DEPUTADO DO MPLA GARANTE QUE SE MPLA NÃO SE ACTUALIZAR SERÁ AFASTADO DO PODER PELAS URNAS OU PELA FORÇA

Na sequência dos últimos episódios de tumultos vividos em Angola, o renomado sociólogo e deputado da bancada parlamentar do MPLA, Paulo de Carvalho, afirmou, nesta semana, que, se o MPLA continuar a auto-destruir-se, em vez de se actualizar e se modernizar, o resultado será apenas o seu afastamento do poder – ou pelas urnas, ou pela força, entendendo que a submissão do povo está a chegar ao fim.
NDOMBI ZADIMENGA
O deputado menciona duas opções a ter em conta, com consequências distintas, por isso, advertindo o partido que representa no Parlamento, argumenta que, “ou mantemos a ‘postura de trungungu’ e o resultado será desastroso para o país, sempre a descer, até ao precipício final; ou mudamos de uma vez por todas de atitude e passamos a ter uma postura mais de acordo com os anseios dos cidadãos, de modo a conduzirmos o país ao progresso e ao desenvolvimento”.
No seu artigo recentemente publicado, sob o tema “Subsídios da desgraça”, o pesquisador destaca que o governo precisa assumir os seus erros, de modo a corrigi-los, ao invés de os querer perpetuar ainda mais.
“Os actos de vandalismos que ocorreram na semana passada surgiram na sequência de uma medida governamental e não por acção de qualquer partido político da oposição”
Ao referir-se a actuação das autoridades, disse que a polícia tem de deixar de agredir e matar pessoas sem disso haver real necessidade, como sucede em caso de manifestações.
“Se a actual situação de penúria já comparável ao que sucedia no período colonial, quanto mais mortes houver, mais próximos estaremos da comparação com as atrocidades cometidas pelo regime colonial em Angola”
ACABAR COM DESPESISMO E ESBANJAMENTO ESTATAIS
Entendendo os seus contornos inúteis, Carvalho propõe acabar com o “despesismo e esbanjamento estatais”.
Relativamente a esse ponto, o autor defende que, enquanto não soubermos dar aos nossos cidadãos o mínimo que lhes permita um nível de vida digno, temos de acabar com o exagerado despesismo estatal e as imponentes construções “para inglês ver”.
“Não digo que as instituições não devem dispor de viaturas – pelo contrário, devem dispor delas sim, mas devem ser viaturas mais modestas. Não digo também que os ministros deixem de viajar, mas que trabalhem mais e viajem apenas o indispensável”, uma clara declaração de que os ministros têm trabalhado pouco e viajando em demasia tal o Titular do Poder Executivo.
Em entrelinhas, o também professor universitário apela ao respeito das liberdades dos cidadãos sob pena da repreensão exercida aos manifestantes pelo governo resultar numa verdadeira revolta.
COMUNICAÇÃO SOCIAL ESTATAL MANIPULADA
Parte da culpa dos acontecimentos desagradáveis que ocorreram recentemente no país, Paulo de Carvalho atribui aos meios de comunicação social estatal que, especificamente à TPA, têm optado por uma linha editorial a favor do partido no poder, de propaganda e contra-propaganda, que tem resultado em desinformações constantes.
“De que valeu levar ao telejornal da TPA uma certa associação comunitária de taxistas? Quantos taxistas ela representa, ao ponto de anunciar uma suposta ‘desconvocação da greve’? Com objectivo de faz isso, se não para criar problemas e semear a confusão”
RECURSOS DOS SUBSÍDIOS RETIRADOS DEVEM SER USADOS EM POLÍTICAS PÚBLICAS VISÍVEIS
Com a ciência das precariedades que Angola atravessa, o renomado sociólogo diz que os recursos resultantes da retirada dos subsídios têm de ser utilizados em políticas públicas visíveis em prol dos mais necessitados, porque, entende que, os cidadãos têm de saber em quanto passarão todos os angolanos a ter registo de nascimento e de bilhete de identidade, em quanto os vários milhões de crianças sem escola terão escola com o mínimo de qualidade, em quanto tempo as cidades passarão a ter saneamento básico garantido, que apoios passarão a receber quantos apostem decisivamente na agricultura e na indústria, e a partir de quando deixaremos de ter 6 milhões de jovens desempregados.
“Professores, médicos, enfermeiros e outros funcionários públicos têm de ver melhorados seus salários. E o Estado tem de deixar de se endividar, como vem sucedendo até aqui”, sublinhou.
Paulo de Carvalho propõe que, antes do Executivo tomar qualquer medida, precisa necessariamente passar pelo processo de auscultação ao povo, conduzido por uma pesquisa sociológica composta por profissionais sérios, permitindo que medidas mais justas sejam aprovadas.
Alega, deste modo, que sem uma auscultação séria e independente, os programas do governo tendem a fracassar, assim como tem se evidenciado ao londo destes anos.
“A auscultação é um passo indispensável para o pretendido sucesso político, económico e social da medida que se pretenda tomar. Sem uma auscultação séria e independente, o mais provável é o programa fracassar, como tem ocorrido todos estes anos”, lê-se no artigo.
No cômputo de uma narrativa que comporta oito itens que deveriam ser levados em conta pelo Executivo, Carvalho assinala que o ideal seria o governo promover uma discussão com as forças políticas com representação parlamentar, para apresentação das várias alternativas e de eventuais opiniões ou consensos dos cidadãos e dos parceiros governamentais enquadradas na sociedade civil.