Iª PARTE – ÁGUAS TURVAS NA ICCA: BISPO ABRAÃO DENUNCIA ANTUNES HUAMBO DE FAZER GESTÃO DANOSA, FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS E PERSEGUIÇÃO DENTRO DA IGREJA

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Garcia Tomás, também conhecido por Bispo Abraão, ex-inspector geral e actual presidente da Igreja de Comunhão Cristã de Angola (ICCA), denunciou no Jornal Hora H, no início de Julho, uma série de alegadas irregularidades que estariam a ocorrer no seio da liderança da ICCA, entre as quais, falsificação de documentos, gestão fraudulenta extorsão aos fies, abuso de poder, entre outros, sob comando do Bispo Antunes Huambo.

ANNA COSTA

Segundo o denunciante, que afirma ter exercido diversos cargos de direcção na organização, foi afastado de forma ilegal das funções por um alegado “grupo mafioso” instalado na estrutura da igreja, grupo este que, segundo ele, ajudou a desmantelar.

DENÚNCIAS DE EXTORSÃO, PERSEGUIÇÃO E GESTÃO IRREGULAR DE FUNDOS

Garcia Tomás apresentou denúncias de calúnia, difamação, perseguição e extorsão, alegando que tem recebido ameaças anónimas por telefone, mas que tem ignorado por precaução. O ponto de ruptura, segundo conta, ocorreu durante o processo de criação da comissão para a Conferência de Cabinda, do qual era coordenador. “Houve muito interesse em fazer parte da comissão, o que gerou disputas internas e desconfiança”, relatou.

De acordo com o ex-bispo, durante uma conversa com Antunes Huambo, foi decidido que os valores arrecadados para a convenção seriam depositados numa conta do banco BIC. No entanto, Tomás sugeriu o uso de uma conta do BCI, alegando haver suspeitas de movimentações indevidas na conta do BIC.

O caso mais grave envolve 2.220.000 kwanzas provenientes de contribuições de 111 ministérios para uma actividade realizada em Fevereiro de 2024. Segundo Tomás, o montante desapareceu sem prestação de contas, e quando questionou o presidente da igreja sobre o paradeiro dos valores, este alegou desconhecer a existência da dívida. Garcia Tomás responsabiliza o reverendo Orlando, vice-presidente para a área administrativa, a quem acusa de já ter desviado fundos anteriormente, inclusive durante o funeral do pai do próprio Bispo Huambo.

ALTERAÇÃO DE DOCUMENTOS E EXCLUSÃO DE ASSINANTES DE CONTA BANCÁRIA

Outra denúncia envolve a manipulação de actas de reuniões e exclusão de assinaturas autorizadas na conta do BIC. Tomás admite ter participado de uma alteração fraudulenta da acta a pedido de Antunes Huambo, excluindo os nomes do Reverendo Arsénio Abel Chinguvo e do Reverendo Luís Manuel Zau como assinantes, deixando apenas o presidente da igreja com acesso à conta.

“Reconheci a acta no notário porque percebi que havia um grupo contra mim e eu precisava me proteger legalmente”, afirmou.

ACUSAÇÕES DE USO INDEVIDO DE FUNDOS PARA PASSAGENS E VIATURA

Segundo o ex-inspector, 220 mil kwanzas foram entregues em numerário por Antunes Huambo para a convenção, contrariando o procedimento acordado de transferências bancárias. Posteriormente, o mesmo solicitou 90 mil kwanzas para reparação da viatura, valores que saíram da quantia destinada à actividade.

Durante a compra das passagens para a convenção, Abraão descobriu que os fundos haviam sido utilizados indevidamente. “Tive que contrair um empréstimo de mais de 2 milhões de kwanzas para não perder a viagem com a TAAG”, contou e acrescentou que Huambo prometeu vender uma casa no Cuando Cubango para reembolsá-lo — o que, segundo ele, nunca aconteceu.

ACUSAÇÃO PÚBLICA E EXPOSIÇÃO

O clima agravou-se quando Bispo Abraão foi acusado, publicamente, de desvio de 9 milhões de kwanzas da conta do BCI, em uma reunião onde, segundo o próprio, foi humilhado na presença de subordinados e cooperadores. Ele afirmou que o cartão da conta estava em sua posse com conhecimento da direcção, e que o presidente pediu-lhe o cartão sob pretexto de abastecer a viatura, mas usou a situação para montar a acusação.

Alegadamente, após essa reunião, Huambo teria convocado outros veteranos da igreja e espalhado a informação de que Tomás estava “em fuga e em parte incerta”, o que teria causado um ataque de nervos à sua sogra, ao ouvir as acusações consideradas infundadas.

CONFLITO INTERNO E AMEAÇAS

O denunciante diz ter provas (e mostrou) de transferências bancárias realizadas a pedido de Antunes Huambo, incluindo pagamentos para contas particulares e dívidas pessoais. Ele afirma ser alvo de perseguições e ameaças telefónicas, e acusa o Reverendo Orlando dos Santos, secretário-geral da igreja, de liderar um plano para o prejudicar, com apoio do Reverendo Muque, seu substituto na inspecção geral.

Ambos são acusados de corrupção, falsificação de documentos e extorsão. “Até hoje, nunca prestaram contas. Eu apenas questionei irregularidades e fui silenciado”, afirmou.

CONTRADITÓRIO: SILÊNCIO DA ICCA E TENTATIVA CONTÍNUA DO JORNAL PARA OUVIR A IGREJA

Partindo do princípio do contraditório, o Jornal HORA H tentou contactar o líder da Igreja de Igreja de Comunhão Cristã de Angola (ICCA), Antunes Huambo, mas sem sucesso. O responsável não atendeu às chamadas nem respondeu às mensagens enviadas, após a publicação de um trecho relacionado à denúncia o líder da ICCA orientou o seu vice a estabelecer contacto com a direcção deste órgão de comunicação e garantiu a sua presença nas nossas instalações para prestar esclarecimentos.

Na data combinada, recebemos na redacção, dois representantes da igreja, entre os quais António Caquenda, director do Gabinete de Comunicação da ICCA. No entanto, este recusou-se a prestar declarações e limitou-se a entregar um documento a solicitar a eliminação do conteúdo publicado no prazo de 24 horas, além de impedir a publicação da matéria na íntegra.

Na tentativa contínua de garantir o contraditório, o Jornal HORA H aguardou mais sete dias, mantendo contactos com a direcção da igreja. Durante este período, a resposta recebida foi de que estavam a negociar com o denunciante e que se pronunciariam em breve. Contudo, após mais oito dias, não houve qualquer posicionamento oficial.

No dia 4 de Agosto, segunda-feira, entrámos novamente em contacto com a direcção de comunicação da ICCA. Desta vez, foi-nos informado que poderíamos dar seguimento à matéria sem o contraditório, alegando que a instituição não pretende “dar asas à denúncia”.

O Jornal Hora H vai publicar a segunda parte da entrevista nas próximas horas…

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