O DEFEITO NA CULTURA DE TRANSIÇÃO GERACIONAL EM ANGOLA – KAMALATA NUMA

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A transição geracional não é um exercício de substituição mecânica, nem um ritual de descarte de quem acumulou experiência ao longo do tempo. Ela constrói-se na dialéctica entre experiência e energia: de um lado, pessoas com percurso, memória institucional e capacidade de leitura histórica; do outro, pessoas com vigor, criatividade e impulso transformador. Quando essa dialéctica é quebrada, o sistema adoece.

Em Angola, a prática dominante tem sido a desvalorização da experiência acumulada, tratada como fardo, em favor de uma aposta quase exclusiva na juventude entendida apenas como energia física ou entusiasmo. O problema não está na juventude em si. Mas, no catapultar prematuro de quadros sem maturidade institucional para funções que exigem visão estratégica, prudência e conhecimento profundo das instituições, do Estado e da sociedade.

Os resultados estão à vista: decisões erráticas, políticas públicas descontinuadas, fragilidade na governação, perda de memória institucional e uma sucessão de improvisações que custam caro ao país e as instituições. Energia sem experiência governa mal; experiência sem espaço também se perde.

A liderança verdadeiramente visionária é aquela que sabe conjugar essas duas forças com sabedoria institucional. Não marginalizar quem sabe, nem sufocar quem pode renovar.

A liderança visionária cria pontes, não cria rupturas artificiais. Usa a experiência como bússola orientadora e a energia como combustão institucional propulsora do movimento.

Não é verdadeiro que pessoas com longa trajectória estejam, por definição, “cansadas”. Higino Carneiro, por exemplo, não está cansado para funções que exigem precisamente experiência, leitura estratégica e conhecimento do funcionamento do poder e do Estado. Da mesma forma, João Lourenço não estaria “cansado” se orientasse a sua experiência e autoridade para o bem comum, fortalecendo instituições em vez de personalizar decisões.

O verdadeiro problema angolano não é geracional, é cultural e institucional, é a padronização política dos extremos: “quem não está comigo é meu inimigo.

É a incapacidade de reconhecer que o desenvolvimento sustentável exige continuidade, aprendizagem colectiva e respeito pela experiência. Países que avançam não descartam os seus quadros experientes; transformam-nos em lideranças institucionais, mentores, conselheiros e pilares de estabilidade.

Enquanto Angola não corrigir este defeito estrutural na sua cultura de transição geracional, continuará a oscilar entre entusiasmos passageiros e frustrações profundas. Energia sem memória repete erros; experiência sem espaço torna-se inútil. O futuro constrói-se quando ambas caminham juntas.

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