GUERRA NA RDC: PRESIDENTE RUANDÊS CRITICA PROCESSOS DE LUANDA E NAIROBI E O HOMÓLOGO SUL-AFRICANO
O Presidente do Ruanda criticou hoje a condução dos processos de Luanda e de Nairobi relativos ao conflito no leste da República Democrática do Congo (RDCongo), e disse que o Presidente sul-africano não se comporta como “mediador”.
Paul Kagame fez uma comunicação na qual diz que “toda a comunidade internacional está confusa”, e referiu-se com críticas aos processos de Luanda, liderado pelo Presidente de Angola, João Lourenço, e de Nairobi.
“Fala-se dos processos como se estes fossem um fim em si.
E as pessoas que os lideram tornaram-se mais importantes do que os resultados desses processos” afirmou, frisando que isso não contribui em nada para encontrar soluções para o conflito.
“No processo de Luanda, é como se não se pudesse dizer nada que desagrade ao Presidente Lourenço”, acusou o chefe de Estado do Ruanda, país acusado de apoiar com as suas tropas os rebeldes do movimento M23 que lutam para tomar uma parte da RDCongo, na região leste.
Sobre o homólogo da África do Sul, disse que, na última semana, teve duas conversas com Cyril Ramaphosa, e que este distorceu o conteúdo, chegando a mentir sobre o conflito em curso em Goma, a capital de Kivu do Norte, tomada pelo movimento M23.
“Se as palavras podem mudar tanto de uma conversa para uma declaração pública, isso diz muito sobre a forma como estas questões muito importantes estão a ser tratadas”, afirmou Kagame.
“Se a África do Sul quer contribuir para soluções pacíficas, isso é bom, mas não está em posição de assumir o papel de pacificador ou mediador”, disse.
O Presidente sul-africano responsabilizou a “milícia da Força de Defesa do Ruanda” pelos combates que resultaram na morte de 13 soldados sul-africanos da força de paz no leste da RDCongo e disse que o seu Governo irá garantir que estas forças sejam “suficientemente apoiadas durante esta missão crítica” no conflito na RDCongo, país vizinho de Angola.
O Presidente ruandês classificou, neste contexto, as forças de manutenção da paz sul-africanas como uma “força beligerante” que trabalha ao lado de grupos armados que têm o Ruanda como alvo.
“Se a África do Sul prefere o confronto, o Ruanda tratará do assunto em qualquer altura”, ameaçou Kagame.
O chefe de Estado do Ruanda criticou também o Presidente da RDCongo, Félix Tshisekedi, pela sua ausência na cimeira extraordinária da Comunidade da África Oriental (EAC, na sigla em inglês), e afirmou que o conflito não será resolvido até que todas as partes envolvidas “façam parte do processo [de paz]”.
“O país ou a pessoa de que estamos a falar não está representado na nossa discussão e deveria estar (…). Por isso, não tenho a certeza do impacto que a nossa discussão terá no processo de encontrar uma solução”, disse Kagame na cimeira, que ocorreu na tarde de quarta-feira.
No discurso transmitido hoje no perfil do Governo ruandês na rede social X, Kagame criticou o papel desempenhado até agora pela EAC – um bloco regional de oito países da África Oriental – na resolução do conflito.
Na sua opinião, os líderes africanos estão-se a deixar manipular por Tshisekedi e pelos seus apoiantes, e “os diferentes governos africanos assumem ou fingem estar unidos” na procura de soluções para acabar com o conflito, “enquanto, ao mesmo tempo, cada país está a puxar numa direção diferente”.
Na cimeira, os chefes de Estado da EAC exigiram um “cessar-fogo imediato e incondicional” e apelaram ao Governo congolês para se empenhar com resoluções diretamente “com todas as partes interessadas, incluindo o M23 e outros grupos armados”.
Por sua vez, o Presidente da RDCongo apelou aos jovens que se alistem, em massa, no exército, e prometeu “uma resposta vigorosa e coordenada” para fazer recuar os rebeldes, embora reafirmando o empenhamento numa resolução pacífica.
Os combates já deslocaram mais de 500 mil pessoas desde o início de janeiro, segundo o Governo congolês.
Mais de 100 mortos e cerca de mil feridos foram levados para hospitais de Goma nos últimos três dias, de acordo com uma contagem da agência de notícias France-Presse elaborada a partir de relatórios hospitalares.