GIGANTES DA CONSTRUÇÃO, DO TURISMO E DA PRODUÇÃO DE MEDICAMENTOS E VACINAS, FALARAM COM JOÃO LOURENÇO E CONSIDERAM ANGOLA UM MERCADO ATRACTIVO

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No segundo dia da sua visita ao Egipto, o Presidente da República, João Lourenço, reuniu-se hoje com líderes empresariais deste país, na presença de ministros de sectores correspondentes.

O encontro deu a possibilidade ao Presidente João Lourenço de transmitir, de viva-voz, o que Angola tem de potencial económico e de possibilidades para negócios vantajosos, sobretudo em áreas fora do claustro petrolífero, mas viradas essencialmente para a agricultura, construção de infra-estruturas, indústria farmacêutica, turismo, energia, águas e saúde, entre outras.

 “São poucos países no mundo que conseguem, em tão curto tempo, construir 24 cidades. Isto demonstra capacidade”, reconheceu o Chefe de Estado na conversa com os empresários egípcios, todos eles gigantes nos seus ramos, representando companhias com presença em dezenas de países.

 Referiu também o Presidente que o rápido e consistente desenvolvimento do Egipto deve ser mostrado ao mundo, para que se contrarie a ideia de que África só é lugar de fome, atraso, miséria, desgraças…

 Grande parte dos homens de negócios que participaram do encontro com o Presidente da República manifestaram vivo interesse em investir no nosso país, tendo muitos deles já contactos iniciados com entes angolanos e até, nalguns casos, visitado Angola.

AUDIÊNCIA A EMPRESAS COM NEGÓCIOS EM ANGOLA

Na sequência do encontro com líderes empresariais do Egipto, o Presidente João Lourenço concedeu audiências a dois homens de negócios.

 Trata-se de Ahmed Esewedy, Presidente & CO da Esewedy Electric, e de Ahmed Mostafa El Assar, Presidente do gigante Arab Contractor.

 A Esewedy Electtic, com investimento em Angola no sector de electricidade, há 20 anos, só em Luanda, pretende aumentar os seus negócios em outras partes do país, designadamente na geração, transmissão e distribuição de energia.

 A The Arab Contractor já actuou em Angola há mais de 15 anos e pretende voltar ao mercado nacional com nova roupagem. Por esta razão, criou, no ano passado, uma empresa no país para o sector de energia, pretendendo ainda estabelecer parcerias em diferentes áreas.

Presente em 38 países africanos, a companhia trabalha em várias áreas de negócios, com contratos de parcerias com investidores de energia, saúde e infra-estruturas, tratamento, saneamento e dessalinização da água.

 PALAVRAS AOS EMPRESÁRIOS: O QUE DISSE O PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO NA REUNIÃO COM OS HOMENS DE NEGÓCIOS DO EGIPTO

“Muito bom dia, mais uma vez! Eu começo por agradecer às autoridades egípcias, não apenas pela forma bastante calorosa como fomos recebidos desde que chegámos aqui à cidade do Cairo, mas também pela oportunidade que me foi dada para falar, quer para membros do governo, quer para a classe empresarial, uma pequena representação da classe empresarial da República Árabe do Egipto.

Nós acabámos de assistir aqui a um pequeno vídeo que espelha bem o nível de desenvolvimento que o Egipto conseguiu alcançar nos últimos anos, mais precisamente nos últimos dez anos. Com o desenvolvimento em todos os domínios, não apenas no domínio do urbanismo e obras públicas, pelo que vimos, mas em praticamente todos os domínios da economia, o Egipto deu provas de que está realmente empenhado em desenvolver o seu país do ponto de vista económico, do ponto de vista social, em benefício do povo egípcio.

 Esta é uma lição para todos nós; o que vimos significa que, quando há vontade, as coisas podem ser feitas. Quando há vontade, há empenho por parte das autoridades egípcias e obviamente do povo egípcio para fazer as coisas acontecerem.

São poucos os países do mundo que conseguem, num período de tempo tão curto, construir 24 cidades e com a qualidade que nós acabámos de ver neste vídeo.

 Angola e Egipto têm relações antigas, nunca é demais repetir, praticamente desde a altura em que Angola alcançou a sua Independência – um ano depois, em 1976 -, até agora. Mas não temos sabido tirar o devido proveito das potencialidades que um e outro país possuem: recursos humanos, em primeiro lugar, mas também recursos naturais que ambos os países têm.

Vimos até ao Cairo para fazer uma mudança de página e ver se daqui para frente conseguimos fazer, em pouco tempo, aquilo que não fizemos em quase 50 anos. Já lá vão 49 anos desde o estabelecimento das nossas relações.

 Dessa parceria, Angola e Egipto, quem tem mais a ganhar, sem sombra de dúvidas, é Angola. Angola precisa, com a vossa ajuda e obviamente de outros, trabalhar no sentido de algum dia virmos a alcançar o nível de desenvolvimento que o Egipto já tem nos dias de hoje.

 Como devem saber, Angola enfrentou um período longo de conflito armado, o que obviamente dificultou o desenvolvimento. Nesse período, o sistema político era um sistema de partido único e de economia de mercado, em que praticamente o único investidor era o Estado. Por outras palavras, o sector privado estava, se me permitirem a palavra, amordaçado.

Nenhum país se desenvolve sem o sector privado da economia. Nós sabíamos disso, mas tardou a termos a coragem de dar o passo necessário para o sector público, o Estado se retirar da economia e deixar esse lugar a quem de direito, portanto, o sector privado.

Angola é produtora de petróleo e, ao longo de décadas, o país viveu quase que exclusivamente das receitas deste produto. Tínhamos receitas provenientes do petróleo e com esses recursos o país vivia importando praticamente tudo. A nossa produção restringia-se quase que exclusivamente à produção de petróleo.

Nós hoje estamos a criar – e estamos numa fase já bastante adiantada – um novo ambiente de negócios, com regras muito claras, com apelo para que o sector privado da economia se desenvolva e vá gradualmente substituindo o papel que o sector público desempenhou ao longo dessas últimas décadas.

 Nós queremos, para ser breve, diversificar a nossa economia. Queremos, podemos e devemos fazê-lo, sob pena de sucumbir o sector privado da economia, e quando digo sector privado, quero dizer que estamos a contar com investidores privados nacionais, mas incluindo também os investidores privados estrangeiros.

O sector privado da economia tem que ser o motor da nossa economia, tem que representar o que ele produzir, tem que representar uma fatia bastante grande do nosso Produto Interno Bruto, o que não acontece hoje.

Hoje, o nosso PIB ainda é constituído, é alimentado, sobretudo, pelas receitas do petróleo. Nós estamos apostados em inverter esta situação. Estamos a criar incentivos, estamos a criar políticas para que o sector privado ocupe o seu espaço e consiga representar uma percentagem muito maior do que a do sector petrolífero na nossa economia no geral e, particularmente, na composição do Produto Interno Bruto.

As economias africanas são, regra geral, economias mais voltadas para o campo, mais voltadas para a agricultura.

Angola já foi exportadora de bens produzidos internamente. Todos esses produtos de exportação, naquela altura, eram agrícolas: o café, o sisal, o algodão e outros produtos do campo. Então, nós queremos voltar a esse tempo, fazer de Angola um país que produz para o seu autoconsumo, evitando importar produtos da cesta básica, criar excedentes para serem exportados mais uma vez.

O que nós pretendemos dos investidores egípcios é que olhem para Angola como uma grande oportunidade de negócios, não apenas no sector da agricultura, onde temos terras aráveis abundantes, água, bom clima, um país onde não há inverno, para que possam desenvolver agricultura para o consumo interno, mas também para a exportação.

Os investidores são livres de escolher o que pretendem fazer, de acordo com os estudos de viabilidade que as suas empresas fizerem. Têm toda a liberdade de investir onde bem entenderem. A gama de oportunidades é bastante vasta, é bastante grande, desde a agropecuária, não apenas a agricultura, as pescas, a indústria, no geral, não apenas a indústria extractiva.

Temos recursos minerais diversos, que vos podem interessar. Angola é um país que tem um grande potencial turístico adormecido e, por estar adormecido, talvez seja esta oportunidade de os primeiros que chegarem ganharem vantagens sobre os demais no desenvolvimento do turismo.

Estou a referir-me concretamente à possibilidade de investir em infra-estruturas turísticas – hotéis, resorts, enfim, tudo quanto for interessante para o desenvolvimento do nosso turismo -, o turismo de praia, ao longo da nossa costa, que é bastante vasta, quer o turismo do interior, quer o turismo das reservas naturais e parques naturais que o nosso país detém, destacando, sobretudo, aquele que eu considero o de maior potencial – estou a referir-me à zona do grande projecto transnacional Okavango-Zambeze, que abrange, pelo menos, cinco províncias angolanas (Cubango, Cuando, Moxico, Moxico Leste e a província do Bié), bem como os países vizinhos (a Zâmbia, a Namíbia, o Botswana e o Zimbabwe).

Este encontro é uma oportunidade para conhecerem a Angola de hoje e a Angola que nós pretendemos ver num futuro breve. Queremos ver uma Angola desenvolvida, mas para que isso aconteça, o sector privado deve desempenhar o seu papel.

Os investidores egípcios estão convidados a serem parte deste grande desafio de transformação de Angola, fazer com que Angola possa, também, ter este ritmo de crescimento que o Egipto conseguiu alcançar nos últimos anos.

A imobiliária em Angola também tem muito por se fazer; o que se vem construindo são, sobretudo, habitações sociais a cargo do Estado. É investimento público. Houve algum investimento privado, mas isso abrandou.

 Todos aqueles que estão virados para este ramo são convidados a tomarem posição na construção de habitação que não seja social, portanto, habitação para colocarem à disposição das populações, daquela classe da nossa população que tem capacidade para comprar, nas condições que vierem a ser estabelecidas, com crédito bancário ou outras; habitação de luxo para os que têm mais posses; para escritórios das grandes empresas que se estão a instalar em Angola, multinacionais que se estão a instalar em Angola e que, por vezes, têm dificuldades em encontrar edifícios, escritórios para as suas empresas.

 O território angolano é grande. Nós estamos a fazer este convite para que os investidores se possam distribuir pelo país e investir ali onde bem entenderem. Estamos neste momento com 21 províncias, que não têm todas o mesmo nível de desenvolvimento. Mas queremos que aquelas menos desenvolvidas conheçam o desenvolvimento que as demais têm.

Estamos a precisar de investidores, homens de negócios, que façam investimento privado próprio, correndo os seus riscos, mas também aqueles que vão para executar empreitadas de investimento público, de infra-estruturas, porque há muita infra-estrutura ainda por construir: portos, aeroportos, estradas, autoestradas, fontes de produção de energia, sobretudo de energia renovável, e linhas de transportação de energia.

Estas são as nossas prioridades em termos de investimento público: estações de água, produção, tratamento e produção de água para as populações e para as indústrias, escolas, hospitais, que, sendo públicas, de qualquer forma os empreiteiros são privados e, portanto, todos aqueles que se interessarem em concorrer para as empreitadas de construção das grandes infra-estruturas públicas que ainda estão por se realizar são bem-vindos a Angola.

 Ontem visitámos, aqui na cidade do Cairo, uma indústria de produção de medicamentos e vacinas. Angola está a fazer um grande investimento em infra-estruturas hospitalares, para construir os hospitais, as unidades hospitalares e equipá-las.

Estamos a prestar atenção para os recursos humanos, na sua formação, na sua admissão, mas o país tem um problema muito sério por resolver, que é o abastecimento dessas mesmas unidades e das farmácias em medicamentos e vacinas.

Todo o medicamento e vacina que Angola consome é importado. E nós estamos apostados em acabar com isso. Precisamos que investidores montem as suas fábricas em Angola. Os mesmos recursos que o Estado está a despender hoje para a importação de medicamentos vão servir para adquirir os medicamentos preferencialmente os que forem produzidos localmente, não importa por quem seja.

O convite ontem ficou para a Gipto Pharma, a empresa que visitámos, se interessar em montar unidades de fabricação em Angola. Creio que o pedido foi aceite. Então vamos dar os passos seguintes para que isso possa se tornar uma realidade.

Angola tem apenas – digo apenas porque em comparação com a população que o Egipto tem, a nossa “não é nada” – cerca de 35 milhões de habitantes. Isto significa que se a produção de medicamentos ou de qualquer outro produto estiver acima da demanda interna, da demanda nacional, ou seja se esse mercado de 35 milhões for pouco, evidentemente o excedente pode ser vendido, pode ser exportado para qualquer parte do mundo ou preferencialmente vendido ali nos países vizinhos.

 Os países vizinhos podem consumir o excedente da produção que Angola conseguir alcançar, quer em medicamentos, quer em produtos alimentares, ou qualquer outro produto que seja produzido no nosso país.

Grosso modo, o convite está feito. Nós temos na nossa delegação o director da Agência de Investimento Privado, a AIPEX, que com mais detalhe poderá nos prestar toda a informação de que necessitam, legislação que suporta o investimento privado, as facilidades que o governo angolano dá aos investidores estrangeiros, a política cambial, a política fiscal, toda essa informação, obviamente, não serei eu a dar, mas sim o director da AIPEX que está aqui nesta sala.

Por fim, mais uma vez, dou os parabéns às autoridades do Egipto pelo sucesso que têm vindo a alcançar no desenvolvimento do seu país. É um sucesso que deve ser mostrado ao mundo, o mundo deve saber o que se está a passar aqui, porque às vezes se fica com a impressão de que o desenvolvimento só está noutras paragens, na Europa, na América, e que no nosso continente só há fome, pobreza, miséria, doenças. Enfim, tudo o que é de mal e que isso que acabámos de ver só outros continentes podem fazer.

 Portanto, mais do que por palavras, por actos, a realidade que acabámos de ver contraria essa ideia um pouco generalizada de que o nosso continente é um continente de desgraça, que não tem futuro. O nosso continente não só tem futuro, mas tem presente.

O que vimos agora já não é futuro, é presente, é algo que está a acontecer e nós sentimo-nos satisfeitos com o sucesso que o Egipto conseguiu alcançar. Vai servir com certeza de incentivo e de exemplo para que outros países africanos também priorizem o desenvolvimento, no sentido de alcançarmos este patamar que o Egipto já conseguiu alcançar.

Muito obrigado! “

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