CARLOS ALBERTO CRITICA PROFISSIONALISMO DO JORNALISTA DA CNN NA ENTREVISTA COM JOÃO LOURENÇO

O jornalista e director do portal A Denúncia, Carlos Alberto, criticou, esta quarta-feira, 23, a competência profissional do jornalista da CNN incumbido de conduzir a entrevista com o Presidente de Angola, João Lourenço, ao deixar de fazer as perguntas que realmente importavam.
REDACÇÃO JORNAL HORA H
Conforme, o jornalista, a recente entrevista concedida por João Lourenço à CNN Portugal, na véspera dos 50 anos da Independência, foi apresentada como um momento de reflexão sobre Angola e o mundo. Mas, para além do cenário diplomático, o que se viu foi um Presidente a fazer bem o seu papel – o de político, estratega e comunicador – e um jornalista a falhar redondamente no seu – o de perguntar, confrontar e esclarecer.
“É preciso dizê-lo sem rodeios: João Lourenço soube aproveitar a ausência de profissionalismo do jornalista português para discursar sem oposição, projectar-se internacionalmente e reforçar a sua imagem num momento de incerteza política interna. Quem esteve à altura da função que ocupa foi o político. Quem ficou aquém foi o jornalista”, referiu.
Para Carlos Alberto, João Lourenço não foi surpreendido em momento algum. Falou com segurança, traçou os contornos de uma Angola moderna e diplomática, elogiou os seus próprios feitos, evitou assuntos incómodos – e saiu ileso. Ao passo que, o jornalista ofereceu-lhe esse conforto. Não o interrompeu. Não o pressionou. Não pediu exemplos concretos. Não confrontou promessas de João Lourenço com resultados concretos. Permitiu, na prática, segundo o director do portal A Denúncia, que a entrevista fosse um discurso político – exactamente o mesmo que aconteceu com a entrevista à TPA, dirigida por Ernesto Bartolomeu, e com a de Carlos Rosado e Adalberto Costa Júnior.
“Ao longo da entrevista, o jornalista teve várias oportunidades de exercer o seu ofício. Quando se falou de ‘democracia consolidada’, podia ter perguntado por vários episódios que contrariam essa narrativa, como prender manifestantes pelo simples facto de se exprimirem nas redes sociais, episódios de agressões, na via pública, contra políticos da oposição, e a intenção de se implementar uma lei que penaliza mais quem critica abertamente nas redes sociais do que quem rouba ao Estado nem presta contas. Quando se falou de ‘liberdade de imprensa’, podia ter questionado o controlo do Estado sobre a TPA, a RNA, o Jornal de Angola, a TV Zimbo, o jornal O País, a Rádio Mais e outros órgãos sob a alçada do Executivo. Podia ter referido o encerramento indirecto de portais independentes que denunciam tudo e todos à margem da lei e a prisão de jornalistas simplesmente por denunciarem a corrupção na Justiça e na Administração Pública. Quando se mencionou o ‘combate à corrupção’, podia ter evocado os processos abafados e as denúncias que nunca chegaram aos tribunais. O caso de Higino Carneiro – que até é pré-candidato ao cargo de presidente do MPLA – cujo processo foi engavetado sem explicações públicas, é um deles”, pontou as questões deixadas no vácuo pelo jornalista da CNN.
Carlos Alberto lembrou, ainda, que quando se falou das manifestações contra a subida do preço do gasóleo, o jornalista não foi capaz de fazer analogias com outros países que têm um custo de vida inferior ao de Angola, um nível de empregabilidade mais elevado e um salário mínimo abismalmente superior ao angolano, para além de medidas compensatórias do Estado que evitam que os cidadãos sofram tanto com o preço do combustível.
“O jornalista não fez o contraponto. Limitou-se a olhar para João Lourenço. Ficou preso à superficialidade. Foi um espectador privilegiado, com lugar na primeira fila do Palácio Presidencial, mas sem coragem para se levantar e intervir”, disse.
Quanto ao assunto sobre quem João Lourenço pretende que seja o próximo Presidente da República – jovem e preparado –, Carlos Alberto entende que qualquer jornalista que conheça o contexto político angolano teria, no mínimo, insistido:
– Quando o senhor Presidente fala da necessidade de emergir um jovem está a dizer que irá influenciar a escolha do sucessor?
– O candidato do MPLA será eleito em Congresso ou designado em gabinete?
– Há garantia de que o seu afastamento será real e não uma simulação?
Contudo, nenhuma dessas perguntas foi feita.
“João Lourenço não forçou o jornalista a calar-se. Apenas aproveitou o facto de ele não ter estudado os temas abordados, principalmente os internos”, escreveu.