O BAIRRO TAMBÉM TEM SONHOS: OS JOVENS  QUEREM SER NOTADOS – FERNANDA LUZEMBIA

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Vivemos numa sociedade onde o talento é muitas vezes abafado pela falta de oportunidades. Há uma geração de jovens nos bairros periféricos que sonha alto, que carrega dentro de si ideias brilhantes, dons artísticos, intelectuais e profissionais — mas que, infelizmente, é constantemente esquecida. Jovens que não são incapazes, mas invisíveis.

A delinquência, as drogas e a prostituição juvenil, que muitos criticam, são apenas o resultado visível de um problema profundo: a ausência de políticas públicas eficazes, de investimento real nos bairros, e da falta de apoio dentro da própria família. É fácil julgar os jovens que se perdem, difícil é enxergar tudo que lhes foi negado desde cedo. Muitos desses jovens têm sonhos concretos. Querem ser músicos, advogados, empreendedores, professores, jornalistas. Mas encontram portas fechadas em todos os lados. Para estudar numa escola pública que deveria ser gratuita os valores de entrada muitas vezes ultrapassam 60 mil kwanzas no ensino primário, 100 mil no primeiro ciclo e mais de 200 mil no médio. Como pode uma família com cinco ou mais filhos e um salário mínimo sustentar essa realidade?

Os cursos técnicos e formações grátis existem, mas não são devidamente divulgados ou incentivados. Falta uma política que vá até o bairro, que ouça e forme os jovens onde eles estão. E falta, também, uma consciência coletiva de que formar um jovem é proteger o futuro da sociedade.

Além disso, muitos pais, mesmo com vontade de apoiar, não têm condições. O problema é que esperamos ter muito para fazer algo, quando na verdade, com pouco também se pode começar.

Em outros países, mesmo famílias de baixa renda investem no talento dos seus filhos com o que têm. Aqui, a falta de incentivo dentro da própria casa empurra muitos jovens para as ruas, onde encontram apoio  nem sempre vindo de boas influências.

Dói ver sonhos negados. Dói querer estudar, trabalhar, crescer, e perceber que, só por viver num bairro pobre, já te colocaram num destino traçado: a exclusão. E o pior é que o bairro passa a oferecer apenas uma falsa saída  o crime, o tráfico, o caminho rápido para o fracasso.

A verdade é: o jovem do bairro não quer pena, quer oportunidade. Quer ser notado, quer ser ouvido. Quer um sistema que o inclua, e não que o empurre. 

O Estado precisa olhar com urgência para essas realidades. Não podemos continuar a fingir que os bairros não têm talento. Eles têm  e muito. Só precisam que alguém aposte neles.

O Ministério da Educação deve garantir educação gratuita e acessível a todos, sem excluir nenhuma criança, especialmente as mais vulneráveis. O Ministério da Cultura também deve assumir um papel ativo, investindo e apostando nos talentos dos jovens, porque mesmo nas condições mais difíceis, essa juventude tem muito a oferecer para o desenvolvimento do país.

Além disso, os pais precisam conhecer melhor seus filhos, descobrir seus talentos, apoiar os seus sonhos. Não é preciso ter muito para começar a investir. O incentivo começa em casa, com amor, empatia e presença.

O governo deve olhar mais para os bairros, iniciar campanhas que apoiem a juventude, e garantir inclusão real. A única forma eficaz de combater o crime, a prostituição e o uso de drogas é criando alternativas reais. Juventude educada, pais comprometidos e oportunidades de emprego são os verdadeiros pilares de um país desenvolvido.

Os jovens dos bairros existem. Eles pensam, criam, sonham, lutam. Só precisam ser vistos.

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