ANGOLANOS NO GABÃO TEMEM MOMENTOS DRAMÁTICOS NA SEQUÊNCIA DO INCIDENTE DIPLOMÁTICO QUE ENVOLVEU UMA INVASÃO ARMADA À CASA DO PRESIDENTE DO CEEAC
A comunidade angolana residente na República do Gabão, estimada em mais de mil pessoas, a maior parte dos quais sem qualquer documentação que os identifique como cidadãos nacionais, teme piores dias na sequência de um incidente diplomático que envolveu uma invasão armada à casa do Presidente da Comunidade Económica do Estados da África Central (CEEAC), o angolano Gilberto Veríssimo.
NDOMBI ZADIMENGA
A comunidade angolana no Gabão, que enfrenta problemas de inserção no mercado de trabalho local, reside principalmente nas cidades de Libreville (capital), Franceville e Port-Gentil, diz que desde o incidente diplomático, os angolanos são questionados o porque é que o Governo do vosso País não reconhece as novas autoridades que golpearam o ex-presidente Ali Bongo.
“É um verdadeiro clima de tensão nos mercados onde fizemos os nossos negócios. Eles ameaçam-nos que se o vosso País não reconhecer o Governo do Presidente, o General Brice Oligui Nguema, vamos ser corridos do Gabão”, contou ao Jornal Hora H, Kiavila Neto que vive no Gabão há 20 anos.
Segundo este negociante, a embaixada de Angola no Gabão tem registados cerca de 415 angolanos, que se dedicam fundamentalmente a pequenos negócios (comércio).
Um outro comerciante, Mavaba Sebastião, disse que desde o incidente diplomático, as dificuldades multiplicaram-se para os cidadãos angolanos no Gabão.
“O ambiente mudou muito. Todos dias falam mal de Angola que não reconhece o novo Governo. Em muitas localidades temos o medo de nos identificar como angolanos”, queixou-se.
“A noção de que o Gabão é um País hospitaleiro, onde todos os estrangeiros são bem-vindos, não passa agora de um mito”, acrescentou Mavaba Sebastião.
O professor universitário, Ribeiro Altino Zua, disse que este incidente diplomático vem adicionar mais uma camada de tensão às já frágeis relações entre Angola e o Gabão.
“Mesmo próximos geograficamente, os laços entre estes dois Estados africanos que integram a Comunidade Económica do Estados da África Central têm vindo a deteriorar-se desde a chegada ao poder do General Brice Nguema, após um golpe de Estado no fim de Agosto”
Segundo apuramos, a missão diplomática de Angola, através dos seus serviços consulares, leva a cabo uma campanha de Registo da Comunidade Angolana nesse País.
O registo dos cidadãos angolanos na diáspora é uma prioridade do Governo e constitui um passo fundamental para dar solução aos inúmeros problemas que os compatriotas enfrentam.
O vice-presidente da Comunidade Angolana no Gabão, Francisco Sumbo, informou recentemente que a reinserção social dos cidadãos angolanos no país francófono não tem sido fácil.
O responsável fez saber que muitos angolanos entraram no Gabão sem documentos e agora precisam ser protegidos social e juridicamente, notando que, na sua maioria, vive de pequenos negócios, “muitos são comerciantes, carpinteiros, pedreiros e mecânicos”.
Refira-se que recentemente, Angola pediu explicações ao Gabão na sequência de um incidente diplomático que envolveu uma invasão armada à casa do Presidente da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC), o angolano Gilberto Veríssimo.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a diplomacia angolana pediu explicações ao encarregado de negócios do Gabão em Angola, Wilfird Ndundji Mundungue, sobre o “insólito acontecimento” ocorrido em Libreville, capital do Gabão, contra Gilberto Veríssimo.
As autoridades angolanas consideram que se tratou de “um ato de vandalização à mão armada”, envolvendo alguns homens envergando a farda das forças armadas gabonesas, “que arbitrariamente invadiram a residência oficial do presidente da CEEAC”.
De acordo com os relatos, “os invasores molestaram psicologicamente o presidente da CEEAC e a sua assistente, que se encontravam no interior da residência”.
Angola “manifestou profundo desagrado pelo sucedido, repudiou veementemente o ocorrido e exigiu das autoridades gabonesas explicações plausíveis” sobre o caso.
A secretária de Estado para as Relações Exteriores, Esmeralda Mendonça, apelou à “tomada de medidas severas contra os autores de tal ato”, sublinhando que “pôs em causa a segurança e a integridade física das entidades daquela organização sub-regional, que exercem o seu legítimo mandato naquele país que detém a sede da CEEAC”.