EM CADA 10 ANGOLANOS APENAS 3 TÊM ACESSO À ÁGUA DA REDE PÚBLICA
Apenas um terço da população angolana, cerca de 11,7 milhões de pessoas, tem acesso à água da rede pública, uma situação que se agrava pela falta de investimento em infraestruturas essenciais para expandir a rede e atender ao crescimento das cidades. As baixas tarifas e a ineficiência nas empresas do subsector de águas contribuem para a precariedade dos serviços, que enfrentam desafios na produção e cobrança de água.
Embora Angola possua 47 bacias hidrográficas principais, a maioria da população, especialmente nas áreas rurais, ainda enfrenta grandes dificuldades para acessar água potável. A concentração populacional nos grandes centros urbanos piora a situação nas zonas rurais, resultando em desigualdade no acesso a este recurso vital.
Em áreas urbanas, o investimento em novos sistemas de abastecimento e na reabilitação das infra-estruturas existentes não acompanhou o crescimento demográfico. Isso resultou na continuidade do negócio informal de água nas periferias das grandes cidades e em ligações clandestinas à rede, prejudicando o funcionamento do sistema. Em Luanda, por exemplo, algumas zonas peri-urbanas recebem água corrente apenas por três horas diárias.
O Instituto Regulador dos Serviços de Electricidade e de Água (IRSEA) alerta que a falta de investimento e a desinteresse de empresários privados pelo setor, onde o Estado controla toda a cadeia, têm atrasado a expansão dos serviços. A fraca cobertura e as baixas tarifas instabilizam a qualidade dos serviços, limitando a capacidade das empresas de água em se tornarem financeiramente autônomas e fazerem investimentos necessários.
Atualmente, a capacidade instalada de produção de água no país é de 1,5 milhões de metros cúbicos por dia, com 52% dessa capacidade concentrada em Luanda. Entretanto, apenas 64% dessa capacidade foi efetivamente produzida nos primeiros seis meses deste ano, revelando a ineficiência no setor.
O governo projeta expandir a capacidade de produção para 2,5 milhões de metros cúbicos por dia até 2027 e 4 milhões de metros cúbicos por dia até 2030. No entanto, com uma média de consumo de apenas 27 litros por pessoa por dia, muito abaixo da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que sugere entre 50 a 100 litros para atender necessidades básicas e evitar problemas de saúde, a situação continua crítica. Em termos de faturamento, as 18 empresas públicas de água faturaram mais de 33,7 milhões Kz, mas apenas 64% desse valor foi efetivamente cobrado. A maior parte da água faturada está concentrada nas províncias de Luanda, Benguela, Huambo e Huíla, totalizando 27,2 mil milhões Kz.