“SUBSÍDIOS AOS COMBUSTÍVEIS EM ANGOLA BENEFICIAM RICOS, DIZ DIRECTORA DO FMI

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A Directora-geral do FMI defendeu em Luanda a retirada gradual dos subsídios aos combustíveis em Angola, por beneficiarem os mais ricos, e apelou a que a poupança seja dirigida ao apoio das famílias mais pobres, noticiou à Lusa.

O FMI tem defendido a eliminação total dos subsídios, de forma faseada, acompanhada de medidas de mitigação e assente numa comunicação eficaz.

A Directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) defendeu que os subsídios aos combustíveis em Angola “beneficiam as pessoas mais ricas” e devem ser retirados de forma gradual para que a poupança seja dirigida às famílias mais pobres.

Kristalina Georgieva, que chegou a Angola na quarta-feira, falava esta quinta-feira (20.11) aos jornalistas após ser recebida pelo Presidente angolano, João Lourenço, no Palácio Presidencial em Luanda.

A responsável congratulou-se pelas reformas iniciadas em 2017, afirmando estar “muito feliz” por o FMI ter sido “capaz de apoiar Angola através dessas reformas”.

A Directora-geral sublinhou que o Governo reconhece que a economia precisa de despesa pública que “faça a diferença na vida dos angolanos”.

Por essa razão, declarou, o FMI incentiva o executivo a “gradualmente, retirar subsídios que beneficiam muito as pessoas mais ricas em Angola, e usar essa poupança para as pessoas mais pobres, para aqueles que realmente precisam desse apoio”.

Segundo Georgieva, o Governo está determinado em prosseguir este caminho “gradualmente e cuidadosamente”, começando por “ajudar as pessoas que seriam negativamente afetadas pelas retiradas dos subsídios”, antes de avançar com a eliminação definitiva.

A responsável lembrou que “os subsídios de combustível custam 2,5% do PIB de Angola”. E questionou: “Pensem no que poderia ser feito para criar empregos para os jovens, para estimular os negócios pequenos, para melhorar a educação com esse dinheiro. E pergunto sempre essa questão: por que as pessoas mais ricas deveriam beneficiar de combustível barato? Deveria ser um benefício apenas para as pessoas mais pobres, que precisam disso”.

Kristalina Georgieva afirmou também que o Governo pretende avaliar primeiro a eficácia dos apoios sociais dirigidos às famílias mais vulneráveis, sublinhando o programa de transferências monetárias Kwenda “já apoia 1,7 milhões de pessoas”. Ainda assim, reconhece que “expandir o apoio e torná-lo efectivo é um grande desafio”.

“Queremos que as pessoas confiem que aqueles que são vulneráveis não vão sofrer desnecessariamente”, rematou.

A Directora-geral agradeceu ainda a Angola “pela liderança da União Africana e pelo foco na infraestrutura e na conectividade que são tão importantes para o continente” e considerou que “muito foi conseguido no sentido de ir construindo a base para o crescimento”, realçando que “a estabilidade macroeconómica é essencial para recolocar o país no caminho do crescimento positivo”.

Georgieva acrescentou que as reformas devem continuar num mundo marcado por mudanças rápidas. “A transformação geopolítica, a transformação tecnológica, os choques climáticos exigem que os países sejam resilientes. É primordial ter uma performance económica forte, e é isso que apoiamos Angola a continuar a fazer”, afirmou.

No âmbito da visita a Angola, Kristalina Georgieva manterá hoje um encontro com os estudantes da Universidade Católica de Angola, sendo depois recebida na sede da ‘startup’ de mobilidade urbana ANDA.

A retirada dos subsídios aos combustíveis em Angola iniciou-se em junho de 2023, com a subida do preço da gasolina de 160 para 300 kwanzas por litro (de 0,15 euros para 0,28 euros), um aumento de cerca de 87 por cento. Desde então, o gasóleo passou de 135 para 400 kwanzas por litro, uma subida superior a 120 por cento.

O aumento mais recente do preço do gasóleo, em julho de 2025, desencadeou uma greve de três dias convocada por taxistas em Luanda, dando origem a tumultos e atos de vandalismo que provocaram pelo menos 30 mortos.

O FMI tem defendido a eliminação total dos subsídios, de forma faseada, acompanhada de medidas de mitigação e assente numa comunicação eficaz.

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