EXPECTATIVAS DE 2017 “VIRARAM PESADELO E FRUSTRAÇÃO PARA MUITA GENTE”
“Três anos atrás o mal de Angola era o José Eduardo dos Santos”, passados t”O SISTEMA É O MESMO”, DISSE.
rês anos de governação de João Lourenço muitas têm sido as vozes que se fazem ouvir no que respeita a uma avaliação da sua performance.
No Angola Fala Só desta sexta-feira, 9 de outubro, o convidado Elias Isaac não poupou críticas aos três anos de governação do Presidente angolano, mas acima de tudo evidenciou que estes três anos não se podem separar dos 45 anos de MPLA no poder.
“Com excepção da declaração da luta contra a corrupção, contra a impunidade – e também existem questionamentos em relação isso, porque a declaração da luta contra a corrupção é uma questão de sobrevivência económico-financeira do regime, não é uma questão da nação”.
O reverendo e antigo director da Open Society em Angola lembrou que o estado social dos angolanos é “cada vez mais pobre”: “Não só por causa da pandemia, mas muito antes da pandemia as várias políticas sociais-económicas não conseguiam resolver o problema da população”.
URGE MUDAR A CONSTITUIÇÃO
“Não é possível mudar políticas económicas e sociais se não se mudar a política estruturante do país… e um dos problemas tem a ver com a Constituição”, aponta Isaac que defende que há ainda níveis de intolerância política no país, o que demonstra que “o país (na prática) não mudou”.
O reverendo diz que cabe agora aos cidadãos “fiscalizar a democracia”.
Perante as promessas de 2017, Elias Isaac referiu que isso é o que os políticas fazem e, naquela altura, o MPLA criou não só esperança, como expectativas e agora viraram o pesadelo e frustração de muita gente”.
Para o convidado há ainda falta de transparência: “A governação continua muito fechada (…) com este processo de combate à corrupção o governo confiscou vários edifícios, vários bens de pessoas que usaram fundos dos cidadãos que pagam impostos, mas os bens estão a ser propriedade do Estado – esta é a política de uma economia centralizada, em que o Estado controla tudo”.
Elias Isaac deixa a sugestão de que o governo deveria de forma “expedita” tornar esses bens privados.
JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS – O MAL A COMBATER
Ainda sobre as promessas do governo, Elias Isaac lembra que isso é o que os políticos fazem e a idea de mudança em 2017 foi como um rebuçado que os adultos dão às crianças e depois não têm mais para dar, quando a criança pede por mais.
A analogia serviu também para comentar as recentes acusações de censura contra a TV Zimbo, que envolvem o jornalista Carlos Rosado de Carvalho e o caso Edeltrudes Costa.
O antigo director da Open Society diz que “três anos atrás o mal de Angola era o José Eduardo dos Santos, então toda a bateria estava virada para José Eduardo dos Santos e a sua família (…) então era conveniente que os órgãos de comunicação social estivessem abertos e deu-se esse rebuçado às pessoas. Todo o mundo tinha acesso, os espaços eram abertos, porque havia um mal, havia o combate à corrupção e os que roubaram estavam bem identificados”.
Isaac diz que quando outros nomes começaram a vir à tona neste combate à corrupção, nomes de pessoas que fazem parte do governo, as coisas começaram a fechar.
Mas ele reafirma: “Não há diferença, a questão de Angola não é João Lourenço, não é José Eduardo dos Santos, é o MPLA, é o sistema”.
IGREJAS, ESTADO E COVID-19
Sobre a resposta do governo à Covid-19, o reverendo concorda com as restrições ao culto religioso em igrejas, por considerar que esses espaços fechados podem ser locais de propagação do vírus, deixando claro que “a igreja são as pessoas e não as paredes” e rejeitando a comparação com entre os templos religiosos e os estabelecimentos comerciais, como bares e restaurantes.
“Temos que analisar caso a caso”, referindo também que os estabelecimentos comerciais têm um factor sobrevivência económica associado.
IGREJAS CÚMPLICES DO ESTADO
O reverendo deixou ainda a crítica às igrejas que se consideram “parceiras do Estado”: “A igreja tornou-se surda e muda mediante as condições sociais e económicas e mesmo políticas em que os próprios membros da igreja vivem, isto é um contra-senso do reino de Deus”.
“Se a igreja entendesse a força e o poder que ela tem muita coisa aqui em Angola poderia mudar. Infelizmente a igreja Católica tornou-se uma voz solitária no deserto, outras igrejas tornaram-se cúmplices”, disse Elias Isaac em relação aos líderes religiosos em Angola.
Regresso às aulas – uma factura muito elevada
Colocando em causa as condições sanitárias das escolas pré-pandemia, no que respeita ao regresso às aulas, o convidado diz que Angola vai pagar uma “factura muito elevada”, a qual tem como pagar, com a reabertura das escolas.
“Não é possível nós de um momento para o outro criarmos condições para albergar as crianças”, diz Isaac, que recorda que antes da Covid-19 as escolas já careciam de condições de saúde básicas.
Discordando da reabertura, o convidado dá o exemplo da Europa e dos Estados Unidos onde sempre que se tentam reabrir as universidades os casos de infecção por Covid-19 aumentam.
“O governo não podia reabrir as escolas sem passar por uma testagem massiva, tanto dos professores, como dos funcionários e dos alunos”.
“O que é que vai acontecer se um professor ou um aluno na sala testar positivo?”, questiona Elias Isaac acrescentando que além do “sistema de saúde angolano não ter capacidade de resposta, já não existe dinheiro do orçamento para o combate à Covid-19”. VOA