GRANDE ENTREVISTA COM O ECONOMISTA VERDIM PANDIEIRA JOSÉ: CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA ANGOLANA SUSTENTÁVEL E DIVERSIFICADA

JORNALISTA: DR. VERDIM PANDIEIRA JOSÉ, QUE PAPEL DESEMPENHAM AS ZONAS ECONÓMICAS ESPECIAIS, COMO A ZEE LUANDA-BENGO, NO PROCESSO DE DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA?
Verdim Pandieira José: As Zonas Económicas Especiais (ZEEs), como a ZEE Luanda-Bengo, são núcleos fundamentais na estratégia de diversificação. Elas funcionam como plataformas para atracção de investimento direto estrangeiro e nacional, oferecendo condições especiais para o desenvolvimento industrial. Facilitam a instalação de unidades produtivas, incentivam a transferência de tecnologia, criam sinergias industriais e promovem o crescimento de cadeias de valor. Além disso, disponibilizam incentivos fiscais e infraestruturais que reduzem os custos operacionais e aceleram a industrialização do país.
JORNALISTA: QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS ENTRAVES QUE AINDA DIFICULTAM ESSE PROCESSO?
Verdim Pandieira José: A diversificação enfrenta entraves estruturais e conjunturais. Entre os mais críticos estão a forte dependência das receitas do petróleo, limitações logísticas e de infraestrutura, escassez de mão-de-obra qualificada, dificuldades no acesso ao crédito, excesso de burocracia e um ambiente de negócios ainda pouco atrativo. Esses factores, em conjunto, reduzem a capacidade do país de impulsionar sectores não petrolíferos de forma sustentável.
JORNALISTA: E QUAL O PAPEL DO INVESTIMENTO PRIVADO NACIONAL E ESTRANGEIRO NESSA DINÂMICA?
Verdim Pandieira José: O investimento privado é um catalisador da diversificação. Ele dinamiza sectores estratégicos, gera emprego e promove a inovação. Iniciativas como o PDAC, financiado pelo Banco Mundial, têm apoiado o agro-negócio. Empresas como a Carrinho Agri fortalecem cadeias locais de produção. Além disso, o crescimento do ecossistema de startups entre 2012 e 2022 — com mais de 1.300% de expansão — demonstra que há potencial, sobretudo quando existem incentivos e apoio institucional. O investimento bem direcionado é a base para uma economia mais diversificada e resiliente.
JORNALISTA: DR. VERDIM, QUE POLÍTICAS PÚBLICAS TÊM SIDO ADOTADAS EM ANGOLA PARA FOMENTAR A INDUSTRIALIZAÇÃO E REDUZIR A DEPENDÊNCIA DO PETRÓLEO?
Verdim Pandieira José: O Executivo tem implementado várias políticas orientadas para a transformação estrutural da economia. Destaco o PRODESI (Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações), que atua fortemente em sectores como o processamento alimentar, com destaque para o treino de mais de 3.000 agro – empreendedores. Soma-se a isso o Plano Nacional de Desenvolvimento Industrial, que canaliza cerca de 21% do OGE 2025 para áreas sociais e infraestruturas produtivas.
Houve ainda a revisão da Lei do Investimento Privado, introduzindo incentivos fiscais e aduaneiros atrativos. No campo financeiro, destacaria a medida “Transforma Aqui”, uma linha de crédito do Ministério da Indústria e Comércio, que concede até 800 milhões de kwanzas a MPMEs para impulsionar pequenas indústrias locais.
Quando Angola expande suas exportações não petrolíferas e reduz a importação de bens essenciais, alivia a pressão sobre as reservas cambiais. Entre 2021 e 2023, as exportações não petrolíferas cresceram cerca de 40%, segundo dados do MINDCOM. Isso impacta diretamente a balança corrente, melhora o equilíbrio externo e torna o país menos vulnerável a choques nos preços do petróleo. O défice da balança de pagamentos caiu de 6,5% do PIB em 2020 para 2,8% em 2023, conforme o BNA, o que evidencia um caminho mais sustentável.
JORNALISTA: AGRADECEMOS PELA SUA ANÁLISE PROFUNDA E ESCLARECEDORA, DR. VERDIM.
Verdim Pandieira José: Eu é que agradeço. A diversificação é um processo longo, mas é o único caminho viável para o desenvolvimento de Angola.