A SAÍDA DOS RUSSOS DO PROJETO CATOCA: UMA ANÁLISE POLÍTICO-ECONÔMICA

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A recente decisão sobre a saída da Alrosa, empresa russa, da Sociedade Mineira de Catoca marca um dos capítulos mais sensíveis da política e economia angolana nos últimos anos. Este processo, desencadeado por sanções do G7 e pela necessidade de adaptação ao cenário geopolítico global, culminou após três anos de negociações e foi acelerado pela determinação e pressão direta da Presidência da República de Angola.

Respeitamos e seguimos fielmente as orientações do Presidente João Lourenço, a quem devemos total lealdade enquanto líder da nação. Contudo, como economistas e especialistas em planeamento estratégico, é imperativo que este tipo de dossier seja gerido com elevada cautela, ponderação e uma visão a longo prazo. O afastamento da Alrosa deve ser analisado sob diversas óticas, inclusive pela dimensão histórica e estratégica das relações entre Angola e a Rússia.

A Rússia sempre foi um parceiro histórico de Angola. Basta recordar que, durante a invasão sul-africana ao Cunene em 1981, dezenas de soldados russos perderam a vida em defesa da nossa soberania. A ligação entre as duas nações vai além do campo económico; ela se encontra profundamente enraizada na história, em valores de solidariedade e no apoio mútuo em momentos decisivos. Não se trata apenas de negócios, mas de alianças que resistiram ao teste do tempo.

No entanto, o cenário atual aponta para uma reorientação das prioridades nacionais, com foco em parcerias diversificadas. A entrada da Maaden-Investment Group, uma entidade com fortes ligações ao sultanato de Omã, representa a transição para um modelo de cooperação com novos atores globais. Esta decisão, apesar de fundamentada em razões econômicas e geopolíticas, exige que se reforce a prudência e o equilíbrio na condução dos negócios estratégicos.

É importante lembrar que a América, com quem Angola fortalece laços atualmente, desempenhou um papel crucial na formação de muitos dos nossos quadros técnicos e intelectuais, incluindo a conclusão da minha licenciatura e MBA. Ainda assim, a construção de uma nação próspera exige que saibamos navegar entre os interesses de diferentes blocos, respeitando as antigas alianças sem descurar as novas oportunidades.

A saída da Alrosa deve servir como lição sobre a importância de evitar a polarização nas relações internacionais. A interdependência global exige que Angola aja com responsabilidade, preservando sempre a soberania nacional e a sustentabilidade de seus recursos. No campo dos diamantes, por exemplo, é essencial garantir que os novos parceiros mantenham um compromisso inabalável com a transparência, o respeito ao meio ambiente e a valorização do potencial humano angolano.

Concluímos com um apelo à liderança nacional: que a diversificação de parcerias não signifique a quebra de pontes, mas sim a construção de uma Angola forte, capaz de integrar e liderar no cenário internacional, sem esquecer os sacrifícios históricos e os valores que nos trouxeram até aqui.

Por fim, cabe a todos nós, cidadãos angolanos, mantermos a confiança na capacidade do nosso governo de tomar decisões equilibradas e estratégicas. E que as lições aprendidas hoje nos preparem para um futuro em que o progresso seja sinônimo de equilíbrio, justiça e prosperidade para todos.

Por: Tyilenga Tyokuehandja

Economista

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