DISCURSO DO PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO DURANTE A VISITA DE ESTADO DE DROUPADI MURMU PRESIDENTE DA ÍNDIA
O Chefe de Estado, João Lourenço, discursou, este domingo, no Palácio Presidencial da Cidade Alta, em Luanda, durante a visita da Presidente da Índia, Droupadi Murmu, onde defendeu o alargamento da cooperação entre os dois países.
Eis o discurso na íntegra:
Sua Excelência Senhora Droupadi Murmu, Presidente da República da Índia,
Distintos Membros das duas Delegações,
Minhas senhoras e meus senhores,
Senhora Presidente,
Realiza esta visita de Estado a Angola no mês em que, daqui a dois dias, -propriamente no próximo dia 11 de Novembro-, o nosso país celebra o quinquagésimo aniversário da Independência Nacional, momento de valor inestimável na história do povo angolano, que vai também poder contar com a sua presença, em representação da República da Índia.
Permita-me que lhe dê as boas-vindas e que expresse o desejo de que, em companhia da delegação que a acompanha, tenha uma estadia frutuosa em Angola.
Excelência,
A Índia, pelo seu papel e pelo seu considerável peso no mundo, assume uma importância crucial no conjunto de países com os quais mantemos relações de cooperação e de amizade e, para ilustrar este facto, recordo a visita que efectuei ao vosso país no mês de Maio do corrente ano, durante a qual projectámos iniciativas e realizações futuras que ampliaram as perspectivas de concretização das acções que identificámos como fundamentais, para impulsionar o desenvolvimento da cooperação económica entre nossos países.
Pude constatar, enquanto durou a minha estada em Nova Delhi, as inúmeras soluções técnicas e tecnológicas de que o vosso país dispõe, bastante práticas, funcionais e adequadas às nossas realidades, às quais pensamos recorrer para atender e satisfazer as nossas necessidades ao nível da agricultura, da saúde e do desenvolvimento industrial de Angola.
Nesta oportunidade em que, uma vez mais, num intervalo de tempo curto, a Índia e Angola se reencontram ao mais alto nível, para abordar temas essenciais das relações entre si, é essencial que procuremos dinamizar a implementação das decisões que têm vindo a ser tomadas no plano bilateral entre os nossos Governos e, para esse efeito, entendo que seria recomendável que se realize, tão prontamente quanto possível, a próxima sessão da Comissão Mista.
É necessário que essas reuniões se tornem regulares, de modo a evitarmos que a concretização dos compromissos que assumimos fiquem por vezes indefinidamente adiados, com o risco de se criar uma passividade que não se compatibiliza, de modo algum, com o imenso potencial de intercâmbio a todos os níveis que existe entre os nossos países.
Excelência,
Além das relações institucionais que mantemos, vemos com muito bons olhos a participação de investidores e empreendedores indianos na economia angolana, na qual já há o envolvimento bastante notável de alguns, que, pelo seu pragmatismo, dinamismo e capacidade de produzir resultados, levam-nos a encorajar outros mais, no sentido de explorarem o mercado nacional, onde há uma vastidão de oportunidades em todos os sectores da economia em que se interessem.

Daqui a pouco serão assinados alguns instrumentos jurídicos que vão naturalmente alargar a base da nossa cooperação e contribuir para que os sectores abrangidos beneficiem das capacidades que cada um dos nossos países possuem, em benefício do desenvolvimento recíproco.
Excelência,
O vosso país dispõe de conhecimentos sólidos em vários ramos das ciências e, nos tempos que correm, os especialistas indianos são bastante solicitados em todos os cantos do mundo pelas suas reconhecidas qualidades e capacidades técnicas.
Este excelente desempenho dos profissionais indianos resulta da elevada qualidade do vosso ensino, a que obviamente pretendemos que muitos mais jovens angolanos tenham acesso, dentro de um entendimento em que gostaríamos que a Índia aumentasse, na medida do possível, as bolsas de estudo, principalmente para licenciaturas e especializações em engenharias e medicina.
Deixe-me dar realce ao facto de ser neste contexto que se desenvolve um programa de treinamento de médicos angolanos por renomados especialistas indianos em hospitais angolanos, onde transmitem conhecimentos valiosos aos nossos profissionais de saúde, para os dotar de técnicas avançadas do tratamento de doenças de alta complexidade.
Ainda no domínio do intercâmbio de conhecimentos e de experiências, em que também se inclui a formação, é oportuno referir que temos um grande interesse em manter a parceria no domínio da telemedicina, bem como aderir à vossa iniciativa do tele-ensino, conhecida por E-VBAB, em cujo âmbito pretendemos assegurar o fortalecimento da escola virtual angolana Xilonga.
Excelência,
A Índia tem um historial de intervenção activa nas questões concernentes às relações internacionais e à promoção de factores de estabilidade global, indispensáveis à paz e segurança mundial.
Foi assim no passado com o Movimento dos Países dos Não-Alinhados, e vemos novamente a vossa actuação bastante assertiva noutros fóruns na defesa das preocupações do Sul Global, jogando sempre um papel de equilíbrio muito útil no contexto actual bastante conturbado do mundo em que vivemos.
No continente africano e também noutras partes do nosso planeta, assistimos a uma espécie de perpetuação de conflitos e ao eclodir de novos, que não podem deixar de constituir uma preocupação, que se torna ainda maior ao assistirmos a uma intensificação da guerra na Ucrânia, em torno da qual temos ouvido narrativas perigosas e susceptíveis de adensar ainda mais o clima propício a uma conflagração de grandes proporções, para lá das fronteiras dos dois países contendores.
Isto é obviamente preocupante e é em contextos semelhantes que os nossos países devem procurar agir para ajudar a restaurar o papel das Nações Unidas, que não pode continuar a ser subalternizada ou mesmo ignorada, na busca de soluções para as crises políticas que as relações internacionais enfrentam nos dias de hoje.
Vemos algumas iniciativas relativamente ao conflito no Médio Oriente que seguimos com atenção, por darem a indicação de que se está a definir um quadro de soluções para o intrincado problema que assola essa região e, nesse sentido, a República de Angola encoraja os Estados Unidos da América e os países que lhes estão associados nesse esforço a prosseguirem as acções tendentes a uma solução justa que contemple a criação do Estado palestino.
Referi-me a África um pouco mais atrás e, ao nível deste nosso continente, temos muitas preocupações que vão desde a região do Sahel, passando pelo Leste da RDC até ao Sudão, onde se está a esboçar uma perspectiva de solução do conflito que aí prevalece, com o cessar-fogo localizado alcançado entre as partes beligerantes, o qual saudamos vivamente e encorajamos no sentido de que se consiga, a partir deste acontecimento, dar passos em direção a uma paz definitiva.



