MENSAGEM DO SJA PARA O ISMAEL MATEUS

Quatro meses depois de ter completado os seus primeiros 60 anos de vida, Ismael Mateus deixou subitamente o nosso mundo na passada terça-feira dia 1 de Outubro na sequência de um aparatoso mas solitário acidente com a sua viatura.

Nesta hora em que todos nós ainda profundamente chocados com a triste noticia nos reunimos aqui diante do seu féretro para lhe prestarmos as derradeiras homenagens antes de o acompanharmos amanha até a sua última morada, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos não podia deixar de se associar a esta cerimónia solene com esta mensagem institucional que é antes de mais de solidariedade e de sentidas condolências dirigida à sua família enlutada nesta hora tão difícil em que ainda nos recusamos acreditar que não mais voltaremos a ter entre nós o Cidadão.

Depois é uma mensagem de reconhecimento e agradecimento por tudo quanto o Ismael Mateus fez pelo projecto Sindicato ao qual está historicamente ligado como membro fundador e Presidente do seu primeiro Conselho Deontológico.

Corria o ano de 1992, que marca o inicio da Segunda República, tendo o nosso Sindicato entrado igualmente para a história do país como tendo sido a primeira organização independente a ser proclamada fora da tutela politico-partidária da então Central Sindical única, a UNTA.

Por força da sua formação académica no exterior, Ismael Mateus desligou-se por alguns anos da actividade do Sindicato.

Após o seu regresso ao país, Ismael Mateus regressa igualmente ao Sindicato tendo sido eleito no seu 2º Congresso realizado em Maio de 2002 para Secretário-Geral da nossa organização com uma dinâmica extraordinária que de facto e de jure fez toda a diferença com o passado dos seus primeiros dez anos, tendo sido fundamental para o relançamento e afirmação do projecto à escala nacional com a consequente criação dos Secretariados Provinciais e implantação dos núcleos ao nível das grandes empresas do sector.

Permitam-nos aqui abrir um parêntese nesta mensagem para trazermos de volta as palavras do próprio Ismael proferidas na época e que resumem bem o seu legado que aqui queremos destacar como sendo a melhor homenagem que lhe podemos prestar.

“Hoje, disse ele, não se colocam mais problemas de organização que se colocaram no último Congresso e que se colocaram à minha gestão. Nós tivemos que organizar tudo. Expandir o Sindicato para o país. Fazer a campanha de cotização, fazer a campanha de aumento de filiados. Hoje em dia já não se põem esses problemas e portanto temos que discutir o quê que vai ser o Sindicato, quais são as posições do SJA. Temos que definir como é que devemos fazer a nossa relação com o Governo… Enfim é preciso rediscutir tudo num outra perspectiva, na perspectiva não mais de um sindicato que se quer implantar, mas de um SJA já implantado e que tem tarefas específicas, designadamente ao nível da política de segurança social, ao nível da política de assistência jurídica…”

Palavras do Ismael em vésperas do Congresso Extraordinário realizado em 2004 onde ele entendeu colocar o seu lugar à disposição.

Pelos resultados dos seus dois anos da gestão de um mandato que, lamentavelmente, foi interrompido a meio pelo impacto sempre pernicioso da desinformação, Ismael Mateus ficará, certamente, na história do nosso Sindicato com a dimensão de um refundador.

Faz pois todo o sentido para o SJA que esta mensagem seja de reconhecimento e agradecimento nesta hora em que nos despedimos do Ismael Mateus.

Como jornalista, Ismael Mateus soube sempre levantar bem alto a principal bandeira do Sindicato, a sua imagem de marca, com a qual o projecto nasceu e se afirmou ao longo destes 32 anos de existência.

Estamos a falar da defesa da liberdade de imprensa. Estamos a falar da luta contra a censura e a auto-censura. Estamos a falar da independência do jornalismo.

Estamos a falar de um país onde esta batalha ainda não está ganha.

Adeus, Ismael.

Adeus, Cidadão.

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