INTERRUPÇÃO MENSTRUAL PODE SER SINAL DE UMA DOENÇA

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ZAIRE – A interrupção do ciclo menstrual, de forma precoce, pode não ser o início do processo da menopausa, e sim o surgimento de uma doença no organismo da mulher, alertou, em Mbanza Kongo, província do Zaire, a supervisora interina da Saúde reprodutivo na região, Graça Catarina.

A especialista, que falava ao Jornal de Angola, no âmbito do Dia Internacional da Saúde Feminina, assinalado, hoje (28 de Maio), aconselhou que toda mulher deve ter o hábito de consultar, regularmente, um ginecologista ou visitar um clínico geral ou cardiologista, no sentido de prevenir casos de doenças oportunistas.

“Nas consultas e exames de rotina, os médicos e especialistas conseguem determinar o estado de saúde da mulher, numa eventualidade, pode-se prevenir a propagação das doenças no organismo feminino. Quando a doença não é diagnosticada precocemente pode afectar os outros órgãos vizinhos e matar muitas células dentro do corpo humano. Se não houver uma intervenção, pode levar a paciente a morte”, alertou Graça Catarina.

Graça Catarina aconselha que toda a mulher em idade fértil ou aquelas em estado de gestação deve consultar um especialista em saúde feminina, uma vez que deve privilegiar a prevenção do que a cura.

“Essas mulheres em idade fértil e as que estão em estado de gestação devem realizar consultas na área de ginecologia e pré-natal para saber o seu estado de saúde e os cuidados a terem, porque nem todo o desaparecimento da menstruação significa gravidez. Realçou que se pode, muitas vezes, significar o surgimento de uma doença”.

Graça Catarina referiu que muitas mulheres, por causa das dificuldades do dia-a-dia, relegam a saúde feminina em segundo plano, situação que contribui em muitas situações graves ou mesmo de mortes precoce da mulher.

“A nível do mundo, muita mulher morre durante a gravidez, no trabalho de parto, ou por outras doenças, tais como o cancro do colo de útero, da mama e da pele, ou de Doenças Transmissíveis Sexualmente (DTS), incluindo o HIV/Sida, por não terem acesso aos cuidados de saúde e o costume de procurar por um médico para se prevenirem de eventuais patologias”, acrescentou.

No caso concreto do cancro, Graça Catarina aconselhou as mulheres a fazerem o auto-exame da mama. Na eventualidade de verificarem alguma anomalia, devem procurar de imediato pelos serviços de saúde, com vista ao diagnóstico precoce da doença e evitar a progressão da doença no organismo.

“As mulheres devem, necessariamente, manter uma higiene diária, porque existem patologias e sintomas exclusivos das mulheres que obrigam a uma vigilância e prevenção redobrada. As pessoas que padecem de doença devem deixar de recorrer a tratamentos tradicionais ou atribuir a causa ao feiticismo ou fazer alegações de alguém estar por detrás da enfermidade, mas procurarem por uma unidade sanitária e ter o diagnóstico e tratamento precoces.

Para aquela especialista, o consumo de alimentos saudáveis de forma regular ajuda a reduzir o risco de contrair diferentes doenças que podem afectar a saúde feminina e garantir o bem-estar físico e mental da mulher.


METADE DOS REGISTOS É DE CASOS EVITÁVEIS

O Dia Internacional da Saúde Feminina é celebrado a 28 de Maio. Criado em 1987, a data visa alertar a população para a desigualdade entre mulheres e homens no acesso aos cuidados de saúde e promover acções de sensibilização para a importância da saúde feminina e do devido acompanhamento médico a todas as mulheres.

Algumas patologias são exclusivas da mulher, chamando este dia também a atenção para sintomas e doenças especiais do sexo feminino e para a necessidade de uma higiene diária cuidada.

Nos países em vias de desenvolvimento, muitas jovens e mulheres são vítimas de discriminação no acesso aos cuidados de saúde, com base em factores socioculturais.

Esta situação é relembrada uma vez por ano, mas exige o esforço diário de todos para ser contornada. Neste dia de acção, governos, agências internacionais, organizações civis e outros tipos de entidades se unem na promoção da saúde feminina.

Este dia foi definido no IV Encontro Internacional Mulher e Saúde que ocorreu em 1984, na República da Holanda, durante o Tribunal Internacional de Denúncia e Violação dos Direitos Reprodutivos, ocasião em que a morte materna apareceu com toda a sua magnitude.

A partir dessa data, o tema ganhou maior interesse e no V Encontro Internacional Mulher e Saúde, realizado em São José da Costa Rica, a Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe – RSMLAC, propôs que a cada ano, no dia 28 de Maio, uma temática nortearia acções políticas que visassem prevenir mortes maternas evitáveis.

A mortalidade materna é um importante indicador da qualidade de saúde ofertada para as pessoas e é fortemente influenciada pelas condições socioeconómicas da população. Em média, 40 por cento a 50% das causas podem ser consideradas evitáveis.

O atraso no reconhecimento de condições modificáveis, na chegada ao serviço de saúde e no tratamento adequado, está entre as principais causas das altas taxas de mortalidade materna ainda presentes na maior parte dos estados brasileiros.


  AUMENTA O NÚMERO DE SENHORAS QUE IGNORAM AS “PEQUENAS” DORES NO CORPO

As mulheres dos 15 aos 65 anos de idade devem ter a preocupação de procurar pelos serviços de saúde quando se confrontarem com inchaço nas extremidades, dores abdominais e nas relações sexuais, sangramentos irregulares, perda de peso sem motivo aparente, entre outros.

O especialista em Saúde Reprodutiva, Alexandro Gualberto, que aconselhou o facto num debate sobre Saúde Feminina que envolveu vários estudantes universitários do Lubango, descreveu que ignorar os sintomas referidos “pode agravar a saúde sobretudo das mulheres que se encontram na flor da idade”.

  Alexandro Gualberto que já prestou assistência médica em saúde reprodutiva e materno-infantil em Havana (Cuba), Oshacati (Namíbia), Lubango, Chibia e Matala (Huíla), considerou de anormais alguns comportamentos de certas mulheres dos três países. “São raras as mulheres ou familiares que acorrem aos serviços de saúde quando se confrontam com estes sintomas”.

Segundo ele, um número considerável de mulheres, sobretudo crianças e jovens, ainda não se vê na obrigação de recorrer com frequência aos serviços de saúde materna quando se confronta com os sintomas já referidos, criando, por isso, complicações de saúde pública.

Enfatizou que já não há razões para se atribuir as culpas à ausência de unidades sanitárias pelo facto de as autoridades continuarem a apostar seriamente na reabilitação, construção e apetrecho das infra-estruturas sanitárias e enquadramento de médicos e enfermeiros, não só nas zonas urbanas, como também nas rurais.

Alexandro Gualberto que defendeu que um corpo saudável é aquele onde não impera a dor nem sangramento considerou ser premente a promoção permanente de palestras sobre saúde feminina cujo propósito “é também de evitar o recurso anárquico de certas raízes ou folhas para amenizar ou curar certas patologias”.

Enalteceu as acções da direcção provincial da Saúde e parceiros com realce ao UNICEF, ADRA, FRESAN-Camões e outras organizações não-governamentais por estarem a inverter o quadro sanitário nas sanzalas e comunas das províncias da Huíla, Namibe e Cunene.

Destacou o workshop sobre Pensar Saúde nas Comunidades da Huíla por estar a promover os cuidados primários em saúde com o foco na prevenção de doenças, melhoria da higiene das casas, vestuário, depósito adequado dos resíduos sólidos e técnicas de utilização de fármacos naturais.

 POBREZA E IGNORÂNCIA

O promotor social Miguel Kangombe considerou a pobreza, analfabetismo e a ignorância como sendo os três factores que têm influenciado negativamente no progresso da saúde feminina, com realce para as que habitam na periferia das cidades e vilas.

Sublinhou que há meninas e adultas dos bairros das pequenas e grandes cidades até agora despreocupadas com as doenças que “passam despercebidas onde, quando decide recorrer a uma unidade hospitalar é porque a situação já se tornou grave ao ponto de embaraçar a acção do corpo clínico”.

Exemplificou o caso de três vendedoras ambulantes vulgo “zungueiras”, que depois do sangramento agravar-se, os familiares decidiram recorrer ao hospital para salvar a vida foi necessário a transfusão de sangue urgente. “Muitos pacientes só recorrem aos serviços médicos na fase terminal da doença”.

O Jornal de Angola tentou sem sucesso apurar as estatísticas dos casos que resultaram em morte em consequência dos atrasos na procura dos serviços das unidades hospitalares, mas uma fonte no anonimato revelou que do total das mortes mensais, cinco são devido à chegada tardia aos hospitais.

 Confirmação da “zungueiras”

“Há um ano que sinto fortes dores durante as relações sexuais, mas nunca liguei porque depois passa por si”, revelou Joaquina Augusta, que prefere não contar ao companheiro com quem já têm quatro filhos, por achar desinteressante e um caso normal que pode ocorrer com outras senhoras.

Joaquina Augusta, que comercializa fruta nas avenidas da cidade do Lubango com outras amigas, referiu que da conversa com as demais, consideraram tratar-se de um caso normal e que passa com uma simples massagem com água quente misturada com folhas de rícino.

Na avenida Bulevar do Mukufi, centro da comercialização de frutas originárias de vários pontos do país, encontramos a dona Cassinda Maria, que considera ser uma mulher das dores. “Jornalista não me fala mais para ir ao hospital porque das várias vezes que lá fui nunca passou”, disse, tendo retorquido que nos calemos por “Deus já sabe”.

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