JOÃO LOURENÇO QUER MODERNIZAÇÃO DAS FAA COM O QUE HÁ DE MELHOR NO MUNDO
O Presidente João Lourenço defendeu, quarta-feira, em Menongue, a reorganização e modernização das Forças Armadas Angolanas (FAA) com o que há de melhor no mundo em armamento, técnica e equipamentos militares.
João Lourenço, que falava na abertura de uma reunião com as chefias militares, na qualidade de Comandante-em-Chefe das FAA, disse ainda que o país deve formar especialistas militares nas melhores escolas e academias militares do mundo, assim como adquirir equipamentos, armamento e técnica militar aí onde forem abertas as portas e garantido financiamento em condições favoráveis.
João Lourenço referiu que este investimento vai permitir às FAA maior capacidade de resposta a qualquer tentativa de subversão do poder legitimamente constituído, da defesa da paz e da reconciliação nacional e da democracia, para que Angola se possa dedicar, sobretudo, ao desenvolvimento económico e social.
O Presidente da República ressaltou que as FAA devem ser fortes e eficazes no seu papel de dissuasão de todo o tipo de ameaças, factor que considerou importante para a estabilidade e unidade nacional.
“As Forças Armadas Angolanas têm a oportunidade de, em tempo de paz, ajustar os efectivos a essa nova realidade de ausência de um inimigo real identificado, de se reorganizar, se modernizar com o que há de melhor no mundo em armamento, técnica e equipamentos militares”, realçou.
O Chefe de Estado salientou que, com o fim da Guerra Fria e com a opção política da construção de um Estado Democrático e de Direito e da economia de mercado, Angola deve diversificar a cooperação e parcerias também no domínio da defesa e segurança, procurando, igualmente, formar oficiais e especialistas militares nas melhores escolas e academias militares do mundo, assim como adquirir equipamentos, armamento e técnica militar aí onde “nos forem abertas as portas e garantido financiamento em condições favoráveis”.
Fez saber que uma primeira experiência nesta direcção está já a acontecer com a Marinha de Guerra, que está a ser equipada, no quadro da sua potenciação, com embarcações navais de diferentes categorias, a fim de enfrentar, em melhores condições, as ameaças da pirataria e do terrorismo internacional nas águas territoriais da nossa extensa costa marítima, assim como cooperando, também, com outras marinhas de guerra dos países do Golfo da Guiné. Na sequência desses esforços, o Presidente da República disse que a preparação combativa e a formação do homem, nos estabelecimentos de ensino militar de todos os níveis que o país possui, deve ser uma constante, para manter bem alto o grau de prontidão combativa das unidades das nossas Forças Armadas.
Sobre este particular, o Presidente da República salientou que a docência, nas escolas e academias militares, sejam asseguradas não só por expatriados contratados, mas, sobretudo, por oficiais-generais e oficiais angolanos, incluindo reformados das diferentes especialidades, que se sintam ainda com capacidade para transmitir a sua rica experiência dos combates e batalhas travadas ao longo dos anos de serviço prestados à Pátria. Associado a isso, disse ser, também, necessário a realização de palestras dirigidas aos cadetes pelas testemunhas ainda vivas sobre a participação nas grandes batalhas, como do Ntó, Kifangondo, Ebo, Cahama, Cangamba, Mavinga, Cuito Cuanavale e outras não menos importantes.
O Presidente da República, que terminou ontem a visita de trabalho de dois dias à província do Cuando Cubango, lembrou que nas arquitecturas dos Estados as Forças Armadas jogam, sempre, um papel de destaque, que nunca deve ser negligenciado. Aqui, ressaltou que as Forças Armadas Angolanas foram, desde os primórdios da nossa Independência Nacional, determinantes na manutenção da soberania nacional e da integridade territorial do país quando teve de enfrentar a ameaça que representava o regime do apartheid da África do Sul.
“Foi nesta província do Cuando Cubango, na histórica Batalha do Cuito Cuanavale, que as nossas Forças Armadas quebraram o mito da invencibilidade do seu exército, como defendia o regime do apartheid”, realçou.
João Lourenço recordou que estas mesmas Forças Armadas Angolanas, que defenderam o país das agressões externas, também negociaram, com sucesso, a paz e a reconciliação nacional, “cujo 21º aniversário comemorámos há dias”.
Atenção ao desenvolvimento da indústria de defesa
O Presidente da República salientou ser necessário prestar-se, também, uma atenção particular à necessidade do desenvolvimento das indústrias de defesa viradas para a produção e manutenção de armamento e técnica militar diversa, munições, fardas, botas e utensílios de caserna.
Sobre este desiderato, revelou estar prevista a conclusão, dentro de dois meses, das obras de ampliação e modernização da base naval do Soyo e a perspectiva da construção daquela que virá a ser a principal base naval do país. Adiantou que esforços devem ser, igualmente, direccionados no sentido de as Forças Armadas Angolanas desenvolverem a produção agrícola e pecuária, em grande escala, para garantir a auto-suficiência alimentar dos efectivos e ter excedentes para injectar no mercado de consumo.
O Chefe de Estado ressaltou que as Forças Armadas Angolanas devem contribuir na resolução de problemas das comunidades próximas das unidades, fazendo com as unidades de engenharia a manutenção das estradas secundárias e terciárias, a construção de pontes, furos e reservatórios de água para as populações e o gado, participar nas operações de salvamento das populações sinistradas vítimas de calamidades naturais, como enxurradas ou seca severa, nas campanhas massivas de vacinação em cooperação com o sector da Saúde, nas campanhas de recolha de resíduos sólidos e em outras acções sociais.
Manobras militares
O Presidente da República felicitou, na ocasião, as chefias militares de todos os escalões pelo sucesso das manobras militares, realizadas terça-feira, no Polígono Central de Adestramento das Forças Armadas Angolanas, situado na localidade de Soba Matias, a 60 quilómetros da cidade de Menongue.
“O nosso reconhecimento a todos os generais, oficiais, sargentos e praças que estiveram empenhados desde a fase de planeamento, organização, preparação e realização exitosa da manobra. A todos, os meus parabéns”, felicitou. O Chefe de Estado recordou que estas manobras militares tiveram lugar na província do Cuando Cubango, onde foi travada a grande Batalha do Cuito Cuanavale, que foi decisiva para a derrota e expulsão das tropas do exército do regime do apartheid, que ocupava parte do solo angolano, oprimindo, deste modo, o povo sul-africano e ameaçava a soberania dos países da parte Austral do continente africano.
João Lourenço lembrou que a vitória no Cuito Cuanavale abriu o caminho das negociações que culminaram com os acordos de Nova Iorque e conduziram à Independência da Namíbia, à libertação de Nelson Mandela, ao fim do apartheid e à instauração de um regime democrático na África do Sul.
Acrescentou que estas manobras realizaram-se no mês de Maio, altura do ano em que se comemora a vitória da humanidade sobre o nazismo, responsável pela perda de 50 milhões de vidas humanas, entre as quais as do Povo Judeu, vítima do Holocausto. “O ser humano nasceu para ser livre, crescer, se desenvolver e realizar os seus sonhos. É neste quadro que foi abolida a escravatura, derrotado o nazismo e graças à luta secular dos povos oprimidos, também o colonialismo foi derrotado e, assim, surgiram novas nações livres e soberanas”, frisou o Presidente da República, para quem, apesar dessas importantes conquistas, o mundo de hoje ainda não é tão seguro quanto seria de desejar.
“Continuam a surgir no mundo ocorrências perigosas, como a ameaça da confrontação nuclear, o terrorismo internacional, as tomadas de poder inconstitucionais ou mais vulgarmente conhecidas como golpes de Estado, as guerras de agressão, invasão, ocupação e anexação de parte de territórios de países soberanos e o mercenarismo ao serviço dos Estados”, lamentou.
Disse que o mundo acompanha, com muita atenção e preocupação, a tensão na Península Coreana, o conflito israelo-palestiniano, o degradar da situação de segurança na região do Sahel, em África, no Leste da RDC, em Moçambique e no Corno de África.
O Chefe de Estado encorajou as partes beligerantes no Sudão a estabelecer um cessar-fogo, para negociar a paz definitiva que ponha fim à guerra que, em poucos dias, ceifou centenas de vidas, criando milhares de deslocados internos e de refugiados para os países vizinhos.
Em relação ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que persiste por mais de um ano, com fortes indícios de ganhar proporções que ameaçam, cada vez mais, a paz e a segurança mundiais, o Presidente da República apelou para que se faça tudo, de modo a se evitar o escalar do conflito.
“É necessário que haja diálogo entre a Rússia e a Ucrânia, para o estabelecimento de um cessar-fogo que abra caminho à negociação de uma paz definitiva”, defendeu o estadista angolano, para quem a soberania e a integridade territorial da Ucrânia devem ser respeitadas, como consagrado no Direito Internacional e na Carta das Nações Unidas, “a que todos nós estamos obrigados a respeitar”.
“Angola defendeu-se da agressão do exército do apartheid da África do Sul, mas, na hora de negociar a paz, teve de o fazer com o envolvimento de outros Estados, negociando e assinando os acordos quadripartidos de Nova Iorque”, ressaltou.
Nesta conformidade, prosseguiu, defendemos não só a necessidade do estabelecimento de negociações directas, entre a Rússia e a Ucrânia, entre a Rússia e os Estados Unidos, como, também, entre a Rússia e a OTAN, para assegurar uma paz duradoura não apenas para a Ucrânia, mas para a Europa e o mundo, evitando-se uma perigosa confrontação nuclear.
O Presidente da República salientou que o momento é crucial para se começarem a dar passos concretos na busca das soluções para o alcance da paz pela via negocial, “para não nos arrependermos mais tarde”.
O Chefe de Estado referiu ser altura certa, também, para serem dados passos concretos, no sentido de se fazerem as reformas necessárias no Conselho de Segurança das Nações Unidas, no Fundo Monetário Internacional, no Banco Mundial e na Organização Mundial do Comércio.