“MPLA PENSA QUE O PAÍS É UM QUINTAL DA SUA PROPRIEDADE” – ACJ

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Em entrevista à CNN Portugal, Adalberto Costa Júnior apelou à população para que na quarta-feira se mantenha nas imediações das mesas de voto para “dificultar as manobras possíveis de troca das urnas”

Recusado o convite por parte do actual Presidente angolano, Adalberto Costa Júnior gozou de tempo de antena exclusivo esta noite na CNN Portugal, e não desperdiçou a oportunidade para criticar João Lourenço, que acusa de estar “absolutamente impreparado para a alternância política”.

Em entrevista, o candidato da UNITA às eleições desta quarta-feira voltou a apelar ao povo angolano para que se mantenha nas imediações das assembleias de voto depois de exercer esse direito, para “dificultar as manobras possíveis de troca das urnas” e criar “pressão para a transparência”, mas rejeitou qualquer incentivo à violência, garantindo que o cenário que se colocou durante os anos da guerra civil não tem paralelo com a actualidade e assegurando que, hoje em dia, só exército e polícia angolanos têm armas.

“Violência não aconteceu, e eu espero que não aconteça. Só se o partido-regime assim o decidir. Da nossa parte não temos nenhuma vontade nesse sentido”, assegurou o candidato da UNITA, depois de largos minutos em que apontou baterias ao MPLA e à forma como o partido no governo tem conduzido o processo eleitoral.

“Hoje dependemos em absoluto da nossa capacidade de fiscalizar as assembleias e também da capacidade do cidadão poder garantir a segurança do voto. É indiscutivelmente a campanha mais antidemocrática que temos vindo a acompanhar, onde o partido único tem todas as instituições sob controlo”, acusou Adalberto Costa Júnior. “Das instituições não esperamos nada, porque as instituições provaram ser absolutamente partidárias, violaram as leis todas elas.”

Questionado sobre se acredita se, em caso de derrota, o MPLA vai aceitar os resultados e proporcionar uma “transição suave” do poder, o candidato da UNITA não foi taxativo mas aproveitou para atacar novamente o partido “que não se preparou para a democracia”, “confunde alternância com atentado à segurança de Estado” e que “pensa que o país é um quintal de sua propriedade”.

“O MPLA está muito dividido, fez uma transição de liderança que não foi aquela que conseguiu garantir a unidade interna do partido. Temos de tudo dentro do MPLA. Temos quem seja democrata, quem esteja a ver que o partido não é uma herança do pai e da mamã, e depois temos aqueles radicalizados, completamente habituados aos privilégios do partido único”, elencou, chamando a atenção para os militantes do MPLA que, nestas eleições, escolheram colocar-se ao lado da UNITA, e assegurando, afastando qualquer ideia de “governo de união nacional”, que se o partido do galo negro ganhar as eleições vai efectivamente governar.

“A UNITA ganha eleições e temos revisão da Constituição. Com eleição directa do Presidente da República, que hoje não é eleito directamente e por isso não vai ao Parlamento e não responde sobre a sua governação e as dívidas que contrai a nível internacional”, prometeu o candidato, avançando também que tenciona recuperar “a lei de repatriamento de capitais que o MPLA votou contra”.

À pergunta sobre o alegado financiamento da UNITA por Estados Unidos e Israel, Adalberto Costa Júnior começou por responder com uma gargalhada irónica “Quem me dera tê-los recebido!”, para depois assegurar que a campanha do partido foi feita “com poucos recursos”. “Em todos os locais onde parámos camisolas e chapéus não tínhamos sequer para dar”, lamentou primeiro para, ato contínuo, acusar o MPLA de, esse, sim, ter feito uso de bens e dinheiros públicos para transportar pessoas para comícios e distribuir merchandising.

Apesar de todas as críticas ao MPLA, a João Lourenço e à falta de transparência e de legalidade do processo eleitoral, o candidato da oposição, que garante acreditar que a vitória é possível “Há uma onda tão forte de mudança que o regime pode cair, sim senhor. O povo está cansado de viver nesta realidade”, assegura que, se sair vencedor, vai “tratar bem” o adversário.

“Somos pessoas de diálogo, preparadas, que vão defender a continuidade do Estado. Fazemos a alternância e, garantidamente, João Lourenço vai ser bem tratado por nós. Nunca faremos aquilo que ele está a fazer aos seus adversários.” Observador

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