REGIME ANGOLANO ACUSADO DE RECUSAR AUTÓPSIA INDEPENDENTE A “NANDÓ”
As autoridades angolanas recusaram um pedido da família Dias dos Santos para a realização de uma autópsia independente aos restos mortais do antigo Vice-Presidente da República, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, após terem manifestado inquietação relativamente aos resultados preliminares apresentados pela Clínica Girassol, que apontavam para a ocorrência de hidrocefalia (acumulação excessiva de líquido cefalorraquidiano – LCR – no cérebro).
Desde o anúncio do falecimento do também antigo Presidente da Assembleia Nacional, alguns membros da família demonstraram reservas quanto ao processo conduzido pelas autoridades, embora estas tenham sido posteriormente ultrapassadas. Inicialmente, a família opôs-se ao programa definido pela comissão de exéquias, chefiada pelo general Francisco Fernandes, que previa o repouso da urna no quartel militar do R20, em Luanda, e o enterro no cemitério da Santa Ana.
Ao impor-se, a família argumentou que “Nandó”, tendo sido Vice-Presidente da República, merecia um funeral condizente com a sua dimensão institucional. O programa foi então alterado, passando a prever a trasladação da urna pelo Pavilhão Protocolar da Presidência da República e o enterro no Cemitério dos Altos das Cruzes, contrariando a proposta inicial da Presidência. Para a organização das cerimónias fúnebres, foi criada uma comissão liderada pelo Chefe da Casa Militar, general Francisco Furtado, que integrou igualmente membros da família.
General na reforma, Fernando da Piedade Dias dos Santos destacou-se como um dos comandantes militares com percurso singular, tendo posteriormente transitado para a vida política, onde ocupou alguns dos mais altos cargos do Estado angolano, incluindo Vice-Presidente da República e Presidente do Parlamento. Era considerado uma figura de consenso dentro do regime e amplamente respeitado pela oposição, com destaque para a UNITA.
No seio do MPLA, vários quadros viam em “Nandó” o potencial candidato à presidência do partido e o possível impulsionador da tão aguardada abertura democrática interna. Foi a enterrar nesta segunda-feira, com honras de Estado, precisamente na data em que previa anunciar publicamente a sua intenção de concorrer à liderança do MPLA.


