ANA DIAS LOURENÇO E A INSPIRAÇÃO KAMALA HARRIS

João Lourenço trouxe um novo estilo de governação, em que as mulheres assumem um grande protagonismo, ocupam cargos de destaque em órgãos dos poderes Executivo, Legislativo, Judicial, nas forças de defesa e segurança e nas estruturas do MPLA.

“O MPLA continua, verdadeiramente, apostado em promover os jovens e a mulher, tanto no seio do partido como nas instituições do Estado. Poucos países valorizam tanto o papel que o jovem e a mulher desempenham na sociedade, ocupando os mais altos cargos da hierarquia do partido e do Estado, como nós o fazemos”, assumiu João Lourenço, que procurou, desde o início, dar um “toque feminino” à sua governação, tudo dentro de uma estratégia de melhor gestão e manutenção do poder.

“Que não se ponha na rua mais nenhum abusador! Não podemos permitir isso na nossa sociedade. Não podemos permitir isso em Angola”, afirmou a Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço, durante a mesa-redonda sobre “A Saúde Sexual e Reprodutiva dos Jovens e o Combate à Violência Baseada no Género”, promovido pela Organização das Primeiras-Damas Africanas para o Desenvolvimento (OPDAD), acto que marcou o início da campanha “Somos Todos Iguais”.

A emoção e o pronunciamento de Ana Dias Lourenço provocaram um grande impacto mediático, sendo que o assunto de abuso sexual de menores se tornou num dos temas debatidos e abordados nos órgãos de comunicação social, assim como na internet. Depois disso, a Primeira-Dama procurou marcar a agenda mediática nacional com acções e intervenções em vários eventos. Ela faz parte da equação e da estratégia em avançar-se para diferentes cenários de governação. Há aqui também um efeito Kamala Harris que poderá ter incentivado a nossa “Manana”.

Kamala Harris avançou face à desistência e incapacidade física de Joe Biden, sendo que aqui Ana Dias avançaria numa estratégia de impossibilidade constitucional do actual PR. Tem trajectória partidária e experiência governativa, sobretudo no período em que foi ministra do Planeamento no Executivo de JES (1999-2012), mas antes tinha sido vice- ministra do mesmo pelouro (1997-1999). Isso pode garantir-lhe aceitação no partido e por parte dos membros do Executivo. O facto de pertencer à família ‘Dias dos Santos’, uma das mais influentes na estrutura governativa e partidária, pode ser fundamental para criar harmonia e consenso em torno de uma eventual candidatura feminina. Também ajudaria a acalmar e a obter o apoio do parente Fernando da Piedade Dias dos Santos.

A estratégia de aposta ou avanço no género de João Lourenço passa, igualmente, pela aposta numa ‘figura jovem feminina’. É alguém que está a ser preparada, trabalhada e colocada já a movimentar- -se nos meandros do aparelho do partido. “Ainda não está dentro da estrutura do Executivo para não ser exposta ou pressionada. O Chefe quer que ela ganhe experiência e trajectória política. Tem sido bem acompanhada e orientada, é uma espécie de seu talismā ou arma secreta”, avançam fontes do NJ.

A ‘paixão americana’ na estratégia de continuidade

João Lourenço tem procurado mostrar aos EUA que é um parceiro sólido, estável e de confiança. Dá-lhe abertura a investi- mentos em termos de transição energética, no Corredor do Lobito e também na cooperação militar. Os EUA vão apoiar o seu Executivo na estratégia de segurança alimentar não só pela via do fomento à produção agrícola, mas também pela construção de silos para armazenamento de produtos em todo o País. A livre circulação de pessoas e bens também faz parte da estratégia da Casa Branca para Angola, sendo que estradas e pontes (essas ultimas em número considerável) serão reabilitadas em todo Angola com financiamento americano.

A modernização da RNA também faz parte da carteira de investimentos dos EUA em Angola, em valores que fontes do NJ apontam para cerca de 40 milhões de dóla- res. Os EUA estão empenhados em apoiar Angola na transição energética, apoiando os diferentes projectos de instalação de painéis solares pelo País. Nas telecomunicações, a Africell vai aumentando a sua in- fluência e afirmação no mercado (mais devagar do que se esperava) e com a orientação estratégica de não comercializar produtos da marca Huawei da China. A cooperação militar com os EUA começa a estar cada vez mais fortalecida e alargada.

Angola é, para os EUA, um actor para a paz, segurança e desenvolvimento na região Austral de África. João Lourenço é o bom amigo e parceiro dos americanos, e essa paixão americana’ pode ser um bom ‘salvo-conduto’ apara a sua estratégia de continuidade. Ele garante abertura, estafibilidade e investimento aos EUA, permite-lhe penetrar e ter influência num mercado onde a China e a Rússia já operam, permite-lhes ir reduzindo a in- fluência desses países em Angola.

Se os EUA, em função dos seus interesses e estratégias, considerarem que um terceiro mandato de João Lourenço é viável e necessário, o resto dos países do Ocidente alinha e o maior partido na oposição vai ‘engolir o sapo’. Para o actual PR, a estratégia de continuidade não está fora da equação, precisa é de estar alinhada, apoiada e enquadrada numa intensa e frenética…. paixão americana. Aguardemos! Novo Jornal

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