JOÃO LOURENÇO LANÇA AVISOS A CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA PELO MPLA

O Presidente de Angola, João Lourenço, deu esta semana uma entrevista ao principal canal público de televisão. Bom, eu não sei se posso propriamente chamar aquilo uma entrevista. Aquilo foi mais um monólogo, interrompido algumas vezes pelo entrevistador bem comportado, dando dicas ou deixas ao Presidente para ele dizer aquilo que queria.
CARLOS ROSADO DE CARVALHO
Enfim, como sabemos, todas as televisões em Angola são controladas pelo governo, em especial as públicas. Os presidentes, os conselhos de administração são todos nomeados pelo próprio João Lourenço. Mas o que é que se diz sobre esta entrevista? Em primeiro lugar, o timing. Por quê agora? Os analistas têm uma resposta muito simples para isso.
Na semana passada, um jornal disse que um destacado membro do MPLA, do Comité Central, que foi muitas vezes ministro, foi governador, ocupou sempre altos cargos, general, Higino Carneiro, pediu uma audiência a João Lourenço onde lhe disse que se pretendia candidatar à Presidência da República. E essa entrevista foi uma resposta a Higino Carneiro. É preciso perceber o contexto.
João Lourenço está no segundo mandato como Presidente da República de Angola. Sucede que a Constituição angolana só permite dois mandatos. Mas João Lourenço quer continuar a influenciar a vida de Angola até para não ser perseguido a seguir.
Não podendo alterar a Constituição, porque não tem dois terços da Assembleia Nacional, João Lourenço escolheu outra estratégia e essa estratégia é permanecer como presidente do MPLA. O presidente do MPLA tem um poder tremendo sobre as pessoas do MPLA que ocupam cargos públicos. Sucede que não havia possibilidades de João Lourenço candidatar-se de novo à presidência do MPLA porque os estatutos do MPLA obrigavam a que o presidente do partido fosse o candidato à Presidência da República.
Esse obstáculo foi eliminado com a alteração dos estatutos que, ao contrário da Constituição, João Lourenço conseguiu fazer. E portanto, o problema é o seguinte, o presidente do MPLA, como eu disse, tem um enorme poder sobre os militantes que ocupam cargos públicos, incluindo o Presidente da República. O Presidente da República tem, de acordo com os novos estatutos do MPLA, tem que submeter ao presidente do partido as linhas gerais da estrutura do governo e até os nomes dos futuros ministros.
E portanto, o que João Lourenço, na prática, pretende é exatamente, continuar como Presidente da República, perdão, continuar como presidente do partido e, a partir daí, condicionar a vida pública angolana. E, portanto, para que isso aconteça é necessário que tenha um presidente da República ao seu gosto e é isso, basicamente, que está em causa do meu ponto de vista. Vamos ver no futuro. RTP