RESTOS MORTAIS DE LAURINDO VIEIRA REPOUSAM NO CEMITÉRIO DA SANT’ANA
Os restos mortais do sociólogo Laurindo Vieira, que foi tragicamente assassinado no passado dia 11 deste mês, repousam, desde terça-feira, no cemitério da Sant’Ana, em Luanda. O ambiente era de profunda consternação e comoção da parte da família, amigos, comunidade académica e da sociedade em geral.
Um professor dedicado e exemplar, que amava a pátria, foram os adjectivos mais usados para descrever o carácter e a vida honrada de Laurindo Vieira. A cerimónia fúnebre teve início no Quartel General do Comando do Exército (Ex/R20), onde contou com a presença de várias individualidades políticas e da sociedade civil, que aproveitaram o momento para lembrar e destacar os feitos do também reitor da Universidade Gregório Semedo.
Em memória do malogrado, nascido na província do Uíge e que ontem, dia 16, completaria 60 anos, foram lidas mais de dez mensagens de condolências, entre as quais a da vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, que destaca o papel do sociólogo como figura incontornável na reforma educacional do país.
“É uma figura incontornável na vida académica do país, porque sempre pautou pela defesa incondicional da verdade e da justiça, no ponto de vista da educação, sobretudo dos jovens”. A mensagem ressalta igualmente que a sua partida deixa um vazio enorme não só na instituição onde desempenhou o papel de reitor, até à data em que lhe foi prematuramente arrancada a vida, mas na sociedade como cidadão exemplar.
Na política, lê-se na mensagem, Laurindo Vieira desempenhou um papel fundamental na educação e construção de ideais que elevam o partido. A mensagem ressalta, ainda, a perda irreparável de um renomado sociólogo e académico com uma personalidade distinta, que contribuiu com o seu talento e saber na formação de diversas gerações.
Laurindo Vieira foi lembrado como um bom pai, irmão, avô, tio e amigo. Um homem que nunca deixava ninguém para trás e era sempre solidário com todos, assim como empenhado nas causas mais nobres. Os cânticos de louvor tomaram as emoções de quase todos, assim como os choros, lágrimas e até mesmo desmaios.
No local, foi também realizada a missa de corpo presente e lidas as mensagens da Universidade de Luanda, dos antigos colegas da escola comandante Gika, do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM), assim como do Instituto Superior de Ciências de Educação (ISCED). Ainda no velório do Ex- R20, o músico Kiaku Kiadaff interpretou um tema sentido em homenagem ao Professor Laurindo Vieira, com o título “O mestre não morre”.
PARTIDA PREMATURA
A vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, destacou, no elogio fúnebre, que o passamento físico do professor Laurindo causou um sentimento de enorme perda, pela partida prematura de um intrépido militante e académico distinto.
Neste momento difícil, descreveu Luísa Damião, as palavras revelam-se insuficientes para consolar e confortar a perda irreparável de um ente-querido, sobretudo quando se trata de um filho, irmão, pai e esposo, com invulgares qualidades humanas.
“A morte marca a passagem da vida para uma nova dimensão, difícil de aceitar. Mas eternamente ficam as memórias e as infindáveis recordações do seu papel no seio da família, dos amigos, colegas e camaradas”, refere a mensagem.
Luísa Damião recorda Laurindo Vieira como um político vertical, de fortes convicções, militante da primeira linha, insigne patriota, defensor de causas nobres, que sempre cumpriu com assinalável e elevado sentido de responsabilidade as distintas missões incumbidas.
Com o seu passamento físico, realçou, o MPLA perde um quadro com engajada militância, que por mérito próprio chegou a membro do Comité Central e Angola perde um renomado académico, com uma personalidade distinta, que contribuiu com o seu talento na formação de gerações.
CONTRIBUIÇÕES QUE TRANSCENDEM FRONTEIRAS
A ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria do Rosário Bragança, disse que as contribuições do professor Laurindo Vieira à sociedade transcendem fronteiras, por terem integrado a força motriz para o desenvolvimento da academia, que enriqueceu não apenas as instituições de ensino, mas também o avanço do conhecimento no país.
A ministra destacou, também, o compromisso do malogrado com a excelência académica, liderança visionária e a incansável luta pela educação. “Laurindo Vieira ajudou a moldar mentes e a influenciar, positivamente, muitas pessoas”, destacou.
Como professor, continuou, era mais do que um mestre, um guia inspirador para os colegas e um símbolo da educação de qualidade. “A perda do professor deixa um vazio, que vai ser sentido, não apenas nas salas de aula, mas em todo o panorama académico nacional, com particular incidência no ex-Instituto Superior do Serviço Social, hoje Faculdade de Serviço Social, na Universidade de Luanda, nesta última onde aceitou, de bom agrado, o repto de dirigir a comissão de gestão que, dentre outros resultados, tornou possível o início do exercício democrático nesta instituição de Ensino Superior.
Nos últimos 12 meses, disse, deixou mais um marco indelével no património educacional do país, como reitor da Universidade Gregório Semedo. “Certamente, deixa, nesta universidade, um sentimento de orfandade à comunidade académica”.
“O seu legado permanecerá como uma luz orientadora e um modelo a seguir para as futuras gerações de educadores. A sua paixão pelo conhecimento, a dedicação aos alunos e a excelência académica servem como inspiração para todos”, referiu.
A ministra pediu que o legado de Laurindo Vieira continue a iluminar os caminhos da academia. “Que a sua ausência seja sentida como um chamado para perpetuar os seus ideais. Neste momento de profunda tristeza, em nome do Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, endereço as mais profundas e sinceras condolências à família do professor. Que a sua alma descansa em paz”.
HISTÓRICO
Laurindo Vieira desempenhou funções de director do Gabinete da Provedoria de Justiça (2006-2011) e foi membro do Conselho da Provedoria de Justiça, assim como consultor junto da Assembleia Nacional.
O malogrado exerceu, igualmente, funções de chefe de secção de Educação Política e Propaganda na Direcção Nacional das FAPLA, foi instrutor para Agitação e Propaganda, coordenador-adjunto da Célula do MPLA no Porto/Portugal e, até a sua morte, reitor da Universidade Gregório Semedo.
O professor serviu, ainda, a pátria, envergando a farda do Exército Nacional na década de 80. Foi, ainda, comissário político das FAPLA, tendo pertencido ao primeiro curso médio na Escola Político-militar, Comandante Gika.
Laurindo Vieira foi doutorado em Ciências da Educação, pela Universidade do Porto, serviu ainda a Universidade de Luanda e foi director do Instituto Superior de Serviço Social. Quadro nacional de grande prestígio, foi formador do Centro de Treinamento e Estágio Profissional e psicólogo da Selecção Nacional de Futebol. Tem, igualmente, obras académicas publicadas, com destaque para “Angola, a dimensão ideológica da Educação, 1975-1992”.
GREGÓRIO SEMEDO
Em nome da direcção da Universidade Gregório Semedo (UGS), José Semedo considerou que a morte do professor representa para a classe académica daquela instituição um “golpe duro de se gerir”.
A morte, descreveu, não tem de ninguém dó e nem piedade, mas as circunstâncias de algumas delas, como é o caso do Sociólogo Laurindo Vieira, deixam sinais de revolta social, cuja repreensão de tal acto deve envolver a todos, independentemente de pertencer ou não à família.
A direcção da UGS recebeu diversas cartas que expressam as sentidas condolências pelo passamento físico de Laurindo Vieira, inclusive de outros países, que demonstram a grandiosidade da obra do sociólogo, que deixou contribuições inesquecíveis, resultantes de décadas de pesquisa científica.
Os estudantes da UGS expressaram a tristeza através da mensagem lida pelo presidente da associação, Arcanjo da Costa, destacando a verticalidade do professor Laurindo Vieira, desde a sua qualidade no ensino e a sensatez na resolução de diversos conflitos. “Vamos lembrar sempre o seu carácter com muito amor e perpetuar o legado de um bom catedrático”.