SEGURANÇA ENTREGA OS FILHOS A IRMÃ POR FALTA DE CONDIÇÕES
A história de um segurança que também lava carros na via pública e entregou três filhos para a irmã cuidar
Dos problemas com os alimentos ao acesso à saúde, várias são as queixas de trabalhadores angolanos que sobrevivem com o salário mínimo nacional, mas não é comum um casal entregar filhos a familiares para poupar nas despesas.
Em Benguela, um segurança de uma empresa privada diz que o salário de 25 mil kwanzas, equivalentes a 57.77 dólares norte-americanos, cobre apenas três semanas de alimentação, mesmo com três dos 12 filhos em casa da irmã.
O decreto presidencial 54/22, publicado em Diário da República no passado mês de Fevereiro, fixa o salário mínimo nacional em 32 mil 181 kwanzas (quase 72 dólares americanos), mas Joaquim Limpinho ainda recebe o anterior.
“Dos 25 mil, só fico com mil kwanzas no bolso, é para fazer as passagens, e tudo fica com a senhora. Sai três mil da luz e dois mil para água, um pouco para a escola das crianças e depois a comida”, resume Limpinho, acrescentando que “em duas ou três semanas a alimentação acaba, o valor é pouco”.
Três dos filhos estão sob cuidado de uma irmã.
Joaquim Limpinho, antigo militar, adianta que a alimentação é limitada e realça que é obrigado a contrair dívidas, sobretudo em casos de doença.
“Até nem chego no arroz … só mesmo o milho para fazer a fuba, depois vemos o conduto (acompanhamento). Às vezes é mesmo pedir emprestado para pagar com juros, isto não chega para nada”, indica na conversa com a VOA, acrescentando que “também limpo e lavo carros e ajudo donas de casas a transportar as compras aqui no meu posto de trabalho”.
A esposa, dona Chilombo, procura ganhar a vida na rua, mas o rendimento diário, inferior a 100 kwanzas, não ajuda em nada, salienta Joaquim Limpinho, morador do Cawango, arredores da cidade de Benguela.
“Neste momento está a remediar um pouquinho de negócio, só para ela não ficar em casa sentada. Vende alimentação, faz um pouco de funge e vem mesmo vender aqui na cidade, na zunga”, conta o segurança.
Não se conhece o número de trabalhadores angolanos, na função pública e no sector privado, com o salário mínimo nacional, que deve ser praticado por todos os patrões, conforme alertam alguns analistas.