NO UÍGE: JOSÉ CARVALHO DA ROCHA “IMPOTENTE” PARA TRAVAR COMÉRCIO DESORGANIZADO NA CIDADE E TRANSFORMA-SE NUM AUTÊNTICO KINSHASA

As ruas da cidade do Uige estão tomadas por vendedores ambulantes desorganizados, que ocupam as calçadas e prejudicam a venda de comerciantes que trabalham de forma legalizada no centro da cidade.

FRANCISCO MWANA ÚTA

O problema, apesar de antigo, está tomar grandes proporções alarmantes, pois alguns vendedores já utilizam o comércio para vender produtos proibidos pelas autoridades.

Nesta cidade, a invasão de comerciantes ambulantes nos passeios, não é preocupação das autoridades. A fiscalização não se posiona nos locais de maior concentração de ambulantes, para impedir o surgimento de novos mercados informais nas vias públicas.

A rua de Comércio, Zona Industrial, Praça do Dunga, proximidades do plácio provincial, são os principais pontos da venda informal, na cidade do Uige.

 “Este é um autêntico Congo Democrático (RDC) elas (as pessoas) se instalam nas portas das casas, quintais, calçadas das ruas e atrapalham muito as vendas nos sítios legalizados. A situação piora a cada dia, pois está aumentar a desorganização”, diz Mafuta Domingos, vendedora no mercado municipal do Uíge.

 O cotidiano dos vendedores ambulantes na cidade do Uige é uma representação vívida da resiliência e determinação dos seus habitantes. Nas ruas movimentadas, esses trabalhadores enfrentam desafios diários em busca do sustento.

 Os vendedores ambulantes na cidade do Uige começam o dia cedo, preparando seus produtos para venda. Muitos percorrem longas distâncias a pé, carregando mercadorias variadas. A mobilidade é a chave para o sucesso neste sector; os vendedores não possuem um ponto fixo de venda, mas caminham pelas ruas, oferecendo seus produtos directamente aos potenciais clientes.

 Uma das principais estratégias dos vendedores ambulantes é a demonstração directa de seus produtos. Caminhando pelas ruas, eles mostram suas mercadorias, destacando suas qualidades e utilidades.

 Hoje, na cidade do Uige, os vendedores ambulantes estão mais ousados. Partilham a faixa de rodagem com os carros e motorizadas. Arriscam as suas vidas, criam embaraços ao trânsito e grandes transtornos aos automobilistas.

 A desordem, por sua vez, dá margem para o aparecimento de relações conflituosas entre pedestres, ambulantes e comerciantes legalizados.

 A administração municipal também deve estar atenta para a desfiguração do espaço público que a presença de ambulantes de maneira não organizada pode proporcionar.

 O combate à venda desordenada nas ruas da cidade do Uige, uma das apostas da administração municipal e do Executivo local, tem sido um desafio marcado por falhas.

 Mesmo com a imposição de medidas coercivas, a venda informal continua a crescer em várias áreas da cidade, evidenciando a falta de infraestruturas adequadas para abrigar comerciantes e compradores.

 “O que falta nesta cidade é estender as mercadorias nas portas de quarto de banho. O comércio está em todo lado e desorganizado, sob olhar das autoridades competentes é notória”, desabafa, Costa Cafuma de Almeida, vendedor no bairro Dunga.

 “O que se passa aqui no Uige, nem já na República Democrática do Congo, onde o comércio é uma desordem não é assim”, acrescenta o vendedor.

 A falta de praças de mercado oficiais, que ofereçam condições seguras e adequadas, está entre os fatores que contribuem para o fracasso das políticas de reordenamento.

 A administração municipal do Uige fracassou, até aqui, no projecto de reorganização do comércio informal. É que não conseguiu acabar com a venda nos passeios da cidade.

 O sociólogo Armando Suka diz que é preciso haver um estudo e cautela para controlar o fenómeno, que é fonte de renda de muitas famílias.

 “As autoridades do município deram o braço a torcer e os vendedores ganharam a guerra. O comércio informal está muito forte na cidade do Uige”, refere Armando Suka.

Nesta urbe, as pessoas ganham o seu pão de cada dia em locais considerados impróprio para o comércio.

“Já estamos acostumados às perseguições da fiscalização porque não nos querem aqui. Quando aparecem, carregamos nossos produtos e fugimos até eles saírem”, disse o vendedor Rui Paka.

As autoridades da cidade do Uige têm vindo a implementar novas restrições ao comércio ambulante, uma actividade vital para a subsistência de muitos angolanos, sobretudo mulheres conhecidas como zungueira.

Esta medida proíbe a venda ambulante de uma ampla variedade de produtos, incluindo alimentos perecíveis e medicamentos, mas mesmo assim, a situação nada alterou.

 “O comércio ambulante não só proporciona uma fonte de renda para milhares angolanas, mas também desempenha um papel crucial na oferta de conveniência e diversidade de produtos aos consumidores”, defende o sociólogo António Taby, frisando que desde que é feito organizadamente.

 O mercado informal na cidade do Uige, abrange uma grande diversidade de actividades, incluindo vendedores ambulantes, pequenas barracas de comida, prestadores de serviços informais, como reparadores de eletrónicos, cabeleireiros, entre outros.

 As autoridades da província do Uige enfrentam o desafio de equilibrar a necessidade de regulamentar o mercado informal com a de apoiar aqueles que dependem dele para sobreviver.

“O mercado informal na província do Uige tem um impacto significativo em várias áreas. Apresenta a solução para muitas famílias mas também tem alguns desafios. Por isso,  tem impactos tanto positivos como negativos”, explica o economista Pirre Sebastião.

“O mercado informal é uma fonte crucial de emprego e subsistência para muitos angolanos, especialmente para quem não tem acesso a oportunidades formais de emprego. Isto ajuda a reduzir a taxa de desemprego e a pobreza em algumas comunidades.”, referiu.

Um outro economista Santos Kibelo, entende que os mercados da cidade do Uige constituem, a par da venda ambulante, o espaço onde um grande número de agentes (um número que deverá exceder consideravelmente a cifra oficial) encontra ocupação e obtém os rendimentos que contribuem para a sua subsistência e das respectivas famílias.

 “A sua importância remete não apenas para a dimensão económica e social, mas também para a dimensão sociocultural, uma vez que estamos em presença de instituições concretas com história e com presença marcante no imaginário da sociedade uigense” fisou.

 “A inexistência de uma orientação política especificamente direccionada para o informal, a promoção de acções casuísticas, e uma atitude oscilante, ambígua e ambivalente, entre a repressão e a tolerância têm sido alguns dos traços caracterizadores da relação entre o Estado e a economia informal no contexto angolano”, acrescentou.

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