José Carlos de Almeida (Pensador & Escritor)

1 – Meus Caros Camaradas,
Não basta aplaudirmos. É importante reflectirmos. As possíveis deliberações do próximo congresso relacionadas com os requisitos de admissibilidade para se concorrer à liderança do partido poderão ser inconstitucionais ou anti-estatutárias. Por conseguinte, é necessário muita ponderação e reflexão, sob pena de algumas deliberações virem a ser alvo de impugnação junto do Tribunal Constitucional.
2 – Entretanto, se das deliberações do próximo congresso, os militantes de base não puderem concorrer à liderança do partido, o actual líder será considerado incoerente – incoerente em relação ao seu discurso, aquando da reunião com os primeiros secretários e segundos secretários dos CAP. Alias, é habitual haver algumas contradições nos discursos de algumas figuras do partido.
3 – O MPLA é constituído por homens, mulheres e jovens. Isto significa que há dois gêneros e diversos escalões etários. De acordo com os requisitos dos actuais estatutos, os militantes que preenchem esses requisitos podem concorrer à liderança, permitindo, assim, que haja abertura democrática interna.
4 – Nos demais partidos políticos e nas diversas associações desportivas, há democracia. Há diversidade de candidaturas. Com base em análise comparativa, pergunto por razão o MPLA não segue o mesmo caminho.
5 – Gostava de dizer que as pessoas passam e as instituições, empresas e associações permanecem. Por conseguinte, os interesses individuais ou de um grupo restrito de pessoas não devem prevalecer face a essas pessoas colectivas, em particular, em relação ao interesse do MPLA.
6 – É de recordar que o MPLA já teve vários presidentes. Contudo, embora com altos e baixos, ele se mantém firme. O interesse do MPLA deve estar acima dos interesses egoísticos de quaisquer membros.
7 – Caros Camaradas,
Todas as deliberações que possam prejudicar a democracia do nosso partido, bem como as que possam prejudicar a sua credibilidade devem ser desencorajas e rejeitadas. Reitero que o interesse partido deve estar sempre primeiro lugar. Aliás, está é um dos traços da minha filosofia em relação â política.
8 – O MPLA é um partido grandioso, pelo que se deve democratizar. O Presidente João Lourenço, enquanto “Campeão da Paz e da Reconciliação em África”, deve preocupar-se em se tornar “Campeão da Democracia, em Angola”. Como é que o Presidente da República e líder do MPLA gostava de ser recordado pelos angolanos?
9 – Há tempos, ouvi alguém dizer a possibilidade de o MPLA limitar a candidatura à sua liderança a militantes que já tenham governado. Esse eventual propósito é uma autêntica asneira! Se usarmos bem a cabeça para analisar, podemos inferir que há muitos militantes que já exerceram diversos cargos, mas que não foram brilhantes nas suas actividades. Não tiveram e nem têm visão. São míopes que se poderão tornar Presidente de Angola, um país que requer um líder visionário e abnegado. Por outro lado, os líderes dos partidos da oposição – que nunca governaram – podem tornar-se Presidente, se ganharem as eleições gerais. Se há essa possibilidade essa não faz sentido. Entretanto, valorizo as decisões e deliberações que resultem de profunda reflexão.
10 – Caros Camaradas do topo à base, nós membros do MPLA somos políticos. A nossa actividade é política. E os bons políticos têm de ter capacidade de reflexão. Todos nós temos de apoiar e aplaudir as ideias em harmonia com a nossa consciência. Devemos evitar apupos, sobretudo ao nosso líder cujo mandato se aproxima ao fim. Contudo, devemos rejeitar e impugnar decisões ou deliberações que prejudiquem o partido. Este deve ser um dos perfis de um bom militante de qualquer partido, em especial, o do MPLA.
11 – Nas famílias, diz-se a um jovens que não goste de estudar ou que tenha maus comportamentos, “Se não mudares, sempre que, na família, houver óbito, chamar-te-ão para comprar carvão, petróleo, gás butano ou para escamar peixe. Será que é isso que queres?” Com base nisso, pergunto o seguinte: Será que os militantes de base servem apenas para realizar essas actividades? Dito de outro modo, será os militantes de base apenas devem assobiar, gritar, dançar ou papaguear? Um militante de base pode sonhar com a assunção de diversos cargos partidários, o que, infelizmente, nem sempre é possível. Aliás, o Presidente João Lourenço, líder do partido, disse que muitos militantes de base competentes são preteridos a favor de “militantes melosos”, que por amiguismo, nepotismo ou confiança politica exercem cargos relevantes em sectores de “produção de mel”. O mel é só para eles.