A EXONERAÇÃO DO MINISTRO
I- Capitulo
Foi numa sexta-feira, nunca, nunca irei me esquecer desta data, alias, fico traumatizado a cada sexta-feira corrente.
Tinha claro uma agenda por cumprir no âmbito das minhas funções e competências. A todo vapor presidia uma reunião de carácter estadual.
Pouco depois a hora do almoço a reunião ainda decorria, mas sentia naquele instante um certo desconforto nos participantes, estavam atentos a lerem mensagens.
Foi um período rápido de apenas um minuto que caiu atenção para os telemóveis, logo depois seguiu outros instantes de concentração máxima, o meu Secretário do Estado atendeu uma chamada que parecia ser urgente e retirou-se.
Meu telemóvel chamava, era a minha Esposa, não atendi porque estava ainda reunido, no fundo do corredor vinha o meu operativo a mais de 30 anos, numa passada brutal de peito cheio, com rosto de preocupado pedindo licença para me alcançar.
Trazia com ele o telemóvel uma chamada aberta, encostou-no ouvido e disse:
– Chefe a patroa esta a ligar para o chefe não está atender, e mandou-me chegar ate aqui para lhe passar a chamada, mas antes queria dizer ao chefe que no noticiário das 13h00 ouvi que o chefe foi exonerado.
Coisas do género da sensação de apagão, de total desmaio. Recebi a chamada da minha Mulher que disse o seguinte:
Amor, sei que estava reunido e longe de se aperceber da noticia que acabamos de ouvir. É bem verdade que quando ascendemos nos esquecemos que amanhã seremos exonerados, afastados de uma elite, e nos vem o sentimento de revolta de que não tinha que ser deste jeito.
Mas o pior é que nos esquecemos que temos uma família, família que hoje esta aqui para lhe abraçar, aqui ninguém vai lhe exonerar, portanto meu marido eu e os teus filhos estamos a tua espera para o abraço e almoçarmos, fizeste a tua parte, o resto deixa para o próximo no caso o teu Secretário do Estado.
Senti que tinha uma mulher firme, uma companheira. Por fim dei mesmo por terminada a reunião, os verdadeiros companheiros, lamentaram, partilhamos abraços e nos retirámos todos.
Não era comum entrar com o carro na garagem. Mas neste dia ate vergonha da vizinhança senti, ninguém fica nada contente com esse postal da jornada politica, porque logo depois surge os comentários. Fui recebendo mensagens anónimas de perturbações, insultos violentos.
Seu trouxa, julgava ser casa da avó, incompetente e outras coisas mais.
Engrácia minha amada esposa, segurou-me logo dando um abraço corporal, e os filhos a volta, fizeram de tudo para garantir minha saúde.
No dia seguinte acordei desnorteado, não sabia o que fazer.
Chamei o operativo e disse a ele para preparar o carro para que fôssemos ao ministério tirar as pertences do gabinete. E ele me respondeu que já não eram necessários porque tinham providenciado tudo, o que me deixou animado.
Me lembrei que ainda não tinha parabenizado o novo Ministro, de seguida liguei mais de três vezes e sem sucesso.
Comecei então a viver a descontinuidade da minha exoneração, a muito que não ia aos convívios familiares, até óbitos as agendas de trabalho não permitiam, é um mundo em que os nossos parentes certamente falam muito mal de nós, mas se esquecem que nessa contra-capa de servir o pais, até biliscamos a harmonia familiar no dever de servir a pátria.
Não quero com isto justificar os meus erros, de chefe de família, parente, amigo, mas é bem verdade que quando descemos os degraus, queremos corrigir, observar, impressionar tudo e todos que quando fomos subindo eram parasitas.
Cresce em nós a imoralidade depressiva, a precocidade esvazia a nossa esperança de vida, de alguma forma amadurecemos em lhe dar com alguns assuntos.
No banco dos suplentes procuramos novos corredores para garantir o pão, também somos gente que padece, com sentimentos, mas que nem sempre somos justos no desempenho das nossas funções, não podemos tudo.
O que será de mim daqui para frente!?
Qualquer semelhança terá sido apenas uma coincidência.
Nada é eterno , uma reflexão para levar para vida.