O PAÍS SANGRENTO

A cidade da Matola, uma das principais do país, anda agitada nos últimos dias devido à onda de assassinatos, a queima-roupa e em circunstâncias semelhantes. Ao que tudo indica as vítimas dos criminosos são agentes das diferentes forças da Polícia da República de Moçambique (PRM).
A situação preocupa a todos os quadrantes do país, pois não há respostas sobre o que está acontecendo e quem está por trás dos assassinatos.
Em menos de 30 dias foram assassinados sete indivíduos, dos quais três já foram identificados como membros da PRM e os outros quatros, os últimos a serem assassinados, fala-se de criminosos cadastrados, muito procurados pelas autoridades.
O primeiro caso, que abalou o país, deu-se no passado dia 11 de Julho, no bairro de Nkobe, quando por volta das 19 horas, um cidadão identificado por Carlos Zandamela foi cravado por mais de 50 balas. Na ocasião, o malogrado dirigia uma viatura da marca Mahindra, cor branca, quando foi interpelado na via pública por outros dois veículos da marca Toyota, um modelo Run X e outro Ractis. O veículo foi crivado de balas tanto do lado do motorista quanto do passageiro.
De acordo com a PRM o finado pertencia à corporação e em vida exercia funções de Superintendente Principal da polícia, subordinado à Unidade de Intervenção Rápida-Sede (UIR). Além disso, exerceu a função de Chefe da Repartição do Reconhecimento.
Duas semanas após esse episódio, Matola voltou a ouvir tiros, desta vez foram assassinados, na zona da Manduca, bairro de Infulene, “por chuvas de Balas” dos indivíduos, um deles era agente do SERNIC e outro da PRM, ambas vítimas afectas a sétima esquadra da PRM, na Cidade de Maputo.
Trata-se de António Domingos Sotovelo, Chefe do Sector e Inspector Principal da PRM e Abílio Janeiro, agente operacional da segunda no SERNIC. Para além da morte dos agentes, uma idosa de 78 anos, cuja identidade não foi revelada, foi ferida por uma bala perdida disparada pelos criminosos, até aqui a monte. Os assassinos se faziam transportar em duas viaturas, sendo uma da marca Toyota Ractis, enquanto as vítimas estavam num veículo da marca Toyota, modelo Auris.
Quando se pensava ser tudo, a manhã de Quinta-feira (04 de Julho) foi aterrorizante para os moradores do Bairro Matola “A”, estes foram acordados, por volta das 8 horas, por estrondos de tiros. Relata-se que foram mais de dez tiros em menos de 5 minutos.
Surpreendidos com os disparos, minutos depois percebeu-se ser resultado do assassinato de quatro indivíduos, nas mesmas circunstâncias que as mortes da Manduca e a de Nkobe, mas desta vez a PRM diz tratar-se de criminosos e não de seus membros.
“Uma das vítimas foi identificada como sendo Rashid Ahmad Khan. Esteve envolvido em raptos. Os restantes eram fugitivos da Cadeia Central de Maputo”, disse Cláudio Ngulele, porta-voz da PRM na província.
“Ainda estamos trabalhando para confirmar a identidade destes indivíduos. O importante é que, a poucos metros de distância, encontrámos uma bolsa contendo duas espingardas AK-47 e duas pistolas, bem como carregadores. Acreditamos que estas armas de fogo foram utilizadas pelos criminosos nas suas actividades”, acrescentou.
Onda de assassinatos é um desrespeito ao Estado de Direito, defende Ossufo Momade
Para o líder da Renamo, Ossufo Momade, a onda de assassinatos é uma ofensa ao Estado de Direito Democrático. Ademais, entende que a actuação dos agentes da lei e ordem deve ser revista.
Ossufo Momade falava em reacção aos assassinatos, a tiros, em plena luz do dia, dos agentes do SERNIC e da PRM.
“Recebemos com profundo pesar e indignação a notícia do assassinato de dois agentes dos serviços de investigação criminal na zona da Manduca. Este crime brutal atenta contra toda a sociedade e representa uma grave afronta ao Estado de Direito e à actuação dos profissionais de segurança pública, mas também nos convida a repensar a forma de ser e estar dos nossos agentes de segurança pública”, disse Ossufo Momade.
O líder da Renamo quer que as forças da polícia façam uma investigação por forma a encontrar e responsabilizar os protagonistas dos assassinatos. Ossufo Momade entende que é desta forma que se poderá acabar com a impunidade dos envolvidos no assassinato de agentes da polícia e consequentemente colocar-se-á fim no crime organizado.
“Reforçamos o apelo para as autoridades competentes investigarem rigorosamente o caso, identifiquem e responsabilizem os autores deste crime inaceitável. Que este triste episódio não fique mais uma vez impune como os outros casos”, sublinhou.
Ossufo Momade entende que é altura de se fortalecer o enaltecimento da relevância dos indivíduos que se comprometeram em empenhar-se no combate à criminalidade protegendo os milhões de moçambicanos do Rovuma ao, Maputo.
Ministro do Interior promete resultados das investigações
Diante da onda de assassinatos de agentes da polícia, o Ministro do Interior, Paulo Chachine, disse estar a acompanhar a situação e garantiu que os episódios serão investigados por forma a apurar as motivações das incursões e os responsáveis.
Com isso sublinha que os resultados dessas investigações serão brevemente anunciados. “Vi por acaso o assassinato pelas redes sociais e lá se diz uma coisa, no entanto, prometemos investigar para trazer a verdade sobre o assassinato dos dois membros nossos”, explicou Chachine.
Recorde-se que antes desses episódios, eram alvejados, de forma recorrente, políticos e críticos do governo. Os indivíduos eram mortos, torturados ou feridos, em plena luz do dia, por desconhecidos.
Até ao momento as autoridades não conseguiram esclarecer estes eventos, tanto é que a opinião pública apelidou as ocorrências de acções de “esquadrões da morte”, sobre isso Paulo Chachine disse desconhecer.
“Tenho lido, tenho ouvido falar em alguma imprensa sobre os esquadrões da morte, sobre o conceito. Não conheço, não sei se existem e onde é que existem”, comentou.
Entretanto, o Ministro frisou que independentemente do crime, ou dos envolvidos, a preocupação das autoridades é esclarecer as ocorrências.
“Quando há um crime, a preocupação é de esclarecer o crime, independentemente da pessoa, filiação religiosa e política. A Polícia e outras entidades que trabalham nestes casos, têm sempre a preocupação de esclarecer os crimes”, garantiu.
Governo preocupado diz que a situação revela falta de amor
Questionado sobre os assassinatos, Inocêncio Impissa, porta-voz do governo, disse que o executivo olha a situação com preocupação.
“São elementos que nos preocupam, com certeza, e as entidades estão fazendo um trabalho para levantar dados relevantes sobre isto”, disse Impissa.
O porta-voz acrescentou ainda que já há profissionais especializados a investigarem os episódios por forma a trazer esclarecimentos.
Por seu turno, Margarida Talapa, presidente da Assembleia da República, defendeu que os assassinatos são sinais de falta de amor ao próximo. Ademais, apelou o não uso da força para resolução de conflitos. (Ekibal Seda)