O militante do MPLA, Valdir Cónego, publicou esta segunda-feira um texto nas redes sociais em que acusa duramente o Presidente do partido e da República, João Lourenço, de estar a instrumentalizar processos disciplinares e judiciais para afastar potenciais adversários internos à sucessão da liderança do MPLA.

Na publicação, o ex-membro do Comité Central do partido lembra a sua própria expulsão do MPLA, alegadamente por “ser a ignição da revolução interna”, como forma de abrir caminho ao cerco contra outras figuras que demonstraram ambições políticas.

Valdir aponta especificamente os casos de Higino Carneiro (HC), que ontem foi constituído arguido pela Procuradoria-Geral da República por peculato e burla qualificada, e da ex-presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, que teria sido afastada por não apoiar a ideia de um terceiro mandato para o actual líder.

“Agora um constituído arguido fica impedido de concorrer à presidência dentro do MPLA. O que vai acontecer a seguir é gerir estes processos até Dezembro do próximo ano só para deixar o HC fora da corrida”, escreveu Cónego, comparando a situação à de antigos generais como Kopelipa, cujos processos se prolongaram por anos até serem arquivados.

O ex-militante acusa ainda João Lourenço de querer manter-se no poder contra a vontade da base militante, e questiona: “Será que ninguém do Bureau Político tem coragem de anunciar a sua intenção de se candidatar à presidência do MPLA?”

Num tom cada vez mais dramático, o texto termina com um apelo religioso: “Só Jesus na causa!”, pedindo intervenção divina para evitar o que considera a ruína do partido.

Até ao momento, nem o MPLA nem qualquer fonte ligada à Presidência reagiram publicamente às declarações.

O caso surge num contexto de tensão interna crescente, com várias alas do partido a debaterem abertamente a sucessão de João Lourenço.