uma vez, usar as instituições do Estado contra toda a ética política desejável, utilizando os Serviços de Migração e Estrangeiros (SME), o Protocolo de Estado e instituições afins, para humilhar irmãos africanos e não só, num acto de arrogância. Os resultados negativos desse comportamento já começam a aparecer, como o facto de que a resolução do conflito na RDC pode estar a encontrar caminhos no Médio Oriente. No dia 18 de março de 2025, vimos o Presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, e o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, sentarem-se frente a frente pela primeira vez no Qatar, após o Presidente João Lourenço tentar várias vezes, mas sem sucesso, intermediar esse diálogo. Por outro lado, o apoio público de Nicolás Maduro, ditador venezeluano ao ocorrido a 13 de Março de 2025, também é um sinal inequívoco de que tipo de companhia o Presidente angolano está rodeado. Segundo a imprensa venezuelana, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, Yvan Gil, através de uma conversa telefónica com o seu homólogo Tete António expressou a sua solidariedade ao governo Angolano por ter barrado os delegados a conferência internacional.
O “campeão da paz”, o Presidente da (Des)União Africana, e todos os títulos que seus assessores possam inventar, não tem credibilidade, nem vestígios de ajudar a conciliar e harmonizar o seu próprio país. Ele dirige um partido-estado que usa todos os meios, inclusive as leis, contra o seu próprio povo, forçando até o sistema judicial a agir contra os seus opositores políticos. Esse é o retrato do senhor que todo o continente e o mundo veem. E essa é uma das maiores causas do afastamento do investimento estrangeiro, e não, como querem fazer crer, que são os opositores políticos que têm feito propaganda negativa do país.
Os mais de 20 delegados da conferência internacional da Plataforma de Africanos Democratas barrados no aeroporto internacional 4 de fevereiro, incluindo cidadãos de nacionalidades queniana, ugandesa, tanzaniana, etíope, norte-americana, alemã, britânica, sul-africana e moçambicana, participaram de um evento co organizado pela UNITA.
O evento abordou um dos tópicos mais relevantes do momento: “A Luta Global entre a democracia e a autocracia”, e o regime angolano fez o favor de oferecer uma experiência prática de autocracia. É nesse cenário de crescente repressão e de um governo que se distancia cada vez mais dos ideais de inclusão e democracia, que a luta da UNITA continua a fazer sentido.
Desde 1966, o partido defende a democracia para Angola, e isso fica claro no Projecto de Muangai, que exalta a democracia e liberdade de forma inequívoca:
“1-LIBERDADE E INDEPENDÊNCIA TOTAL DOS HOMENS E DA PÁTRIA MÃE;
2- DEMOCRACIA ASSEGURADA PELO VOTO DO POVO ATRAVÉS DE VÁRIAS PARTIDOS POLÍTICOS;
3-SOBERANIA EXPRESSA E IMPREGNADA NA VONTADE DO POVO DE TER AMIGOS E ALIADOS PRIMANDO SEMPRE PELO INTERESSE DOS ANGOLANOS;
4-IGUALDADE DE TODOS OS ANGOLANOS NA PÁTRIA DO SEU NASCIMENTO;
5-NA BUSCA DE SOLUÇÕES ECONÓMICAS, PRIORIZAR O CAMPO PARA BENEFICIAR A CIDADE.” (Estatutos da UNITA)
Volvidos 59 anos, a luta da UNITA continua actual e mais necessária do que nunca. O partido é sem dúvidas em Angola o símbolo de resistência, que defende a liberdade e os direitos fundamentais dos Angolanos, diante de um regime que privilegia o autoritarismo. A UNITA não é apenas uma voz de oposição, mas a representação de um ideal de democracia que os angolanos tanto desejam. A luta não tem sido fácil, mas volvidos os 23 anos de paz, o partido tem cada vez mais demonstrado determinação, promovendo discussões essenciais sobre o futuro do país e da África.
Angola precisa de todos os seus filhos para erguer-se como uma nação verdadeiramente democrática e plural. É fundamental que a sociedade angolana desperte para a realidade política e económica do país, assumindo um papel activo na luta por uma Angola justa e próspera. A mudança não virá de forma espontânea, mas sim da consciência e da participação cidadã. Cabe a cada um de nós, em todos os sectores da sociedade, rejeitar a passividade e abraçar a responsabilidade de construir um futuro onde a liberdade e os direitos são garantidos para todos.
Em Luanda, aos 20 de Março de 2025.