ESTADO MAIOR DO KUDURO: CEMITÉRIO DE SANT’ANA “ENCERRA” AMANHÃ PARA RECEBER RESTOS MORTAIS DE NAGRELHA
O kudurista Nagrelha, que morreu na sexta-feira, 18, vai ser enterrado esta terça-feira, 22, no cemitério de Santana, que foi reservado exclusivamente para o seu funeral devido à enorme legião de fãs que são esperados para a despedida do “Estado Maior” do Kuduro.
A Polícia Nacional já informou que mobilizou mais de 800 agentes para manter a tranquilidade pública durante o cortejo fúnebre.
O funeral de Gelson Caio Manuel Mendes, “Nagrelha”, dos Lambas, está marcado para as 10:00, em Luanda, no cemitério da Santana, que encerrou para os demais enterros neste dia e foi exclusivamente reservado para a descida à terra do ” Estado-Maior” do Kuduro.
De acordo com um comunicado da comissão criada para as exéquias de Nagrelha, a concentração será no Estádio da Cidadela, às 09:00. O cortejo fúnebre vai passar depois pelo campo Mário Santiago e pelo Baião, Sambizanga, lugares com grande significado para o cantor, e seguirá para a sua última morada (cemitério de Santana).
A Polícia Nacional disponibilizou mais de 800 agentes manter a tranquilidade pública durante o funeral de “Naná”, como era também carinhosamente tratado o kudurista.
Gelson Caio Manuel Mendes “Nagrelha”, falecido na última sexta-feira, 18,aos 36 anos, em Luanda, no Complexo Hospitalar de Doenças Cardio-Pulmonares Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, vítima de doença.
Nagrelha, considerado o “Estado-Maior do Kuduro” em Angola, lutou durante os últimos sete meses contra problemas respiratórios graves. Acabou por falecer no hospital D. Alexandre do Nascimento, em Luanda, despedindo-se da mulher e quatro filhos.
Entre os temas mais conhecidos de Nagrelha estão ‘Toque do Nana’, ‘Não me agarra assim’, ‘Desce Mais’, ‘A Tchu Tchu Tcha’, ‘Banzelo’, ‘Ninguém é dono de ninguém’, entre muitos outros.
Aline Frazão pede desculpa por tweet polémico após morte de Nagrelha
A cantora Aline Frazão, depois de uma vigorosa polémica, veio a público, no Twitter, pedir desculpa pelas declarações que fez, igualmente nesta rede social, entre outras, um reparo crítico à “comoção nacional” com a morte do kudurista.
Nesse tweet, Frazão acrescenta que com a morte do Nagrelha ficou a “pensar em como Angola se assemelha a um enorme orfanato”, porque, no seu entender os angolanos são “órfãos de referências, órfãos de liderança, órfãos de sentido. É muito triste isso”.
As reacções a esta posição da cantora, no sábado, foram imediatas e avassaladoras, até porque nesse mesmo dia, Aline Frazão tweetou igualmente isto: “Nada a ver com o lugar do kuduro na cultura popular, que é muito relevante e subestimado. Falo de algo mais profundo, que tem a ver com o vídeo que vi de uma mama a chorar a perda do Zé Dú e agora o Nagrelha. Às vezes parece q só precisamos mesmo de um pretexto para chorar as desgraças”.
Já hoje, segunda-feira, 21, a cantora angolana, publicou um pedido de desculpas pelas posições que tomou após a morte de Nagrelha: “Quero pedir desculpas a todas as pessoas que se possam ter sentido ofendidas com o meu tweet, em especial à família do Nagrelha, aos seus fãs e à sua comunidade”.
QUEM FOI NAGRELHA?!
Num texto cuja integra pode ser encontrado na sua página do Facebook, a jornalista Maria Luísa Rogério explica a quem não tem noção da importância de Nagrelha enquanto uma das caras mais conhecidas do kuduro:
“Nagrelha é a voz que emergiu dos ghetos, rompendo a `fronteira do asfalto”, como tão bem descreveu Luandino Vieira. Obviamente, isso incomoda! Um `mussequeiro” sem maneiras a invadir-nos a casa adentro com o seu `pretuguês”? Onde é que já se viu `liambeiros delinquentes” do musseque armados em gente só porque já aparecem na televisão? Pois, é esse mesmo! Nagrelha é a voz do povo.”.
E acrescenta: “Se quiserem entender o que isso significa, nem que seja para criticarem com mais fundamentos, visitem o Sambizanga, o Rangel, o Cazenga e todas periferias. Depois, podem estender o caso de estudo ao asfalto. Talvez descubram a dimensão do `Comboio”. Ninguém é obrigado a gostar de Kuduro. Ou do Nagrelha. Mantenham-se à vontade na redoma do etnocentrismo cultural euro-ocidental. Isso não me incomoda, cada um com a sua identidade. Exercitar a liberdade de expressão é um direito. Respeitar a dor alheia é sinal de civilidade. Isso também é democracia!”. NJ