CENTRAIS SINDICAIS ACUSADAS DE DESVIO DE FUNDOS E FALTA DE TRANSPARÊNCIA SOB OLHAR SILENCIOSO DO MAPTESS

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A luta interna nas principais centrais sindicais do país tem gerado grandes controvérsias, com acusações de desvio de verbas, falta de democracia e violações dos estatutos das organizações. A União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (UNTA), a Confederação Geral dos Sindicatos Independentes de Angola (CGSILA) e a Força Sindical estão no epicentro dessas disputas, sobre proteção do Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS), denunciam os sindicalistas

ANNA COSTA

Entre as principais denúncias, feitas ao Jornal Hora H, está o alegado desvio de mais de 200 milhões de kwanzas por parte da liderança da Força Sindical, composta pelo presidente Cleófas Venâncio e pelo secretário-geral Domingos Luís. A situação é ainda mais grave, segundo os denunciantes, devido à falta de uma sede para a organização, o que consideraram “ falha de gestão grave”, uma vez que, ” a Força Sindical recebe apoio financeiro do Estado, além de contribuições dos trabalhadores” disse ao Jornal Hora H, Paixão Kafuqueno membro da Força Sindical.

De acordo com informações divulgadas, há documentos oficiais e acções judiciais em curso que envolvem membros das centrais sindicais, como a UNTA e a CGSILA. Na UNTA, um grupo de membros abriu uma queixa-crime contra o secretário-geral da organização, enquanto na CGSILA, também houve processos judiciais, incluindo uma impugnação do último congresso realizado. As razões para esses conflitos, de acordo com a fonte, estão ligadas a questões financeiras e à administração dos recursos da organização.

A situação dentro da Força Sindical é descrita pelos denunciantes como “crítica”. Segundo fontes internas, a Central Sindical tem funcionado de maneira centralizada, com o presidente e o secretário-geral a tomarem todas as decisões e excluindo outros membros da organização. Esse modelo de gestão tem sido acusado de favorecer interesses pessoais, incluindo a contratação de familiares e amigos para cargos dentro da estrutura da organização.

“ Não é fácil conseguir consenso interno porque infelizmente as pessoas defendem-se por sobrenomes. O presidente tem a sua família na força sindical, já chegou a empregar namorada, nós discutimos sobre isso. Tem sobrinha como delegada provincial. O secretário-geral tem filha e netos na força sindical, de que forma é que vamos accionar os órgãos”, disse a fonte ao Jornal Hora H

Em relação ao uso de recursos, os críticos afirmam que a falta de transparência é uma constante.“A Força Sindical não tem sede, não se sabe onde ela funciona. Como é que o MAPTESS continua a interagir de forma normal com a liderança da Força Sindical, sabendo das acusações de desvio de verbas?”, questiona o denunciante.

Além disso, os membros denunciam que o secretário-geral, Domingos Luís, com 80 anos de idade e sem histórico de trabalho em empresas, recebe uma pensão de 250 mil kwanzas mensais, o que levanta ainda mais suspeitas sobre a gestão da central sindical.

As acusações também envolvem o impacto da falta de acções das centrais sindicais na melhoria das condições dos trabalhadores. “ Durante o último Conselho Nacional, onde deveriam ser discutidas questões como o aumento do preço dos autocarros, que saiu de 50 para 150, a prioridade dos líderes da Força Sindical foram outras, ignorando as demandas mais urgentes dos trabalhadores”. Além disso, diz a fonte, houve relatos de intimidação a membros da organização que tentaram levantar a discussão sobre as acusações de desvio de verbas.

“ Muitos são os trabalhadores que saem da empresa por qualquer uma razão ou são despedidos e encontram acolhimento nos sindicatos e essas pessoas fazem parecer que os trabalhadores que vão aos sindicatos, ainda que estejam num órgão social, pareçam que lhes estão a fazer um favor”, disse.

A Força Sindical, que existe há 21 anos, teve uma sede em mandatos anteriores, mas durante a actual gestão, que começou a receber apoio financeiro do Estado em 2022, não possui mais um espaço físico próprio. Este facto gerou ainda mais indignação entre os trabalhadores, que se perguntam “como uma organização com tantos recursos não tem uma sede permanente”.

“ Fizemos também o conselho nacional que é o último do mandato e não tivemos acesso aos relatórios de contas, então se a força sindical está a ser acusada de desviar fundos e não ter sede, o mínimo que devia ser feito é termos o relatório de contas e indicarem onde está a sede da força sindical e numero da porta, o que hão houve. Há aqui um rapto da força sindical e incapacidade de liderança” lamentou.

Enquanto isso, as acusações de corrupção e má gestão não encontram respostas satisfatórias. Os denunciantes afirmam que as lideranças das centrais sindicais continuam a ser protegidas pelo MAPTSS, que, apesar de ter em mãos informações oficiais sobre as irregularidades, continua a dialogar com os acusados, ignorando toda e qualquer acusação

Com o movimento sindical em crise, muitos trabalhadores temem que a falta de transparência e as disputas internas prejudique ainda mais as suas condições de trabalho e de vida, enquanto as lideranças sindicais parecem mais preocupadas em manter o poder dentro das suas organizações do que em defender efectivamente os interesses da classe trabalhadora.

O Jornal Hora H procurou, em respeito ao princípio do contraditório, ouvir a versão do Presidente da Força Sindical, Cleófas Venâncio, sobre as questões levantadas. Após a solicitação feita por nossa equipa, Venâncio se mostrou disposto a conceder uma entrevista, garantindo que entraria em contacto assim que estivesse disponível, para um encontro presencial. No entanto, após mais de 72 horas de espera, sem retorno, a nossa redacção fez novas tentativas de contacto, mas não obteve sucesso: as ligações não foram atendidas e as mensagens enviadas também não receberam resposta.

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