COQUE MUKUTA ACUSA JOÃO LOURENÇO DE PROTEGER SEUS MINISTROS ACUSADOS DE CORRUPÇÃO
O jornalista Coque Mukuta afirmou em entrevista à Rádio Despertar, que o presidente João Lourenço “já atirou a toalha ao tapete” no combate à corrupção e protege membros do seu gabinete, incluindo o ministro das Finanças, José de Lima Massano, visado em denúncias de sobrefaturação.
REDACÇÃO JORNAL HORA H
A Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola poderá vir a analisar uma denúncia que envolve o ministro das Finanças, José de Lima Massano, mas o jornalista Coque Mukuta considera improvável qualquer responsabilização, apontando a alegada proteção política do presidente João Lourenço.
Em entrevista, Mukuta afirmou que o chefe de Estado “é protetor dos membros do seu gabinete” e que, à exceção de um antigo secretário de Estado exonerado por um caso na Suíça, “todos os outros acabam sendo protegidos”.
“Isso mostra que nem todos são responsabilizáveis. Há pessoas do seu grupo que ele protege”, criticou.
O jornalista recordou outras denúncias, como a apresentada por Rafael Marques sobre o caso do município da Moeda, que envolvia Massano, “mas até hoje sem qualquer movimentação da justiça”.
Segundo Mukuta, o combate à corrupção em Angola “perdeu força e direção”. “O presidente João Lourenço já não está interessado no combate à corrupção. Quando começou, era apenas para combater o eduardismo”, afirmou, referindo-se ao grupo próximo do ex-presidente José Eduardo dos Santos.
Mukuta acusou ainda o chefe de Estado de beneficiar-se de adjudicações directas, sobretudo através de empresários como Manuel Couto Alves. “O presidente não faz favores grátis. Há benefícios escondidos, e muitos passam por paraísos fiscais como o Dubai”, denunciou.
O jornalista sublinhou que muitos desses contratos “são públicos e podem ser consultados nos Diários da República”. “Basta pesquisar o nome do empresário para ver as adjudicações sem concurso público”, observou.
Questionado sobre o impacto dessas práticas, Mukuta considerou que “o presidente trai os interesses nacionais” e defendeu que a Assembleia Nacional “deveria agir com base na transparência e na responsabilização”.
Apesar das críticas, o jornalista afirmou não temer represálias. “Não sou ameaçável. Sou cidadão angolano e tenho responsabilidades no país. Não fugi de Angola”, garantiu.
Sobre os desafios da investigação jornalística, destacou a dificuldade de obter o contraditório. “As pessoas ricas não respondem. Temos de insistir porque informar só um lado não é o melhor do jornalismo”, explicou.
Mukuta anunciou ainda que vai continuar a investigar “as empresas beneficiárias da lei que proíbe a entrada de carros usados em Angola”, que, segundo ele, favorecem figuras próximas ao poder.
“Há um grupo pequeno a lucrar, enquanto a classe média desaparece e muitos angolanos recorrem a motorizadas por não poderem comprar carros novos”, concluiu.



