Alguns influenciadores brasileiros chegaram recentemente em Angola, mais especificamente à província do Bengo, com o objectivo de realizar uma acção filantrópica. Por incrível que pareça, essa é uma das regiões onde ainda existem pessoas vivendo em situação de miséria extrema.

O intuito desses influenciadores era proporcionar um Natal digno a essas famílias tanto para os adultos quanto para as crianças. No entanto, esse gesto foi recebido com críticas, inclusive por parte de figuras públicas, tanto brasileiras quanto angolanas.

Muitos afirmam que os influenciadores só estão a fazer isso por engajamento, likes e visibilidade, e que não se deve usar a imagem de pessoas carenciadas para esse tipo de fim. Surgiu até um post questionando: Quanto custa uma fotografia com um pobre?Não me vou focar tanto na reacção dos brasileiros, porque é compreensível em qualquer país há pessoas em necessidade, e talvez esperassem que esses influenciadores ajudassem em comunidades carentes do Brasil antes de virem para África.

Mas o que não se entende é a indignação dos próprios angolanos, principalmente figuras públicas que têm influência suficiente para promover acções do género e apelar por mais ajuda humanitária.

Sim, Angola é um país rico em recursos naturais como petróleo e diamantes, e tem paisagens turísticas lindíssimas. Mas também é um país cheio de pobreza, com famílias que não têm acesso à alimentação, saúde, educação ou moradia. Muitos angolanos vivem sem esperança, sem dignidade e sem futuro.

É verdade que é delicado expor imagens de pessoas vulneráveis, mas é importante lembrar que organizações como a UNICEF e outras ONGs internacionais também fotografam e filmam essas realidades. E fazem isso com o propósito de mostrar ao mundo que a fome e a miséria existem  e que todos podemos ajudar.

Essas imagens são responsáveis por tocar corações, gerar mobilizações e criar oportunidades para milhares de pessoas que, de outra forma, seriam esquecidas. Quantas crianças são salvas todos os anos porque alguém viu uma imagem, se sensibilizou e decidiu doar?

Quantos projectos sociais nasceram por causa de um vídeo mostrando a realidade crua de uma comunidade pobre?

Angola é rica, sim, mas tem filhos pobres, sem saúde, sem educação e sem teto. Crianças que procuram comida no lixo, algumas até morrem esmagadas por caminhões.

Outras são mortas por apanharem mangas para matar a fome. Isso não é só pobreza, é uma urgência humanitária.

Então, quanto vale uma fotografia com um pobre? Vale tudo. Vale visibilidade, vale comoção, vale engajamento positivo, vale ação. Vale mostrar ao mundo uma Angola real  que muitos tentam esconder e vale reflectir sobre que tipo de Angola queremos nas próximas eleições: uma Angola que mata os seus filhos mais pobres ou uma Angola que cuida de todos, sem excepção?

Uma fotografia com um pobre vale a consciência. Vale a esperança. Vale a transformação. Vale sim, e vale muito.

Fernanda Luzembia.