CASO CONGRESSO NACIONAL DA RECONCILIAÇÃO: RELIGIOSOS ACUSAM IGREJA CATÓLICA DE CORRUPÇÃO “FALTA DE COERÊNCIA” DA IGREJA

a36a667d-ff48-4899-81f4-567f4643fe51

Dois líderes religiosos manifestaram posições críticas em relação ao Congresso Nacional da Reconciliação, ao questionarem a legitimidade e o momento da sua realização num contexto de crise económica e social que afecta o país.

ANNA COSTA

Durante as suas intervenções públicas, Frei Joaquim Hangalo afirmou que “a Igreja Católica em Angola está doente e precisa fazer penitência pelos seus silêncios e cumplicidades diante do sofrimento da população”. O religioso falou sobre o que considerou “infiltração e manipulação política” dentro da instituição e alega que “o MPLA usa esquemas baseados em ofertas de casas, jantares, carros para influenciar certos elementos da Igreja”, o que, segundo ele, faz com que a liderança se torna  “indiferença à morte e à miséria das pessoas”.

“O país vive uma situação de miséria extrema, neste momento em Angola se continuam a morrer de fome é porque existe a violações do direitos humanos, existem crianças fora do sistema de ensino, existe elevadíssimo nível de corrupção do governo e você vem falar de reconciliação? Reconciliação de quê? Questionou o frei, acrescentando que “a Igreja deve refletir profundamente, como faz num sínodo, antes de propor temas tão sensíveis”.

Hangalo recordou ainda que, em 2021, quando várias denúncias sobre mortes por fome vieram a público, a própria Igreja tentou reagir, mas foi silenciada por pressões políticas, apontando Higino Carneiro como o mentor do silêncio da Igreja.

O reverendo Ntoni-a-Zinga partilhou também uma análise crítica sobre o papel histórico da Igreja em Angola, e sublinhou que a instituição “tem cometido erros por participar, directa ou indirectamente, em actos que contrariam os princípios da liberdade e da justiça”.

O religioso viajou ao período colonial para ilustrar a sua posição, ao recordar que, “em 1961, o governador-geral de Angola decretou a expulsão de missionários católicos que actuavam no norte do país, após o levantamento popular de 15 de Março”. Segundo o reverendo, esses episódios históricos continuam sem o devido reconhecimento como actos de resistência ao colonialismo.

Ntoni-a-Zinga defendeu que o país precisa “redefinir o conceito de desenvolvimento”, para ele “construir infraestruturas vistosas não significa progresso verdadeiro”, pois que defende que, é necessário “um reencontro nacional que parta do que somos como povo e não apenas da reprodução de modelos externos”.

“Os que assumem a liderança hoje parecem mais interessados em adquirir bens e prestígio do que em promover o bem-estar do povo. É urgente repensar a sociedade e o rumo que queremos seguir como nação”, concluiu o reverendo.

Você não pode copiar o conteúdo desta página