HIGINO CARNEIRO ACUSA JONAS SAVIMBI DE SER O CULPADO DOS CONFLITOS DE 92 A 2002 E PELO TEMPO QUE DUROU A GUERRA EM ANGOLA
O político e ex-deputado do MPLA, Francisco Higino Lopes Carneiro disse recentemente no programa organizado pelo Movimento dos Estudantes Angolanos, denominado “Ao encontro com a história” que o desentendimento que saiu de 1992 a 2002, durou o tempo durado, somente, porque o então Presidente da UNITA, Jonas Malheiro Savimbe, não aceitou os resultados obtidos nas eleições, e achou que conseguiria tomar o poder a custo das armas.
ANNA COSTA
Segundo Higino Carneiro, que se dirigia para a nova geração interessadas em saber a real história do país, existem revelações escritas que dão conta de uma solicitação de apoio de representantes americanos que na época estava no país, mas que estes discordaram em compactuar com a UNITA, por esta razão, Jonas Savimbe não agiu no momento e montou as suas estratégias, mas por saber, enquanto dirigente da formação das Forças Armadas, de uma suposta entrada de aviões de armamentos e outros meios de apoio à guerra, o MPLA teve que tomar alguma medida.
De acordo com Higino, o governo havia prometido tratar os acordos de boa-fé e tinha tratado de desintegrar as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) para a criação das novas Forças Armadas, e quando o conflito eclodiu, em Luanda, tinham apenas 9% das unidades operacionais constituídas, ” tudo o resto eram serviços e outras unidades de apoio ao Estado Maior General, na altura comando Superior das Forças Armadas”, mas a UNITA tinha guardado várias unidades na Namíbia que queria depois utilizar sabendo que o actual governo estava desprotegido.
“ Foi com isso que tratou de ocupar muitas localidades onde nunca esteve durante o conflito e veio para as cidades, estavam armados, acabaram por ocupar várias cidades e pensavam que com isso facilmente tomaria o poder, a custo das forças das armas”, disse o político respondendo às questões feitas pelos jovens.
Carneiro, que adjectivou Jonas Savimbe como cordial na sua maneira de ser, lembrou do primeiro encontro com o líder do maior partido na oposição, em Maio de 1991, na altura da assinatura dos acordos de bissesse.
“ Conheci-o foi uma recepção muito cordial, aliás ele era assim na sua forma de lidar com os visitantes, pelo menos comigo e outros que tiveram a oportunidade de ir connosco em encontros, foi sempre cordial, Savimbe até chegou a descascar uma maçã para mim, saiamos daí convencidos de que aquilo que discutíamos era para implementar, mas por trás acabava por dar outras instruções, que nos levaram a esta perda de tempo muito longa que custou a vida de Angola e dos angolanos.
Considerado uma figura chave no sucesso das negociações de paz entre o governo angolano e a UNITA, Higino partilhou o momento que considerou mais irritante no processo de paz que disse ser o facto de estar a negociar de boa-fé e perceber que a parte em negociação fazia “tábua rasa” daquilo que se entendia “e o grande sofrimento de tudo era perceber que quanto mais tempo demorava-se em guerra mais sofrimento se levava para o povo angolano”, disse.
Carneiro contou também que tratou de dar corpo a iniciativa da UNITA renovada porque grande parte dos militantes responsáveis deste partido, quer os do parlamento, quer os que ficaram por razões óbvias do confronto militar que ocorreu depois da recusa dos resultados eleitorais, estavam contra a continuidade da guerra e era um momento de pressão para Jonas Savimbe.
O ex-governador de Luanda, desmentiu as informações que dão conta que já militou na UNITA, e disse que nunca teve parentes directamente ligados ao partido, mas soube que em 1991, quando visitou pela primeira vez a Jamba, quando a delegação do governo foi para lá depois da assinatura dos acordos de bicesse em Portugal, lá estava um familiar do seu pai que era alfaiate e costurava para Jonas Savimbe na Jamba e tinha sido raptado e levado para uma outra região.
Eu soube porque ele me procurou, sabia do meu apelido e este familiar tinha relação com os outros que ainda temos que viviam no bairro Operário, mas acabou mais tarde por falecer no Andulo no final dos conflitos, não sei se por razões militares ou por razão de doença, mas não era uma pessoa próxima minha nem do meu pai, mas era familiar”, justificou.