NOVA DIVISÃO ADMINISTRACTIVA: SOBA MÁRIO CATAPI LAMENTA POSIÇÃO DO GOVERNO EM DIVIDIR ANGOLA
O Soba Mário Catapi, mostrou o seu descontentamento sobre a proposta da nova divisão administrativa, do território nacional uma vez que na sua opinião o governo, devia, antes de tudo, ouvir a opinião da sociedade civil e desenvolver as infra-estruturas das áreas que seriam transformadas em cedes municipais e províncias, disse o soberano na Grande Entrevista do Programa Especial Hora H de Tv Hora H.
ANNA COSTA E LUÍSA MUDILO
As vantagens e desvantagens da Nova Divisão político-administrativa, foi o tema em conversa da Grande entrevista do dia 27 de Março, com o Soba Mário Catapi, soberano da Região Leste de Angola.
JORNAL HORA H: SOBA MÁRIO CATAPI, COMO ESTÃO AS LUNDA SOCIALMENTE, SOBRETUDO, NO QUE CONCERNENTE À FOME?
MÁRIO CATAPI: A miséria generalizou a todo o país, mas, vou falar apenas da Lunda, pois a pergunta foi colocada para a Lunda, o que eu estou a ver, desde que cheguei aqui na capital, é a mesma coisa…encontrar um saco de arroz a 30 mil kwanzas, no passado não se esperaria que, isso acontecesse.
A Lunda hoje, ultrapassou a expectativa duma forma social… Às pessoas as vezes para conseguirem encontrar um quilo de arroz nas lojas do Mamadu, é com grande sacrifício, é só para dizer que, quanto a fome, na Lunda nem se fala… Eu penso que, o governo de Angola deve, traçar políticas convincentes, para conotar às dificuldades endémicas que está a surgir hoje, por conta da fome. Hoje o angolano já não é como ontem que, tinha o matabicho, o almoço e jantar…. As crianças não matabicham vão à escola com fome! No Saurimo saco de bombó está a 50 mil kwanzas, lá no município do Luau, onde tem matas de cultivo, à 45 mil kwanzas, não podia acreditar numa área onde tem matas, o saco de bombó custar num preço como este.
JHH: ENTRANDO JÁ NO NOSSO TEMA, COMO ENCAROU ESTA IDEIA DO GOVERNO DE MEXER O PAÍS ADMINISTRATIVAMENTE?
MC: Em termos administrativos, o que o governo teria feito, é consultar a sociedade angolana…
JHH: NÃO FORAM CONSULTADOS, SOBRETUDO, AS AUTORIDADES TRADICIONAIS?
MC: Isso não tem acontecido, porque as vezes o governo é governo, quando ninguém passa por cima do governo. Ele tem que ter um casamento com a sociedade angolana… Por que chamamos governo? Porque é um conjunto dos partidos políticos e estes partidos políticos, foram eleitos pelo povo. E são estes povos que deverão ser ouvidos, os partidos formaram o governo e nós somos parceiros do governo e na qualidade de parceiros, o governo tinha que nos ouvir, como é que poderemos decretar essa lei, da divisão administrativa… Apesar do território ser vasto, tinha que houver um casamento, mas isso não aconteceu.
JHH: O MINISTRO DE ESTADO, ADÃO DE ALMEIDA, DISSE QUE, A POPULAÇÃO FOI OUVIDA E A RESOLUÇÃO É DIVIDIR, PORQUE O POVO ESTÁ DE ACORDO COM A DIVISÃO ADMINISTRATIVA DO PAÍS.
MC: Ao menos, eu estou a vir da região leste e nunca vi o Ministro com a sua equipa a passarem pelas aldeias, quem vive debaixo da árvore é que conhece o que os passarinhos dizem. Eu sou o soberano, eu não vi nenhuma equipa do governo, a passarem bairro por bairro para ouvir. O quê que tem acontecido neste governo, eles pegam aqueles elementos que trabalham com eles nas instituições e pensam que são o povo, reúnem entre eles, criam ambientes, para dizerem que já auscultamos, mas não são aqueles os mais lesados, teriam que ir até aos confins, lá nas aldeias, eles não vão lá. Porque, estão cheios de charmes, nunca andam até onde existem os grandes sofredores, então isso….
JHH: O SOBA CONCORDA COM ESTA DIVISÃO?
MC: Bem, essa divisão administrativa, ela podia ser, duma forma estruturada, caso se o governo fosse ouvir directamente a sociedade civil e as outras autoridades tradicionais.
JH: NO DIA 25 DE JANEIRO DESTE ANO, O GOVERNADOR DO MOXICO, ERNESTO MUANGALA E TAMBÉM O GOVERNADOR DO CUANDO CUBANGO, JOSÉ MARTINS, ESTIVERAM REUNIDOS AQUI EM LUANDA E DISSERAM QUE FORAM ASCULTADAS AS AUTORIDADES TRADICIONAIS, A SOCIEDADE CIVIL E QUE SÃO UNÂNIMES, QUE HAJA A DIVISÃO ADMINISTRATIVA. POR ISSO, É QUE SE AVANÇA COM ESTAS DUAS PROVÍNCIAS, NUMA PRIMEIRA FASE.
MC: A Rainha Nhakatolo esteve cá em Luanda, todo mundo viu, o que lhe fez vir aqui é mesmo essa divisão, porque nós discordamos. Discordamos porque, quando o governo coloca Cassanje, Zambeze e nós estamos a dizer que o governo, teria que criar mecanismos. Nós já temos Zambeze lá em Moçambique, nós temos a província de Cassai lá no Congo Democrático, mas não, se o governo quisesse, duma forma administrativa, tudo bem a ideia seria boa, mas, se colocasse Moxico leste, conforme em 1978 o Dr. Agostinho Neto, dividiu, Lunda-Sul, Lunda-Norte, Cuanza-Sul e Cuanza-Norte, por quê que também não se cria estes espaços de Moxico leste e o Moxico Sul, a ideia não seria mal. É esta também que, a sociedade do Moxico quer. Por outro lado, o Moxico é muito grande, para sair da cidade do Luena ao Cazombo são aproximadamente 618 km, imaginemos aquela toda a chana despovoada, mas, tínhamos que ver um elemento, que o próprio município de Cazombo, onde querem colocar a província, nem 70.000 habitantes tem, como se qualifica isso? Penso que, o governo tinha que velar por essa situação, ou onde sairia mais habitante para criar-se uma província… Primeiramente, o governo tinha que criar condições no município do Luau, Camanongue e no município de Lumeje que não tem condições. E Pior, na sede municipal do Cazombo, tem uma rua e quando anoitece anda às escuras, por que o governo não reestrutura primeiro isso, antes de recorrer à divisão administrativa do país?
JHH: COM ESSA DIVISÃO ADMINISTRATIVA COMEÇA A SE MATAR A HISTÓRIA REAL DO PAÍS, UMA VEZ QUE, SE RETIROU DO MAPA O NOME DE MUANGAI E SABEMOS QUE É UM ESPAÇO MUITO HISTÓRICO, SOBRETUDO A UNITA. AO RETIRAR O ESPAÇO ONDE FOI CRIADA A UNITA, NÃO MATA TAMBÉM A HISTÓRIA DO PARTIDO?
MC: Mas, os movimentos de libertação, quando vieram aqui, tinham um pendor. Neste preciso momento eu não sei onde foi criado o MPLA, se foi em Luanda, Benguela, Cabinda, não se fala. O Agostinho Neto, quando foi no leste de Angola, principalmente na área onde eles querem dividir, onde tombou o Hoji ya Henda, é no Cazombo… Muitos dos luvales, ajudaram muito o MPLA, mas, hoje andam mal, ninguém os conhece e hoje querem dividir a província. Os luvales, lunda-ndembos, catchokwê, andam mal, hoje foram retirados da classe dos antigos combatentes, o partido como a UNITA e MPLA, deve respeitar os ideais. Respondendo à pergunta, ao criar essa divisão administrativa, é o que está acontecer atrapalha o nosso passado, se nós conhecemos que é Alto Zambeze, vão criar Cassanje Zambeze, é para nos dividir a nossa própria identidade cultural.
JHH: GEOGRAFICAMENTE, ACHA QUE A CAPITAL DE CASSAI, ZAMBEZE, QUE É CAZOMBO, HÁ CONDIÇÕES ARÁVEIS E ADMINISTRATIVAS PARA SER A CAPITAL?
MC: Não! Lá no Cazombo às pessoas estão a morrer a fome, nem medicamento tem. O povo do Cazombo quando fica doente, vai directamente para a Zâmbia.
JHH: QUASE SETE ANOS DE GOVERNAÇÃO DO PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO, QUAL É O BALANÇO QUE FAZ?
MC: Nestes sete anos de governação do Presidente João Lourenço…E eu sempre tenho dito que, ele fez alguma coisa, porque nós também não podemos negar, devemos valorizar aquilo que o homem faz. Tem dois pontos, positivo e negativo, nós devemos velar pela positividade do homem, não basta criticar, assim não seremos bons soberanos e melhores conselheiros. Hoje eu vejo a estrada da Lunda-Sul para Malanje, aquilo é uma grande “pista”. Estou a ver que é só a fome, neste sentido o Presidente deve trabalhar mais, para combater a miséria endémica que o povo angolano está a viver, porque este povo não pode viver nesta miséria. No tempo do outro Presidente, nunca chegamos neste ponto de comprar o saco de arroz à 30.000 Kwanzas; que o Presidente possa exonerar quem não está a trabalhar, mas alguns hospitais o Presidente está a fazer.
JHH: SE TIVESSE COMO CONSELHEIRO DO PRESIDENTE O QUÊ QUE LHE DIRIA?
MC: Eu tinha que apontar pelo que estou a ver e dizer que, isto está errado para levar à mesa dele e melhorar.
JHH: O QUÊ QUE O SOBA ACHA QUE ESTÁ ERRADO?
MC: Eu deveria andar o país todo, viver com o povo, ouvir o povo, avaliar aquilo que estou a ouvir do povo, porque eu, na qualidade de ser conselheiro do Presidente, passaria andar Angola inteira e conviver com a população sofredora, então, chegaria e diria o que está a faltar. Um soberano, ele vê os problemas e depois dá a solução.
JHH: SOBA MÁRIO CATAPI, TEM SAUDADES DO PRESIDENTE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS?
MC: Já é falecido, nós vamos ter saudades daquele que está em vida.
JHH: SE DESSEM A POSSIBILIDADE DO SOBA TER A DECISÃO DE DECIDIR SE O PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO VÁ AO TERCEIRO MANDATO, O QUE DECIDIRIA?
MC: Esse problema não é comigo, porque o soberano também depende do povo, o povo é que escolhe se dá ou não dá.
JHH: QUE MENSAGEM DEIXA AO POVO ANGOLANO E SOBRETUDO AOS GOVERNANTES?
MC: A esperança é a última coisa a morrer, nós vamos continuar a orar e ficarmos unidos, de Cabinda ao Cunene, vamos velar pelo amor. Pedimos aos governantes que, possam nos receber nos seus gabinetes, porque nós não vamos para pedir coisas, vamos para dar ideias.
Pode acompanhar a grande entrevista no Programa “ Especial Hora H, no canal do Youtube e Facebook “TV HORA H” numa condução do Jornalista Escrivão José.