LUANDENSES FICARAM EM CASA PARA REFLECTIR A SITUAÇÃO DO PAÍS “NO DIA 31 FICA EM CASA”
Escassez de táxis, paragens vazias, armazéns na zona do Kikolo com portas fechadas. Foram as fotografias registadas pelo Correio da Kianda nas primeiras horas da manhã desta sexta-feira, 31, no município mais a norte de Luanda, Cacuaco.
Está a ser associado a falta de táxi, a fraca aderência de alunos do período da manhã em algumas escolas, e o absentismo no trabalho, devido a manifestação convocada através das redes sociais.
Segundo alguns comerciantes de origem libanesa, proprietários de armazéns na zona do Kikolo, ouvidos pelo Correio da Kianda, disseram que o encerramento deveu-se a convocação da manifestação. “Não sou o único, muitos dos meus conterrâneos também fecharam as lojas, e dispensaram os seus trabalhadores”, disse, Abdul.
O cenário também verificamos nos mototaxistas. Em Cacuaco, assim como na zona do São Paulo e na baixa de Luanda, pouco são os jovens que pelo menos, nas primeiras horas de hoje saíram às ruas para trabalhar. Procuramos saber as razões de alguns e tivemos como resposta o seguinte: “alguns colegas não vieram trabalhar por medo, por causa desta manifestação que se fala nas redes sociais, mas muitos vão entrar na via mais tarde.
Entretanto, durante a nossa passagem pelo São Paulo, registamos ainda um reforço do contingente da Polícia em algumas zonas.
O dia anterior
Após vários dias a circularem nas redres sociais e nos media informações sobre a iniciativa “No dia 31 Fica em Casa, não vamos trabalhar”, a Polícia Nacional (PN) emitiu, na quinta-feira, um comunicado onde garantia que iria responsabilizar criminalmente todos aqueles que provocassem desordem pública.
A manifestação com um pendor pacífico foi marcada pelo activista angolano “Gangsta”, que apela à população para aderir de forma a expor a insatisfação generalizada contra o actual governo e reivindicar melhores condições de vida.
A PN pronunciou-se sobre o assunto dizendo no seu comunicado que ” todos aqueles que persistirem nestas práticas de rebelião e vandalismo, serão responsabilizados criminalmente, porque a situação de segurança pública do País é estável e as forças da ordem estão prontas para darem resposta à qualquer acto que visa perturbar a tranquilidade pública”.
A direcção geral da PN apela às populações, no sentido de não aderirem a este acto, advertindo todos aqueles que estejam envolvidos na promoção desta acção, que poderá alterar a tranquilidade pública, de que a polícia vai actuar em conformidade.
UNITA apoia iniciativa
O Secretariado Executivo do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA divulgou, no início da semana, um comunicado onde manifestava a solidariedade do maior partido da oposição à iniciativa.
Sublinhando que a Constituição legitima esta iniciativa, a UNITA “solidariza-se com a causa dos activistas e apela ao governo para prestar maior atenção às causas da insatisfação e da contestação, generalizadas”.
O partido do “Galo Negro” diz ainda que a justificação para esta iniciativa, com respaldo na CRA, são os “níveis elevados de desemprego, pobreza, alto custo de vida, corrupção institucionalizada e constantes violações dos direitos humanos, agravam a insatisfação e o desespero da juventude com a actual governação”.
E, numa altura em que esta iniciativa ganha tracção nas redes sociais, onde está igualmente a ser fortemente criticada por elementos próximos do poder, o partido de Adalberto da Costa Júnior aproveita o mesmo documento para “condenar veementemente a campanha de intoxicação da opinião pública nacional e internacional, levada a cabo por órgãos do Estado, que visa desvirtuar iniciativas de livre exercício de cidadania, plasmadas na Constituição da República de Angola”.