“PRESIDENTE DA REPÚBLICA NÃO DEVE FALAR ISSO”

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“Penso todos os dias. Penso calado. Não podemos deixar que o país fique nas mãos de um qualquer. É minha obrigação ajudar encontrar um substituto. Estou em melhor condição que qualquer cidadão para INDICAR o rumo a seguir”, disse João Lourenço na entrevista concedida à CNN Portugal, quando foi perguntado sobre o seu futuro sucessor à Presidência da República.

Na sequênciado do diálogo, João Lourenço sugere que o próximo Presidente de Angola seja um jovem. Um breve explícito que, entrelinhas, vem automaticamente descartar o apoio à pré-candidatura do seu colega general Higino Carneiro.

O extrato acima destacado é, claramente, ofensivo, tendo em conta o carácter democrático do país, em que o Presidente da República é escolhido por meio de um sufrágio universal e não por indicação, como acontece nos órgãos auxiliares do Executivo.

O excerto refecte a pretensão de João Lourenço, e não do povo, de indicar alguém de sua confiança, ferindo até os estatutos que norteam o partido que lidera.

O facto é que, nas vestes de Chefe de Estado, uma personalidade que se exige imparcialidade, nunca poderia ter feito tais declarações, a fim de salvaguarda a vontade democrática que é espelhado na Constituição e sem com isso interferir, previamente, nas eleições que se avizinham, quer a nível partidário como nas gerais de 2027. Pois, ao descrever, o seu tipo ideial de candidato, passa, silenciosamente, a eliminar ou a intimidar todos os pré-candidatos, no seu partido, e candidatos, líderes de outras organizações políticas, que não se encaixam na tal descrição.

Já que afirma que pensa todos os dias no assunto, as declarações sugerem também que se estão a criar mecanismos para a prossecução das suas pretensões, pois quem tem possibilidades tudo faz para realizar os desejos.

Na fala do estadista angolano, destaquei, propositadamente, o verbo “indicar”, primeiro, para determinar o peso do seu significado repudiante num contexto que se exige o verbo “eleger”. Segundo, para clarear a intenção monárquica ou o vício dos membros do partido que lidera Angola de inviabilizar ou boicotar os eventos democráticos nestes âmbitos, prendendo-se ao hábito das indicações.

Tendo em conta os princípios democráticos, não podemos aceitar de ânimos leves que tais declarações, que comprometam a Constituição, saiam da boca do Presidente da República. Deveria continuar a pensar calado.

Por Domingos Miúdo

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