MATERNIDADE OU SENTENÇA DE MORTE? QUANDO DAR À LUZ SE TORNA UM RISCO EM VEZ DE ESPERANÇA – FERNANDA LUZEMBIA
Dar à luz deveria ser um dos momentos mais belos na vida de uma mulher. Deveria representar continuidade, alegria e esperança. Mas em Angola e particularmente em algumas maternidades o parto tem se tornado um momento de medo, dor e, em muitos casos, de morte. A pergunta que não quer calar é: o que está a acontecer nas nossas maternidades?
Quando ouvimos falar de uma ou duas mortes maternas, podemos pensar em casos isolados, talvez por problemas de saúde específicos. Mas quando os relatos se tornam frequentes, e cada nova semana traz uma nova vítima, é impossível ignorar: há algo errado. Será negligência médica? Falta de estrutura? Descaso institucional?
É triste, mas real: actualmente, muitas mulheres sentem mais segurança em dar à luz em casa do que nos hospitais justamente os locais que deveriam oferecer assistência, segurança e profissionais preparados. Quando o medo de morrer dentro de uma maternidade se torna maior do que o medo de um parto sem apoio médico, sabemos que algo falhou profundamente no sistema.O papel do Ministério da Saúde é central nessa crise. Cabe ao governo garantir estrutura, fiscalização, formação e dignidade nas maternidades. A ausência de medicamentos, equipamentos, médicos suficientes e, acima de tudo, humanidade, tem custado vidas. Mulheres jovens, saudáveis e com sonhos estão a morrer por causas que poderiam ser evitadas.
E o mais doloroso é o que vem depois: quem cuida dessas crianças que perdem as mães? Que futuro têm os filhos dessas mulheres? Estamos a criar uma geração órfã da maternidade, marcada pelo abandono institucional. A dor de uma mãe que entra numa maternidade com vida e esperança e sai num caixão não pode continuar a ser rotina.
Será que quando uma gestante é internada, já se espera que só o bebé sobreviva? Será que toda grávida já carrega o medo de ser mais uma nas estatísticas, de deixar seu filho aos cuidados de familiares? Isso é cruel, desumano e profundamente injusto.
Dar à luz não pode continuar sendo uma sentença de morte. É urgente repensar nosso sistema de saúde materna. É urgente ouvir as vozes das mulheres. É urgente garantir o direito à vida não só do bebé, mas da mulher que gera. Porque cada vida perdida não é apenas uma morte é uma mãe, uma filha, uma história interrompida. Chega de silêncio. Chega de normalizar a tragédia. Que a nossa voz seja o início da mudança.


