DISCURSOS INFLAMADOS ECOAM EM CONFERÊNCIAS E RELATÓRIOS SÃO REDIGIDOS EM ESCRITÓRIOS COM AR-CONDICIONADO – CRÔNICA DE PEDRO PAKA

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Fala-se muito de direitos humanos. Discursos inflamados ecoam em conferências, relatórios são redigidos em escritórios com ar-condicionado, e palavras bonitas viajam pelo mundo em nome da liberdade, da justiça e da dignidade. Mas quando o pano se fecha e as câmeras se desligam, quem fica ao lado das vítimas?

Nos musseques, nas celas, nas aldeias esquecidas, não chegam os palcos nem os microfones. Chegam apenas o silêncio, a dor e o abandono. Enquanto uns discutem em painéis, uma mãe chora porque o filho está preso injustamente, um idoso procura restos de comida no lixo da cidade moderna.

É como se existissem dois mundos: o dos discursos e o das vítimas, onde cada dia é uma luta pela sobrevivência. E entre esses mundos há um abismo profundo, que raramente é atravessado por quem tem o poder da palavra.

O verdadeiro defensor não se mede pelo número de relatórios que assina, mas pelas mãos que segura, pelas lágrimas que ajuda a enxugar, pelos riscos que assume ao estar presente onde a dor acontece. Direitos humanos não são uma ideia abstrata, mas o pão que falta na mesa, a liberdade roubada por uma prisão arbitrária, a dignidade negada a quem vive sem casa nem escola.

No fim, a pergunta que fica é simples: de que valem tantos discursos sobre os direitos humanos se não há presença junto às vítimas? Porque é no terreno, na vida real, que a verdade se revela, e é lá que a história cobrará de todos nós.

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