CABINDENSES COBRAM A JLO PROMESSAS DE 2017 E CULPAM O “ILUMINADO” RICARDO ABREU PELO FIM DA SUBVENÇÃO AÉREA

Populares da província de Cabinda manifestam profunda indignação com a decisão do Executivo de pôr fim à subvenção nas tarifas aéreas da rota Cabinda-Luanda, uma promessa eleitoral feita por João Lourenço em 2017. Os cidadãos consideram a medida uma penalização directa à população local e acusam o ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, de ser o mentor da decisão, que interpretam como um “retrocesso” e um acto de “vingança política”.
IRÁ ASSINATURA DE QUEM?
Durante a campanha eleitoral de 2017, João Lourenço, então cabeça de lista do MPLA, prometeu resolver a histórica descontinuidade territorial entre Cabinda e o resto do país, garantindo maior acessibilidade aérea por meio da subvenção das passagens da companhia aérea nacional TAAG. A medida foi cumprida nos primeiros anos do seu mandato, mas está agora a ser revertida.
Segundo fontes locais, os preços das passagens aéreas poderão ultrapassar os 85 mil kwanzas por viagem, um custo considerado proibitivo para grande parte da população. “É uma forma subtil de empurrar os mais pobres para os catamarãs e reservar os aviões para os ricos”, queixam-se moradores, que classificam a medida de “maldade”, particularmente numa fase de grande sufoco financeiro para as famílias.
A indignação cresce face ao argumento apresentado pelo Ministério dos Transportes, que defende o redirecionamento dos subsídios para as rotas marítimas, alegando que a subvenção teria mais impacto nos catamarãs.
Para os cabindenses, trata-se de uma comparação injusta, uma vez que as dificuldades de mobilidade impostas pela separação geográfica com o restante território nacional exigem soluções complementares e não excludentes.
“A descontinuidade territorial de Cabinda é única na região. Comparar as nossas tarifas aéreas com as de países vizinhos sem o mesmo contexto é desonesto”, disse uma fonte local em tom de crítica ao ministro Ricardo de Abreu, a quem chamam ironicamente de “iluminado”.
Além das queixas socioeconómicas, surgem também acusações de natureza política. Moradores interpretam o fim da subvenção como uma retaliação pelo fraco desempenho eleitoral do MPLA em Cabinda nas últimas eleições. Recordam que, ainda em 2017, o Presidente prometeu prestar atenção especial à província, considerando-a um “caso particular”.
A decisão agora tomada, afirmam, “contraria completamente esse compromisso” e reforça a percepção de abandono e marginalização de uma região rica em recursos naturais, mas que continua a enfrentar sérios desafios de desenvolvimento.
No centro das críticas está também a narrativa histórica sobre a própria descontinuidade territorial. Cabindenses responsabilizam o regime do MPLA por ter criado e mantido essa condição através da centralização excessiva e da recusa de modelos político-administrativos mais descentralizados. “Dependemos de Luanda para quase tudo, e isso é uma dependência fabricada”, denunciam.
Com um tom de crescente mobilização política, algumas vozes locais defendem que a resistência é agora um imperativo. “Com o MPLA não podemos alimentar ilusões. Ou nos unimos para mudar, ou continuaremos na escravidão”, conclui um dos manifestantes, ecoando o apelo à resistência como dever frente àquilo que consideram uma “injustiça institucionalizada”.