VAZAMENTO DE VÍDEOS ÍNTIMOS: ENTRE A VÍTIMA E A ESTRATÉGIA DE VISIBILIDADE DIGITAL – FERNANDA LUZEMBIA
O elevado número de vazamentos de vídeos íntimos nas redes sociais tem chocado a sociedade e gerado debates profundos sobre moralidade, responsabilidade, educação digital e justiça. Em meio a tantos casos, surge uma dúvida perturbadora: será que todas são realmente vítimas ou algumas dessas exposições são intencionais, em busca de likes e engajamento?
Vivemos numa era de imediatismo, onde a visibilidade digital se tornou uma moeda valiosa. Neste cenário, tudo parece aceitável, desde que traga curtidas, fama ou atenção. Isso não invalida as vítimas reais aquelas que confiaram, se entregaram emocionalmente, e foram traídas com crueldade por parceiros que divulgaram sua intimidade. Essas mulheres precisam de todo o apoio possível: jurídico, psicológico e social. São vítimas de violência digital, e seus agressores devem ser punidos com todo o rigor da lei.Mas também é necessário levantar uma outra realidade incômoda: existem casos em que os próprios vídeos são vazados intencionalmente pelas autoras, com o objetivo de gerar repercussão e visibilidade. E quando há questionamento ou escândalo, a culpa é facilmente atribuída a um ex-namorado ou suposto hacker muitas vezes inocente. Essa atitude prejudica ainda mais as vítimas reais, desacreditando seus relatos e tornando ainda mais difícil distinguir quem realmente precisa de justiça.
Outro ponto importante é o papel dos pais e responsáveis. Cadê o controlo parental? Onde estão os adultos que deveriam fiscalizar os conteúdos consumidos e produzidos pelos filhos? Em muitas situações, adolescentes e jovens têm acesso livre à internet e partilham conteúdos sem qualquer orientação ou limites. Isso reforça a necessidade urgente de educação digital nas famílias e nas escolas, para que os jovens compreendam que tudo o que se faz no presente terá eco no futuro talvez nos seus filhos, sobrinhos ou netos.A justiça também precisa agir com imparcialidade. Não importa se foi a pessoa que vazou ou quem autorizou a gravação: se houve intenção de causar dano ou manipulação emocional, deve haver punição. E se foi intencional por parte da pessoa que aparece no vídeo, a lei deve igualmente responsabilizar, pois o impacto público é o mesmo.
O que está em jogo aqui não é apenas a reputação de uma pessoa, mas a integridade de uma geração inteira que está crescendo sem limites claros entre o íntimo e o público, entre o privado e o viral. É hora de tratar o assunto com a seriedade que merece, com educação, responsabilidade e justiça.
Fernanda Luzembia


