A CRISE DO DESEMPREGO E O RISCO DE COLAPSO SOCIAL EM ANGOLA: UM CHAMADO À RESPONSABILIDADE GOVERNATIVA – ORLANDO SCÓCIO

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O crescimento alarmante do desemprego em Angola configura-se como uma das maiores ameaças à estabilidade social e à integridade nacional. As estatísticas, muitas vezes subestimadas, não refletem o desespero diário de milhares de jovens e famílias que lutam por sustento num país onde a economia informal se tornou, para muitos, a única alternativa de sobrevivência. Esse cenário, que vem se agravando a cada ano, poderá levar inevitavelmente à tomada das ruas pela população, numa manifestação legítima de frustração e revolta contra políticas públicas fracassadas.

A realidade nos bairros periféricos de Luanda é um exemplo dramático da exclusão social e da falência das instituições. Jovens organizam supostos “óbitos comunitários” com imagens de desconhecidos apenas para recolher doações e sobreviver. Tal prática não nasce do oportunismo, mas da fome. Em muitos casos, até funerais reais se transformam em eventos descontrolados, onde vizinhos invadem os espaços em busca de comida e bebida, num reflexo direto da escassez que assola as comunidades.

Mais preocupante ainda é o crescimento de zonas urbanas onde nem mesmo as forças de segurança conseguem entrar. A ordem pública foi substituída pelo medo. Em bairros inteiros, a ausência do Estado deixou um vácuo que começa a ser preenchido por estruturas paralelas, onde a autoridade formal é desconsiderada. Se a soberania não é sentida em todos os territórios nacionais, é legítimo questionar se ela ainda existe de forma plena.

Para evitar um colapso iminente, é urgente que os governantes reconheçam a gravidade da situação e abandonem os discursos vazios. Governar é ouvir o povo, é agir com o povo e para o povo. A mudança deve começar pela base: combater a fome sem tréguas e investir, de forma massiva, na educação formal e técnico-profissional, especialmente para os jovens. Sem capacitação, não há mão de obra qualificada. Sem emprego, não há economia real. Sem esperança, não há paz.

O Estado angolano precisa rever suas prioridades. O investimento em grandes obras e projetos deve ser equilibrado com programas concretos de inclusão económica e social. O povo não pode continuar a pagar o preço da má gestão com a própria dignidade.

A história já mostrou que quando as instituições ignoram o sofrimento das maiorias, o povo encontra nas ruas a sua única forma de expressão. A escolha, portanto, está nas mãos dos que governam: reconstruir Angola com justiça e equidade, ou assistir à sua erosão lenta pelas forças da desigualdade e da indignação popular.

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