RESTOS MORTAIS DE DOM FRANCISCO VITI REPOUSAM NO CEMITÉRIO DO KUANDO
Os restos mortais de Dom Francisco Viti, Bispo Emérito da Arquidiocese do Huambo, repousam no cemitério da Missão Católica do Kuando, onde já foram enterrados os primeiros missionários Católicos a chegarem no território do Huambo, num ambiente de profunda tristeza.
O adeus ao sacerdote reuniu bispos, padres e religiosos de diferentes Dioceses da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, CESAT, políticos, familiares e milhares de fiéis que acompanharam até a sua última morada.
O corpo de Dom Francisco Viti foi velado na Sé Catedral do Huambo e a missa de corpo presente aconteceu no pavilhão Multiuso Osvaldo Serra Van-Dúnem, na Cidade Alta, celebrada pelo Arcebispo do Huambo Dom Zeca Martins.
Na sua homilia, Zeferino Zeca Martins, disse que Dom Francisco Viti, desde a sua tenra idade, procurou Deus, bem como ser um grande seguidor da palavra divina.
Dom Francisco Viti como Arcebispo do Huambo fez pastoral numa fase conturbada da História de Angola, marcada por uma luta feroz do alcance da paz e a santidade dos filhos de Deus, foi um acérrimo defensor da cultura e da cidadania e formou muita gente dentro e fora de Angola.
“Foi um autêntico colaborador nas actividades pastorais mesmo na sua condição de emérito, viajando em todos os pontos da província a anunciar o evangelho do reino de Deus”.
O presidente da CEAST Dom Manuel Imbamba disse que Francisco Viti marcou a transição da igreja na época colonial e depois da independência, foi um dos bispos fundadores da angolanidade católica.
A sua partida representa um vazio, o malogrado tinha a capacidade de discernir os acontecimentos, e encontrar as soluções para melhor servir a palavra do senhor.
“Dom Francisco Viti primou muito pelo orgulho pátrio, africano e universal, deu bom exemplo e os seus ensinamentos vão ser preservados até sempre, em prol da comunhão e da fraternidade.
Dom Manuel Imbamba disse que a CEAST acompanhou com muita cautela e oração a luta dos 60 dias entre a vida e a morte, em que Dom Francisco Viti esteve internado, mas quando chegou a hora da chamada de Deus, ele cedeu a alma ao Criador.
Durante os seus 48 anos como bispo das Dioceses de Menongue e do Huambo, foram registadas várias tarefas que desempenhou na CEAST, sobretudo na coordenação de comissões episcopais dos seminários e da saúde, bem como o seu contributo valioso nos Sínodos e na Associação Inter-regional dos Bispos da África Austral, IMBISA, onde representou a igreja de Angola.
MENSAGEM DA SANTA SÉ
A mensagem da Santa Sé, assinada pelo Cardeal Secretário de Estado de Sua Santidade o Papa Francisco, Pietro Parolin, destacou que o santo Padre implora diante de Deus, que Dom Francisco Viti encontre a paz bendita e exprime sentidas condolências a todos quantos o amaram e beneficiaram da sua solicitude pastoral.
Dom Francisco Viti, segundo a nota, procurou ler e dar cumprimentos aos desígnios de Deus para a história atribulada de Angola.
MENSAGEM DOS PADRES DA ARQUIDIOCESE DO HUAMBO
A mensagem de todos os padres da Arquidiocese do Huambo, lida pelo reverendo padre José Gonçalves, diz que Francisco Viti tinha uma forte devoção à Virgem Maria e que era um bispo Mariano.
Na sua peregrinação terrena, escolheu a Mãe de Jesus como a sua catequista e mestre de toda a sua acção evangelizadora.
“Ele era um bispo muito estudioso e de muita ciência, um homem que lia muito não só para si, mas também para os outros, para despertar as consciências distraídas, o grande valor que tinha este país Angola, ele lia os sinais dos tempos, uma das suas riquezas eram os livros.
Ficam para sempre bem acesos os seus apelos e ensinamentos, foi um grande defensor da dignidade humana, exortou o povo contra a ignorância, o analfabetismo, o ateísmo prático.
Nas festividades do dia 4 de Abril do corrente ano, foi reconhecido pelo Governo Provincial do Huambo como grande apóstolo da reconciliação em tempo de guerra e de paz.
Foi um eterno apaixonado pela formação do seu povo, e não se cansava de exortar, “escola, escola, escola”, e dizia que a libertação do angolano passa pela educação.
MENSAGENS DE CONDOLÊNCIAS DA VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA
A Vice-Presidente da República, Esperança Maria Francisco da Costa, endereçou uma mensagem de condolências à Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, CEAST e ao Arcebispo da Arquidiocese do Huambo, onde manifesta que recebeu a informação do falecimento de Dom Francisco no dia 15 de Abril, com muita tristeza.
A partida de Dom Francisco Viti, um fiel pregador da fé, com uma longa caminhada pastoral em Angola, representa uma perda irreparável para todas as Diocese e congregações religiosas, de toda a sociedade angolana, e em particular a Arquidiocese do Huambo, que ficam privados de uma presença missionária muito activa.
A nota de condolências afirma, ao terminar, dizendo que, qualquer palavra é insuficiente para servir de consolo nesta hora de profunda dor e consternação, porque Dom Francisco Viti era pregador da fé, dedicado a ajudar as pessoas carenciadas nas mais diversas regiões do país.
Na ocasião, foram lidas igualmente várias mensagens de condolências, onde se destaca a da Ministra da Saúde Sílvia Lutucuta, das embaixadas da Nigéria e Beni, de dioceses de Angola e respectivos governos provinciais e de todos partidos políticos com assento parlamentar.
A governadora do Huambo Lotti Nolika disse que toda a comunidade cristã e não só da província, esperava que Dom Viti regressasse em vida, para continuar com a sua missão de evangelização dos seus fiéis que tanto esperavam da sua sapiência.
Deu o seu melhor, pregou e fez muito para o povo do Huambo e o seu contributo na pacificação da sociedade huambuense.
“Desde muito cedo tive ele como um Pai na Fé, tenho muitas lembranças dele, já recorri a ele para pedir muitos conselhos, e os seus ensinamentos ficam comigo de forma indelével” disse a governadora do Huambo.
O arcebispo emérito da Arquidiocese do Lubango Dom Zacarias Kamuenho disse estar a testemunhar que Dom Francisco Viti procurou sempre fazer o melhor, e sempre dizia que queria morrer num sábado e assim aconteceu.
A vice-presidente da UNITA Arleth Tchimbinda disse que Dom Francisco Viti foi um homem que muito batalhou para que em Angola houvesse paz e reconciliação. Deixa memórias de uma pessoa simples, sábia, congregador e sempre levou a palavra de Deus em todos os cantos de Angola.
Foi um pastor sempre presente na sua comunidade, a espalhar o amor, a concórdia, harmonia por todos os pontos onde passou e sempre pregou o bem-estar entre os angolanos e a melhor maneira de homenageá-lo é seguir os seus conselhos, porque teve a vida de um verdadeiro cristão.
De lembrar que o Arcebispo emérito da Arquidiocese do Huambo, morreu aos 89 anos de idade, cuja causa foi o acidente de viação ocorrido no dia 19 de Fevereiro no município da Chicala Cholohanga, quando regressava de uma missão pastoral na Diocese de Menongue, cujos ferimentos o obrigaram a ser evacuado para a província de Luanda.
Dom Francisco Viti, que no mês de Agosto completaria 90 anos, faleceu no princípio da noite de sábado, dia 15 de Abril, no Hospital Cardeal Alexandre do Nascimento, onde esteve internado desde 19 de Fevereiro último, depois de ser evacuado com urgência após sofrer o acidente, e submetido a uma intervenção cirúrgica craniana.
Dom Francisco Viti nasceu na aldeia de Misasa-Evanga, bairro Sachiyo, município da Ganda, província de Benguela, no dia 15 de Agosto de 1933, fez estudos primários de 1945 a 1949, na Missão Católica do Ndunde-Ganda, de 1949 a 1955, fez o ensino secundário no Seminário Menor da Kahala (Caála), de 1955 a 1963 fez os estudos superiores de Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Cristo Rei Huambo.
Foi ordenado a padre em 14 de Julho de 1963 e colocado na paróquia da ex-Vila Nova, hoje Chicala-Cholohanga, de 1970 a 1972 licenciou-se em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana Roma, Itália, de 1972 a 1974 licenciou-se em Teologia Pastoral no Instituto Católico de Paris,
Foi nomeado bispo no dia 10 de Agosto de 1975, pelo papa Paulo VI, fundou a então Diocese Serpa Pinto, hoje Menongue, sendo um dos primeiros bispos nomeados na época colonial.
No dia 12 de Setembro de 1986, foi nomeado pelo papa João Paulo II como Arcebispo da Arquidiocese do Huambo, função que desempenhou até 31 de Julho de 2003, isto é, há 17 anos.