No dia 28 de Outubro de 2022, a Euronews, uma rede de estações televisivas de informação pan-europeia, que publica textos pagos, prognosticava um futuro risonho à TAAG.

“Com uma nova direcção, uma nova parceria com a Iberia, novos destinos no horizonte e uma firme aposta em fazer de Luanda um hub global para o transporte de mercadorias, o futuro da TAAG promete”, antevia.  

Intitulado “O renascimento da TAAG: companhia aérea de Angola tem nova chefia, rotas e aliança global”, o texto encomendado à Euronews saudava, deste modo, a nomeação do espanhol Eduardo Fairen para a presidência da Comissão Executiva da transportadora aérea nacional.

Atribuindo ao espanhol “décadas de experiência na gestão de companhias aéreas na América Latina e Espanha”, a Euronews assegurava, já,  que o novo executivo, que mal tinha aquecido o lugar, “e a sua nova equipa estão a transformar a TAAG”.

Sem modéstia, o próprio Fairen reclamava para si enormes feitos na carreira.

“Tive a oportunidade fantástica de lançar companhias aéreas de sucesso e também de reestruturar transportadoras mais antigas. Tive também a oportunidade de ter colaborado, e de apreciar a colaboração, com equipas fantásticas que nos permitem alcançar esses objectivos. Estamos todos alinhados com o objectivo muito simples: queremos jogar no campeonato.”

Em pouco mais de um ano, Eduardo Fairen arruinou completamente a imagem da TAAG. Atrasos e cancelamentos sucessivos e sem prévio aviso aos passageiros tornaram-se marca da empresa.

Uma das primeiras decisões que tomou, mal lhe foi entregue a gestão da TAAG, foi afastá-la  da sua mais lucrativa rota internacional (Luanda – Lisboa), confiando-a à HIFLY, uma obscura empresa que estava técnica e financeiramente à beira da falência. 

Em tempo oportuno, alertamos nesta página que desde que tomou conta da gestão da companhia aérea pública angolana, Eduardo Fairen não tem disfarçado os seus propósitos de desmantelar a TAAG. “Para inicio de conversa, tomou-lhe a operação da sua mais lucrativa rota (Luanda-Lisboa-Luanda), algo que fez sob o pretexto de que a companhia angolana não possuiria aeronaves em condições de responder à crescente demanda. O espanhol mandou para oficinas ou acantonou a moderna e competitiva frota de aviões de longo curso que encontrou na TAAG”.  E mais: “com o acantonamento dessas aeronaves, Eduardo Fairen arranjou pretexto não apenas para a contratação da companhia HiFly, que usa, quase exclusivamente, aviões Airbus 330, já bastante surrados, como, paulatinamente, vai afastando a marca TAAG do espaço europeu”.  

Lisboa, que é a maior praça da TAAG fora de portas, perdeu para  Madrid o call center, ao qual milhares de passageiros, sobretudo angolanos, recorriam pelos mais diversos motivos.

Sem nenhum fundamento operacional ou financeiro e com a óbvia anuência do ministro dos Transportes, Eduardo Fairen decidiu contemplar Madrid com um vôo directo de Luanda.

A abertura da linha para Espanha coincidiu com informações, nunca desmentidas, de exponencial crescimento de património de Ricardo de Abreu em Espanha. 

Também conhecido como Manhã de Domingo, a Ricardo de Abreu são atribuídos um luxuoso iate e uma casa de sonho na paradisíaca Marbella, uma cidade turística situada no sul de Espanha, onde gente endinheirada vai a descanso.  

Terça-feira, 05 de Dezembro, e sem qualquer explicação aos angolanos, uma suposta Assembleia Geral de Accionistas da TAAG decidiu desenvencilhar-se do espanhol.

Embora a “limpeza do balneário” seja atribuída a uma pretensa assembleia de accionistas, quem, no entanto, reclama os louros é a tutela.

Ou seja, não foram os accionistas que escolheram os novos corpos gerentes da empresa.

No comunicado saído da dita assembleia de accionistas consta que “depois de realizado pela tutela um extenso e criterioso processo de procura e de selecção, a escolha dos novos gestores responde à necessidade de um maior e mais robusto alinhamento do processo de recuperação da companhia aérea iniciado em 2021 com os objectivos do Governo de Angola para o sector dos transportes e do subsector da aviação civil em particular”.

Ou seja, a mesma tutela responsável pelo desastre em que se traduziu a passagem de Eduardo Fairen pela TAAG é a mesma que “depois de um extenso e criterioso processo de procura e de selecção”, escolheu Santos Domingos, para a presidência do Conselho de Administração, e Nelson Pedro Rodrigues de Oliveira para a presidência da Comissão Executiva.

O comunicado da “tutela” é omisso sobre se a Eduardo Fairen é devida alguma indemnização pela ruptura do contrato ou se ele é que tem de ressarcir a TAAG pelos incomensuráveis danos que lhe causou, tanto na imagem como patrimonialmente.

Em todo o caso, o que é evidente é que o ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, está blindado contra qualquer pingo de chuva.

Dir-se-ia que enquanto a tesouraria estiver sob os cuidados do Braga, ao Manhã de Domingo nada acontecerá.

Pelo contrário, é compensado por cada golpe que dá ao interesse público.

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